Governo suspende negociações com bombeiros sapadores após protestos

As negociações entre os sindicatos dos bombeiros sapadores e o Governo, que visavam discutir a revisão das suas carreiras, foram suspensas esta terça-feira após protestos intensos junto ao Campus XXI, em Lisboa. Centenas de bombeiros de todo o país manifestaram-se no local, exigindo melhores condições de trabalho, incluindo um aumento do subsídio de risco e uma valorização da carreira profissional.

“O Governo suspende de imediato reunião negocial com representantes dos sapadores, por não aceitar negociar perante formas não ordeiras de manifestação”, afirmou fonte do Governo numa nota enviada à Lusa, quando centenas de bombeiros se manifestam em frente à sede do Governo. “Não estão em causa, até ao momento, as condições de segurança. As negociações poderão ser retomadas se e quando forem assegurados o respeito pelo diálogo e tranquilidade no exercício do direito de manifestação”, afirma a fonte do Governo.

Cerca de 300 a 400 bombeiros, fardados e muitos usando capacetes, concentraram-se na Avenida João XXI, após uma marcha lenta iniciada em Alvalade. O protesto foi marcado por tochas acesas e sucessivos rebentamentos de petardos, gerando uma nuvem de fumo intenso na área. Palavras como “vergonha” e “respeito” ecoaram entre os manifestantes, refletindo a insatisfação generalizada.

A situação escalou quando os bombeiros tentaram ultrapassar o cordão policial montado pela Unidade Especial de Polícia para impedir o acesso ao edifício onde decorriam as reuniões. Alguns manifestantes conseguiram furar a barreira, levando as autoridades a cortar o trânsito na Avenida João XXI e reforçar a segurança.

Os bombeiros sapadores, cuja carreira não é revista há mais de duas décadas, exigem mudanças profundas no seu estatuto profissional. Entre as principais reivindicações estão:

  • aumento do subsídio de risco, atualmente proposto em apenas 37,5 euros mensais, valor considerado “altamente ofensivo” pelos profissionais;
  • valorização salarial que reconheça os riscos e responsabilidades da profissão;
  • revisão do regime de progressão na carreira, que os bombeiros consideram estar “estagnada desde 2002”;
  • melhores condições de reforma, tendo em conta as exigências físicas da função;
  • garantia de formação contínua, essencial para lidar com a complexidade crescente das missões.

Um bombeiro presente no protesto, em declarações à RTP, sublinhou que a carreira deixou de ser atrativa, apontando para dificuldades crescentes no recrutamento. “A carreira está estagnada há mais de 22 anos. Estamos a chegar a um ponto de não retorno”, afirmou.

Além das reivindicações, os manifestantes criticaram a resposta do Governo, acusando-o de falta de compromisso nas negociações. O mesmo bombeiro classificou como “bullying” a atitude do Executivo, referindo-se também à presença policial como uma tentativa de catalogar os bombeiros como “arruaceiros”.

A suspensão das negociações foi anunciada pouco após o protesto intensificar-se, num momento em que os sindicatos já haviam ameaçado abandonar a mesa caso não houvesse avanços significativos.

A reunião suspensa hoje incluía representantes de seis sindicatos, como o Sindicato Nacional dos Bombeiros Profissionais (SNBP), o Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS) e outros representantes de trabalhadores da administração pública e local. Do lado do Governo, participavam o secretário de Estado da Proteção Civil, Paulo Simões Ribeiro, a secretária de Estado da Administração Pública, Marisa Garrido, e o secretário de Estado da Administração Local, Hernâni Dias.

O objetivo principal era encontrar um consenso sobre o estatuto dos bombeiros sapadores, que atualmente enfrentam desafios relacionados à precariedade salarial e às condições de trabalho.