É preciso mais do que aprender a poupar

Por Sandra Maximiano, Professora do ISEG-Universidade de Lisboa e coordenadora do XLAB-Behavioural Research Lab

A poupança é essencial para o bem-estar individual e social. A nível macroeconómico, os países que apresentam taxas de poupança mais elevadas têm, em geral, um crescimento económico mais sustentável do que aqueles que apresentam taxas de poupança mais baixas. Ao nível individual, a poupança ajuda as famílias a regular o consumo, a financiar investimentos produtivos em capital humano e empresarial. Poupar e investir com prudência e de uma forma diversificada oferece às famílias uma rede de segurança para fazerem face a gastos inesperados com infortúnios, como a perda do emprego ou uma doença grave.

Os portugueses poupam pouco. De acordo com dados da Pordata, em 2018, a taxa de poupança foi de 7%. Em 2020, subiu para cerca de 13%, o valor mais alto em 17 anos, fruto da pandemia e da alteração de hábitos de consumo devido ao confinamento e à queda do rendimento disponível. Mesmo assim, a taxa de poupança continua a ser das mais baixas da União Europeia.

Teoricamente, são várias as explicações para se “poupar pouco”. A existência de baixos rendimentos, de custos de transação, barreiras regulatórias, falta de confiança nas instituições, restrições sociais e enviesamentos comportamentais, nomeadamente problemas de autocontrolo e preferências intertemporais inconsistentes, assim como falta de informação, educação financeira e da fomentação de hábitos de poupança em crianças e jovens.

Sem descurar a importância de outros fatores, a educação financeira é um elemento chave para a mobilização dos agentes económicos para a poupança. Mais, a educação e o conhecimento são essenciais para que os indivíduos reconheçam e minimizem as suas limitações cognitivas e emocionais que levam, por exemplo a consumos compulsivos e maus investimentos.

A literacia financeira dos jovens é imprescindível. De acordo com os dados com os dados do European Consumer Payment Report de 2019, 51% dos jovens entre os 18 e 21 anos sentem-se pressionados a consumir mais do que precisam. Mais, a facilidade em fazer pagamentos e pedir empréstimos para consumo online, através de smartphones, torna os jovens mais suscetíveis de sofrerem de má gestão financeira. Há ainda estudos que mostram que jovens com dívidas tendem a deixar os estudos mais cedo e a escolherem carreiras profissionais que não são a sua primeira preferência.

Não há dúvida que a literacia financeira é necessária, mas será condição suficiente para a criação de hábitos de poupança permanentes? Que duração deverão ter os programas de literacia financeira e até que ponto estes programas são eficazes a minimizar enviesamentos cognitivos e emocionais?  Para dar resposta a estas questões é preciso, não só criar um bom programa de literacia financeira, que ajude os jovens a criarem objetivos e um propósito para poupar, que envolva as famílias, que não descure ensinamentos da economia comportamental, mas também testá-lo de uma forma controlada. E foi isso que fizeram um grupo de investigadores da Universidade de Amesterdão.

Primeiro, criaram o programa de educação financeira “SaveWise” que foi desenhado tendo por base uma aprendizagem experiencial e prática, a teoria da fixação de objetivos e ensinamentos da economia comportamental. Depois, desenvolveram um estudo experimental que pretendeu avaliar os efeitos do programa. Foram realizados testes de avaliação do conhecimento financeiro e avaliação da predisposição a poupar a 713 alunos do nono ano do ensino profissional holandês. Estes testes foram aplicados antes e após a implementação do programa “SaveWise”. Em cada escola as turmas formam selecionadas aleatoriamente para receber o programa ou ficar no grupo de controlo.

Os resultados de curto-prazo, medidos algumas semanas após a intervenção, indicaram que o programa “SaveWise” permitiu alargar o nível de conhecimento financeiro dos alunos e a predisposição a poupar e investir. Os efeitos a médio-prazo, medidos cerca de nove meses após a intervenção, foram menos animadores.  Esta investigação mostra a importância da realização de experiências controladas na avaliação do impacto de programas de literacia financeira. Mostra também que ensinar é o primeiro passo para se aprender a poupar, mas que é preciso mais do que programas pontuais para se criarem bons hábitos.

Aisa Amagir, Henriëtte Maassen van den Brink, Wim Groot, Arie Wilschut (2021) SaveWise: The impact of a real-life financial education program for ninth grade students in the Netherlands, Journal of Behavioral and Experimental Finance, 100605.
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