Confiança e Inovação na Transformação dos Serviços Financeiros
As tecnologias emergentes estão a redefinir o sector dos serviços financeiros, tornando-o mais eficiente e orientado para o cliente. Não obstante, num sector onde a confiança é fundamental, a transformação digital tem de ser conduzida com rigor, responsabilidade e foco nas reais necessidades dos utilizadores.
Nesta entrevista, Alexandre Feio, Responsável pelo Negócio de Serviços Financeiros da Celfocus, partilha a visão da empresa sobre o impacto destas tecnologias na modernização do sector e o papel que a Celfocus tem assumido como parceiro estratégico. Com décadas de experiência e uma abordagem assente na entrega de soluções seguras, fiáveis e adaptadas aos desafios de cada organização, a Celfocus apoia instituições financeiras a acelerar a inovação, a ultrapassar barreiras estruturais e a oferecer experiências cada vez mais simples e seguras.
Que papel a Celfocus quer desempenhar no futuro dos Serviços Financeiros?
Com uma herança de mais de 30 anos da Novabase na área financeira, a Celfocus, que conta já com 25 anos como integrador de sistemas e que hoje integra este know-how, tem vindo a actuar em diversas frentes do sector, desde os cores bancários até aos canais comerciais, passando pelo apoio na transformação digital das instituições financeiras, ou pela disponibilização de produtos na área de crédito especializado, reporte regulatório e gestão de activos. Com base nesta experiência, a empresa tem a capacidade de transformar a visão dos clientes em realidade, fornecendo soluções tecnológicas inovadoras e personalizadas. A combinação de expertise técnica e uma abordagem centrada no cliente e nos seus desafios posiciona a Celfocus como um catalisador no futuro dos serviços financeiros.
Qual a importância da colaboração entre empresas tecnológicas e instituições financeiras para impulsionar a inovação?
Acreditamos que esta colaboração é fundamental para o sucesso de qualquer iniciativa deste tipo, em especial num mercado cada vez mais dinâmico, uma vez que agrega o melhor de dois mundos – o conhecimento profundo do sector financeiro, baseado nas necessidades e desafios do dia-a-dia, e a capacidade de inovação das empresas tecnológicas. Da nossa experiência, inovar em colaboração com o negócio é mais produtivo e fit-to-reality. A resolução de problemas reais dá um carácter mais pragmático à inovação e permite que as soluções implementadas tenham um impacto directo no negócio, tornando-o mais relevante para quem o utiliza.
Que desafios as instituições financeiras enfrentam na transformação digital?
Do ponto de vista tecnológico, várias instituições financeiras convivem com um parque aplicacional muito diversificado e diferentes maturidades tecnológicas, o que dificulta aquilo que, mesmo que fosse tecnologicamente estandardizado, já seria muito complexo de transformar. A necessidade de evoluir, em paralelo com a manutenção diária dos sistemas em actividade que não podem parar, implica abordagens complexas.
É um negócio crítico e com impacto na vida de todos, o que implica não só estarmos atentos e focados na transformação tecnológica, mas também facilitar a gestão da mudança dos nossos clientes e dos clientes dos nossos clientes.
Que conselho daria a clientes do sector financeiro que pretendem acelerar a sua transformação digital?
Considero que devem investir em provas de conceito de forma ágil e rápida, com o mindset de que podem falhar. Isto permite testar mais soluções e descobrir mais cedo os caminhos a trilhar.
Além disso, o Digital Overlay permite realizar transformações progressivas que são essenciais para responder às exigências “do time to market”, sem interromper a operação contínua dos sistemas existentes. Ao sobrepor novas capacidades digitais às infraestruturas existentes, as instituições financeiras podem implementar soluções inovadoras de forma incremental, reduzindo riscos e custos associados a grandes reestruturações.
Em que tecnologias-chave está a Celfocus a investir para este mercado?
Para garantir melhores resultados, o investimento da Celfocus tem sido direccionado para os desafios, objectivos e necessidades que vamos identificando em parceria com os clientes. Estamos a trabalhar com IA em múltiplas perspectivas e temos alguns pilotos e projectos com blockchain, como a plataforma de NFTs para o BPI, por exemplo. Mas também estamos a capitalizar tecnologias não tão recentes que, com IA, ganharam novas potencialidades. Um desses casos é a utilização das Graph Databases (base de dados desenhadas para representar e gerir relações entre dados de forma natural, rápida e flexível).
Como é que a Celfocus está a ajudar as instituições financeiras a modernizarem a sua infraestrutura digital?
Uma das tendências do mercado financeiro é a mudança de parte da infraestrutura das instituições para a cloud. Assim, temos trabalhado em vários projectos de “move to cloud”, em parceria com os vários hyperscalers, não só ao nível da parametrização dos ecossistemas como na sua monitorização. Também temos desenvolvido a aplicação dos princípios de Security by Design, desde o desenho até à entrega da solução, pois é essencial garantir a integridade dos dados e a continuidade dos negócios das instituições.
Além disso, a gestão financeira na cloud (FinOps) é igualmente crucial, uma vez que os custos associados à utilização da cloud podem ficar fora de controlo, levando ao insucesso de muitos projectos. Exemplo disso é o custo de armazenamento de dados de vários anos, impostos pelos reguladores ou pela natureza do negócio. Implementar práticas eficazes de FinOps ajuda a optimizar os gastos, garantindo que os investimentos em cloud são sustentáveis e trazem os benefícios esperados.
O tema específico do off load dos mainframes, que passa por migrar os sistemas core do banco para a cloud, é outra preocupação de muitos dos nossos clientes. Assim, temos estado a trabalhar em parceria com hyperscalers e outros fornecedores de soluções técnicas que permitem transferir, de forma progressiva, muitos dos programas de software que ainda hoje correm em mainframe para ambientes distribuídos, diminuindo os custos operacionais e aumentando a agilidade da organização.
Como é que a adopção da cloud está a impactar as operações no sector financeiro?
A flexibilidade e escalabilidade das infraestruturas cloud, associada à disponibilização de produtos em modelos Software as a Service, agilizam e aceleram a disponibilização de novas ofertas e serviços. Esta flexibilidade reflecte-se nos custos, que passam a ser variáveis e indexados ao próprio negócio, facilitando a sua adopção e evitando elevados investimentos ou compromissos iniciais. No caso da IA Generativa, este raciocínio é mais que óbvio: poucos teriam capacidade de investimento para construir os seus próprios motores in-house. Foi a disponibilização via cloud que permitiu massificar a sua utilização.
Contudo, há que avaliar bem os business cases a médio/longo prazo, pois existem casos em que o desenvolvimento de soluções à medida é mais adequado e com custos mais baixos.
Qual o papel da automação e da IA no futuro dos serviços financeiros?
A automação e a inteligência artificial (IA) estão a transformar o sector dos serviços financeiros, trazendo eficiência operacional, melhor gestão de riscos e uma experiência aprimorada para os clientes. No caso da automação de processos, o maior benefício faz-se sentir na eficiência operacional em tarefas como a digitalização de processos em papel, a reconciliação de informação e o processamento de transacções, onde se verificam reduções de custos e diminuição do erro humano.
A IA, por sua vez, já está a ser aplicada em áreas como gestão de risco, detecção de fraude, avaliação de crédito e análise de tendências de mercado, melhorando a tomada de decisões e a segurança das transacções. Com o advento da IA Generativa, abrem-se novas oportunidades para escalar estas técnicas, utilizando informação textual não estruturada e, à medida que a performance e a precisão da IA Generativa melhoram, os benefícios serão ainda mais significativos.
A experiência do utilizador é outra área de grande importância. Existem bancos que já utilizam um chatbot para executar operações do dia-a-dia, como pagamentos e transferências. Com a IA Generativa, estes agentes IA têm tendência a tornar-se cada vez mais inteligentes, compreendendo melhor as necessidades do utilizador e executando operações de forma quase transparente. Além disso, os insights gerados pela análise de grandes volumes de dados em tempo real podem agora ser traduzidos para linguagem natural, proporcionando maior autonomia e poder de decisão a utilizadores individuais e profissionais.
Que tipo de soluções digitais está a Celfocus a desenvolver para o sector financeiro?
A Celfocus está a desenvolver projectos em vários domínios: na área dos dados, estamos a construir plataformas analíticas, movendo-as para a cloud, garantindo a sua qualidade e gestão para potenciar múltiplos insights para o negócio; na área da experiência digital estamos a fazer transformações incrementais dos sistemas dos nossos clientes, tirando partido dos nossos aceleradores lowcode e frameworks, assim como a eliminar a obsolescência, a criar soluções multicanal e a implementar processos de assinatura digital 100% paperless; na IA, estamos a apoiar os nossos clientes a reinventar os modelos de negócio, com foco na experiência do cliente, na melhoria dos processos e eficiência operacional; na área regulatória, continuamos a alargar o âmbito da nossa reporting tool, o Celfocus RRS, facilitando e agilizando o cumprimento das obrigações de reporte; no asset managment, criamos soluções transversais que acompanham a evolução do mercado e que vão dos activos reais, como seja o imobiliário, aos novos activos digitais e criptomoedas, assim como as diferentes áreas de negócio.
Pode partilhar um projecto inovador que demonstre a experiência da Celfocus?
Podemos falar do D-Verse, o marketplace de coleccionáveis digital que construímos para o Banco BPI, utilizando tecnologia blockchain com sistemas em multi-cadeia da Polygon, ou da utilização da nossa plataforma de Asset Management: o Celfocus AMS, para gerir o primeiro fundo de criptomoedas português, gerido pela 3CC.
Outros projectos incluem soluções de RAG (Retrieval Augmented Generation), que permitem às equipas de operações obter informação de forma simplificada, utilizando linguagem natural e tendo como fonte volumes diversificados de dados. A utilização da nossa framework de lowcode também tem permitido implementar soluções que ajudam os clientes a disponibilizar ou melhorar os serviços aos seus próprios clientes.
Como é que a empresa está a ajudar os clientes a melhorar a experiência do consumidor nos Serviços Financeiros?
Esta é uma das nossas preocupações recorrentes. É por isso que a área de UI/ UX é um departamento autónomo dentro da Celfocus, com equipas dedicadas e especializadas cujo foco é procurar a melhor experiência de utilização para cada desenvolvimento que nos é solicitado.
De que forma a Celfocus apoia as empresas na optimização de processos?
Um dos pontos em que a Celfocus tem trabalhado com maior sucesso junto dos seus clientes é na área do “paperless”, através da digitalização dos processos, integrando as nossas frameworks Intelligent Document Processing (classificação e OCR) e alguns dos nossos produtos, como o eSign (assinatura digital), conseguindo automatizar muitas actividades, acelerar processos e reduzir custos.
Como enfrentam os desafios de segurança e conformidade regulatória ao desenvolver soluções financeiras?
A segurança e a conformidade são elementos centrais de qualquer solução, com especial relevância no sector financeiro. Aplicamos o princípio de Security by Design, integrando práticas de segurança desde a fase de design até à entrega da solução. Trabalhamos, essencialmente, com uma abordagem holística, assente em três pilares: “processos”, com pipelines automatizadas e controlos de segurança integrados; “práticas”, que incluem secure coding, testes SAST/DAST e avaliações de bibliotecas de terceiros; e “cultura”, promovida por uma comunidade activa de AppSec com mais de 150 membros.
Esta abordagem permite-nos detectar e corrigir vulnerabilidades mais cedo, reduzir custos associados a falhas e garantir que os requisitos regulatórios — como RGPD ou DORA — são cumpridos desde o início. Além disso, investimos na formação contínua das equipas e promovemos uma cultura de segurança.
Como ajudam os clientes a superarem barreiras na adopção de novas tecnologias?
A Celfocus tem uma larga experiência nos processos de mudança tecnológica, para a qual tem sido fundamental a utilização dos Facilitation Maps, uma framework de research e inovação que ajuda ao desenvolvimento de soluções focadas no utilizador. Com esta abordagem, conseguimos envolver os utilizadores e diferentes stakeholders ao longo do processo, trazendo dados quantitativos e qualitativos decorrentes de sessões com especialistas de negócio que ajudam a suportar as tomadas de decisão. Ao utilizar os Facilitation Maps, a Celfocus e o cliente percorrem a experiência de utilização e requisitos, alinhando processos e sistemas, tornando a ligação entre pessoas e equipas mais fácil e reduzindo a quantidade e o tempo de interacções, tornando-as mais efectivas.
Quais as oportunidades mais promissoras para a inovação no sector financeiro?
A IA veio trazer múltiplas oportunidades de inovação no sector mas é preciso alimentar os modelos com informação de qualidade e este trabalho prévio é crucial para tirar partido e promover a inovação com IA.
Como vê a evolução da relação entre bancos tradicionais e fintechs?
A relação deve ser vista de uma forma simbiótica, uma vez que as fintechs conseguem inovar mais rapidamente. Contudo, num sector tão regulado como o financeiro, dificilmente podem sobreviver se não se associarem a entidades com dimensão suficiente para acomodarem os custos decorrentes dessa regulação. De modo inverso, os bancos tradicionais que conseguirem integrar as ideias/ produtos/serviços disruptivos de muitas fintechs no seu ecossistema, conseguirão vantagens competitivas fundamentais.
Que mensagem deixaria aos clientes da Celfocus do sector financeiro?
Dedicamo-nos a estabelecer relações de longo prazo e adoptar um modelo de cooperação com os clientes, seja em Portugal ou nas restantes geografias onde estamos presentes (Europa, Médio Oriente e África). Queremos ajudá-los na evolução e transformação tecnológica, visando aprimorar o serviço que fornecem aos seus clientes e também na optimização dos seus processos internos.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 230 de Maio de 2025.