Estás mal ataviado (a) !!!

Opinião de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

Esta frase muito comum na cerimónia de revista às tropas militares pelos postos mais elevados ou pelo político da área, acontece quando um (a) militar não está devidamente composto (a), “enfeitado” (a) com a farda ou outro aspecto físico. Diz-se pelas costas e em voz baixa, discretamente, pois o “mal ataviado” está a envergonhar todos e não apenas o próprio.

Julgo que é o que o Primeiro Ministro, que acho genuinamente um político brilhante, diz a alguns ministros nos dias de hoje, em surdina: “estás mal ataviado e o teu gabinete também”!

O grande problema é que estamos focados em casos de “mau ataviamento” em lugar de discutir a melhor forma de implementar o PRR, a gestão e privatização da TAP, a venda da EFACEC, a habitação, a penúria da inflação, a baixa produtividade e suas causas, o tormento de alunos e encarregados da educação, os descuidos com os direitos dos professores apesar de alguns sindicatos desassisados, o mau funcionamento dos serviços públicos, a guerra que se está a instalar com as “ordens profissionais”, o SNS, o modelo SIADAP que avalia os funcionários públicos mas que devia ser erradicado pois é tudo menos méritocrático; ou seja discutir o País. Aliás devia estar preocupado em como conseguir que o País continue bem na macroeconomia, mas que os portugueses também dêem conta disso. Algo que ainda não aconteceu.

julgo que a grande falha de um ótimo político (ou de qualquer líder) é pensar que não tem de se rodear dos melhores pois afinal, tem o poder total, ou seja maioria absoluta. A sabedoria popular explica bem esta má estratégia seguida: nalguns ministérios chave rodeou-se do seu “bureau” político (das pessoas da sua confiança do secretariado nacional) e noutros, dos seus plenipotenciários desafiadores. “Os amigos perto mais os inimigos ainda mais perto”.

Em alguns casos teve sucesso, como é o caso do ministro da saúde cujo cais está a tentar organizar, noutros casos decididamente não! E é de lamentar pois nunca o país teve tanto a seu favor para melhorar a vida dos Portugueses e deixar de ser “o patinho feio da Europa”: uma injeção brutal de dinheiro para investir na inovação e no crescimento estrutural aliado a um governo com possibilidade de tomar decisões, sem negociar ou ter que ceder a interesses ideológicos fora da realidade. Apesar do mundo “estar contra” este desígnio, com a guerra, a inflação, a Blocalização…

Mas mesmo sendo o Sr PM um fantástico estratega (aliás como “a guerra” com o Sr PR demonstrou) julgo que confiou demais na sua intuição, bem como em “políticos carreiristas das juventudes partidárias” “ou familiares de alguém que conhece alguém” e que nunca tiveram de lutar por um salário. Bem sei que não é fácil encontrar alguém que tenha uma carreira fora dos partidos ou da administração pública e queira ser governante. Apesar do sentido de missão que possa ter, o baixo salário não compensa: a falta de autonomia, a lentidão da administração pública na execução das instruções, a ineficiente legislação da contratação pública, a responsabilidade de querer fazer obra e cometer algum erro burocrático, ao escrutínio populista a que está sujeito, a uma oposição “balofa”, aos interesses políticos táticos, a lidar com outros governantes carreiristas mal preparados, a submeter-se a comissões de inquérito e comentadores que apenas criticam “porque sim”.

Poder é responsabilidade, disse em maio o PR. Eu reforçava com uma frase de Hemingway:” e quem estará ao teu lado na guerra? E isso interessa? Mais do que a própria guerra”!

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