A TAP não dá lucro!

Opinião de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

A gestão da TAP e a sua tutela afirmam orgulhosamente que a TAP voltou aos resultados positivos com lucro de 65,6 milhões de euros em 2022, com receitas de 3,5 mil milhões e um resultado operacional de 268,2 milhões. Tudo positivo, parece.

Mas numa companhia em que o Estado investiu 3.2 biliões de euros e não sabemos se vão ser devolvidos, não seria de esperar? E quando olhamos para os números com detalhe, entendemos que nem a TAP vai devolver o dinheiro ao estado (precisava de cerca de 50 anos para o fazer), nem afinal teve um lucro orgânico positivo estrutural mas apenas pontual. Apenas teve porque o plano de reestruturação teve vários fatores fundamentais não recorrentes: a redução de custos com trabalhadores que implicou o corte salarial dos pilotos, tripulantes e técnicos (nalguns casos de 45%); o despedimento de mais de 1.000 colaboradores que agora anda a contratar novamente; inclusive alguns técnicos trabalharam 15% do tempo em part-time, que a administração cessou em agosto devido à retoma do tráfego. Só aqui, com estas medidas, anunciou a TAP uma poupança de 187.5 milhões de euros de massa salarial. Mas cortes que terão que ser repostos pois são direitos dos trabalhadores. Lá foi o lucro!

Em paralelo, reduziu a frota para 93 aeronaves, teve uma de taxa de ocupação (80%) e transportou 13,8 milhões de passageiros. Um número melhor que em 2021 claro, mas ainda longe (81%) dos 17 milhões de passageiros contabilizados em 2019. Ou seja para voltar a atingir este número, terá que repor o número de trabalhadores, aumentar o número de aeronaves, ou seja aumentar novamente as despesas operacionais e massa salarial.

Por outro lado o resultado operacional (EBIT – lucro resultante antes da aplicação dos valores de juros e impostos) teve um impacto positivo de cerca de 268 milhões de euros. Mas este resultado tem uma parte relevante não recorrente, resultado da reversão de 113,6 milhões de euros de uma provisão de 140,3 milhões para suportar com a liquidação da ME Brasil e a reorganização societária do Grupo TAP. Apenas foram efetuados pagamentos de 26,7 milhões de euros em 2022, que foram deduzidos à provisão. A libertação desta provisão teve portanto, um impacto positivo nas contas da companhia aérea. Mas não se vai repetir. Há uma decisão positiva estratégica que foi libertar-se do peso morto da TAP ME Brasil que sempre teve prejuízos desde que foi adquirida. Sendo os mais recentes de de 51,6 milhões em 2018, de 14,7 milhões em 2019 e de 31,3 milhões em 2020. E estes prejuízos também não são recorrentes.

Em suma, uma empresa com uma injeção do estado de 3.2 biliões de euros sobre os quais não paga juros, que provavelmente não serão devolvidos, que ainda permitem despedir ou cortar nos salários dos empregados, poupando temporariamente dezenas de milhões de euros, de forma não recorrente, não é lucro. É adiar um problema. Mais ainda quando vão ter que ser reinvestidos vários milhões de euros para reativar a operação e utilizar todo o seu potencial! Ainda não é estruturalmente uma operação lucrativa! Basta saber fazer as contas !!!

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