As prioridades para a saúde em Portugal – seremos capazes de dar resposta?

Por Pedro Gouveia, Country Head Portugal, Sanofi Consumer Healthcare

É inegável que Portugal enfrenta desafios prementes no que diz respeito ao sistema de saúde, e os próximos anos são cruciais para definir o rumo deste setor fundamental para os portugueses. Com o novo governo, as expectativas em relação às suas prioridades e estratégias para a saúde estão muito altas, com muitas necessidades a serem supridas ao nível dos profissionais e dos serviços.

Antes de abordar as prioridades que considero importantes dar resposta pelo novo governo, é fundamental perceber os desafios que o sistema de saúde português enfrenta atualmente. Antes de mais, devo referir a sobrecarga dos serviços de saúde. Os hospitais e centros de saúde encontram-se lotados e com capacidade limitada de responder à elevada procura, levando a tempos de espera prolongados e pressão sobre os profissionais de saúde. Nesse sentido, a integração estratégica das farmácias no Sistema Nacional de Saúde pode fortalecer a sua sustentabilidade. Estas desempenham um papel crucial na prestação de cuidados de saúde primários, aliviando a pressão sobre os hospitais e proporcionando uma maior acessibilidade aos serviços de saúde. Ao aproveitar plenamente o potencial das farmácias, o SNS pode melhorar a eficiência dos cuidados, reduzir custos e promover uma abordagem mais abrangente e preventiva à saúde pública.

Além disso, continuamos a ter um problema de desigualdades no acesso aos cuidados de saúde. Embora Portugal tenha um sistema de saúde universal, persistem desigualdades regionais e socioeconómicas no acesso aos serviços de saúde. Além disso, com uma elevada taxa de população envelhecida deparamo-nos com desafios específicos, como o aumento das doenças crónicas e a necessidade de cuidados continuados. A somar a tudo isto o subfinanciamento em saúde é crónico e limita a capacidade de o sistema de saúde lidar com a procura crescente.

Assim, continua a ser crucial e urgente apostar em programas de literacia em saúde para capacitar as pessoas a tomarem decisões informadas sobre a sua saúde. Compreender informações médicas, seguir instruções de tratamento e procurar ajuda quando necessário são fundamentais para uma população mais saudável e que recorra menos aos serviços de saúde por desinformação. Melhorar a literacia em saúde requer esforços educacionais contínuos. É essencial trabalhar com o propósito de conseguir construir essa mesma literacia, de forma a poder dar melhores cuidados de saúde a todos os cidadãos em Portugal.

O novo governo deverá, desta forma, apostar nos cuidados primários para melhorar o acesso aos cuidados de saúde, prevenir doenças e reduzir a pressão sobre os serviços hospitalares. Com este reforço poderá ser possível reduzir os tempos de espera para consultas, exames e cirurgias, garantindo um atendimento oportuno, eficiente e, sobretudo, entregar valor aos utentes e os resultados de que estes necessitam.

A digitalização dos serviços de saúde pode também melhorar em muito a eficiência e facilitar o acesso dos utentes aos cuidados. A implementação da Identificação Digital do Utente pode trazer benefícios significativos para a gestão da saúde. Facilita o acesso rápido e seguro aos registos médicos, promove a coordenação entre diferentes prestadores de cuidados e reduz a probabilidade de erros médicos. Este ID digital de saúde permitiria aos portugueses acederem à rede de farmácias com todo o seu histórico de saúde e aí, na companhia de um farmacêutico, receber atendimento personalizado com base no seu histórico de saúde.

Para o cumprimento de todas estas metas é fundamental valorizar e investir nos profissionais de saúde para garantir um sistema de saúde robusto e sustentável. Isso inclui a formação contínua, melhores condições de trabalho e incentivos para atrair e reter talentos.

O Sistema Nacional de Saúde está dependente das decisões e ações tomadas nos próximos anos, pelo que o novo governo deverá ter como prioridade melhorar o acesso, a qualidade e a eficiência dos serviços de saúde, ao mesmo tempo que terá de manter as contas certas para um SNS sustentável e capaz de dar resposta a toda a população portuguesa.

 

 

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