Biomassa, mitigação das alterações climáticas e ecossistemas

Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

Os ecossistemas naturais são os que existiam antes de haver agricultura ou intervenção humana. São geralmente ricos em biodiversidade. Os ecossistemas seminaturais foram criados pelo homem ao longo dos tempos. Incluem florestas geridas que requerem extração de biomassa. Os ecossistemas intensivamente geridos (antropogénicos), incluem por exemplo áreas urbanas, áreas de agricultura intensiva ou extensas florestas mono-espécie. Os impactos ambientais dos diferentes tipos de biomassa produzida e extraída, variam nestes tipos de ecossistemas. Por isso, a extração de biomassa deve ser mantida num mínimo sustentável.

As restrições ambientais relacionadas com a biomassa estão relacionadas com as limitações do uso da terra, as taxas de crescimento da biomassa e impactos com as alterações climáticas. A produção de biomassa tem limitações de área de produção, não se podendo indefinidamente satisfazer o armazenamento de carbono e a extração de biomassa para além da questão da matéria orgânica no solo.

A biomassa é um recurso renovável, mas não infinito. Tem que, por isso, se explorado de forma sustentável e que permita a regeneração. A extração de biomassa não deve ultrapassar a taxa de crescimento natural necessária para manter a biodiversidade e a estrutura, funcionamento e produtividade dos ecossistemas. Além disso haverá, naturalmente, impacto das alterações climáticas na futura produção da biomassa, mas cuja extensão ainda não conhecemos. Será que conseguimos manter os níveis de produção de biomassa sob condições climáticas mais extremas?

A contribuição total da biomassa para mitigação do clima depende da quantidade de carbono sequestrado nos ecossistemas, da sua dimensão, da quantidade de carbono armazenado nos produtos lenhosos de vida prolongada, das emissões evitadas pelo uso de biomassa em substituição de combustíveis fósseis e ainda da baixa emissão do processo de produção dessa biomassa.

Saliente-se que as plantas e os solos são os dois principais componentes do sequestro de carbono em terra. Os produtos de madeira para a construção podem substituir outros materiais mais intensivos em gases de efeito de estufa como o aço ou o betão, ou mesmo polímeros plásticos usados em isolamentos (ex. cortiça). Perspetivam-se também novos materiais com base em biomassa como têxteis e outros materiais à base de fibras celulósicas.

Embora a vegetação e os solos sejam um dos maiores contribuintes para o sequestro do carbono, este contributo tem diminuído devido a fatores como a mudança da estrutura da idade das florestas, os impactos das alterações ambientais e do uso das terras, e o tipo de exploração económica das florestas. A redução do incremento de árvores mais velhas e o aumento do abate diminuem a capacidade de sequestro, mas a florestação pode reverter essa diminuição. Por outro lado, para maximizar o sequestro de carbono nos solos, a gestão dos mesmos pode passar por um aumento do teor de matéria orgânica nos solos.

As florestas armazenam, à escala global, aproximadamente 662 mil milhões de toneladas de carbono, o equivalente a cerca de 163 toneladas de carbono por cada hectare de floresta no mundo, valores estimados pelo Global Forest Resources Assessment (FRA2020). Este total compreende: 300 Gt de carbono na matéria orgânica do solo, 295 Gt na biomassa viva (acima do solo e nas raízes) e 68 Gt na biomassa morta (ramos e folhas caídas sobre o solo).

Para assegurar a eficiência do recurso, ao usar a biomassa para fins energéticos, é importante o princípio do uso em cascata. Isso pode passar pelo uso de biomassa lenhosa em produtos de maior valor acrescentado em termos de capacidade de armazenamento de carbono, antes do seu uso para combustão e produção de energia.

Existe uma procura crescente e concorrente para a utilização da biomassa na UE, por exemplo para produtos de base biológica em setores como a construção, a energia, os transportes, o mobiliário e as indústrias têxteis, mas também para a conservação da natureza e o sequestro de carbono. O relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEA), publicado em janeiro deste ano, salienta a necessidade urgente de dar prioridade às utilizações da biomassa em função dos diferentes papéis previstos para a mesma no Pacto Ecológico Europeu e da potencial escassez da oferta de biomassa no futuro.

Verifica-se assim que a biomassa desempenha um papel essencial na transição da economia europeia e nacional para uma economia neutra em carbono, pois o carbono é sequestrado via crescimento biomássico, a biomassa é uma alternativa aos combustíveis fósseis e a materiais intensivos em carbono e porque também pode haver redução de emissões durante a produção e consumo da biomassa.

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