Nem Musk, nem Bezos: Este é o homem mais rico da História

O ‘Mansa Musa I’ (‘mansa’ significava o seria hoje o equivalente a ‘imperador’) governou entre 1312 e 1337, sob domínios que incluiam os territórios de hoje do sul da Mauritânia, Senegal, Guiné, Hâmbia, Mali, Burkina Faso, sul da Argélia, Chade e Níger.

Pedro Gonçalves
Julho 24, 2023
18:57

Quem é o homem mais rico da história? Se lhe fizessem a pergunta, possivelmente a intuição apontaria para nomes atuais, como Jeff Bezos ou Elon Musk, mas é preciso voltar atrás no tempo uns quantos séculos para chegar à resposta correta: investigadores e historiadores apontam para que tenha sido Musa I, líder do Império do Mali no século XVI.

O ‘Mansa Musa I’ (‘mansa’ significava o seria hoje o equivalente a ‘imperador’) governou entre 1312 e 1337, sob domínios que incluiam os territórios de hoje do sul da Mauritânia, Senegal, Guiné, Hâmbia, Mali, Burkina Faso, sul da Argélia, Chade e Níger.

Chegou a governar mais de 50 milhões de súbditos, um número impressionante se considerarmos que a população mundial então estimada seria de entre 360 a 432 milhões de pessoas.

A ascensão deste imperador ao título de homem mais rico do mundo é explicada pela exploração mineira lançada que permitiu manter um mercado de sal e grandes quantidades de ouro no reino, ao mesmo tempo que a que viria a ser a maior potência mundial séculos depois, a Europa, vivia tempo de crise sanitária com a devastação da Peste Negra.

Sabe-se que Musa I dominava as rotas comerciais através do Sahara, que iam do norte de África até ao Médio oriente, através do Atlas Catalão, um escrito do historiados judeu em Maiorca Cresques Abraham, que data de 1375 e está guardado na Biblioteca Nacional de França.

“Este senhor negro chama-se Musse Melly, senhor dos negros da Guiné. Este rei é o senhor mais rico e nobre por causa da abundância de ouro que recolhe na sua terra”, é descrito no livro Mansa Musa I, que é ilustrado com uma coroa, uma orbe e um centro nas mãos e sentado num trono de ouro.

No mapa surge identificado como o líder do território entre Timbuktu e Gao, que mais tarde viria a tornar-se capital do império islâmico de Songhai.

Recorda o El confidencial que, em ‘Mansa Musa – Peregrino do deserto, rei de Timbuktu’, o escritor Miguel Guerrero já identifica o imperador do Mali como a pessoa mais rica de todos os tempos, ajustando á inflação”.

Para além do sal e ouro, dominava também o comércio de escravos em África. Foi também ele que estabeleceu o Islão como religião do seu país, mas ao mesmo tempo “respeitando as crenças tribais e de bruxaria do súbditos”.

Deu que falar também a sua travessia pelo deserto, com uma comitiva de mais de 10 mil camelos, até chegar a Meca. No entanto, os seus feitos acabaram ignorados pela História da Idade Média, e pouco interessaram aos historiadores ao longo dos anos.

Das investigações já feitas, apurou-se que terá nascido por volta de 1280, no seio de uma família de linhagem real. Foi nomeado pelo então ‘Mansa’ Abubakari I, que montou uma expedição no Atlântico com 2 mil barcos, mas que acabou por nunca mais voltar.

Musa I, profundamente religioso, era também implacável na cobrança de impostos: por qualquer pepita de ouro que fosse minerada no seu território “outra de igual peso” devia ser entregue ao rei.

Mas como se compara a riqueza de um imperador de um terreno cravado de minas de ouro? “Em 2019 a pessoa mais rica do mundo era Jeff Bezos, com uma fortuna de 107.400 milhões de euros. No século VIC, a riqueza estimada do imperador do Mali seria o equivalente a 367 milhões de euros, atualmente”, indica Charlie Harris, investigador da Universidade de Oxford.

Musa I também apostou no intercâmbio cultural, e prezava muito os avanços na ciência, matemática e misticismo vindos da Índia, do Irão, do Egito ou da China, ‘importando’ especialistas muçulmanos para aperfeiçoar os ofícios no reino. Consta que pagou 170 quilos de ouro a um grupo destes eruditos para que fosse erguida uma das joias arquitetónicas de África, a Mesquita de Djingareyber.

A sua morte coincide com um período de estabilidade e depois declínio do Império do Mali, que viria a ser absorvido pelo Império de Songhai pouco depois. A Peste Negra não chegou a afetar o Mali, mas acabou por interromper algumas rotas comerciais essenciais para manter a opulência do reino, mergulhando-o em crise, e abrindo porta à conquista pelo sultão Saasi, e para que o legado de mansa Musa I se perdesse na história.

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