Qual é o objetivo final de Israel para a Faixa de Gaza? Especialistas temem falta de um fim óbvio à vista para o conflito

Israel já deixou a promessa de que pretende acabar com o Hamas num ataque implacável à Faixa de Gaza mas, no entanto, o conflito não tem um fim óbvio à vista e não há um plano claro sobre como governar o devastado enclave palestiniano, caso a ofensiva israelita prevaleça.

De acordo com as autoridades israelitas, a “Operação Espadas de Fogo” promete ser uma campanha militar sem comparação pela sua ferocidade, diferente de tudo o que Israel já realizou em Gaza no passado, segundo revelou esta quinta-feira a agência ‘Reuters’, que ouviu oito autoridades regionais e ocidentais sobre a ofensiva.

Israel convocou um número recorde de 360 mil reservistas e tem bombardeado praticamente de forma ininterrupta o pequeno enclave. A estratégia inicial de Telavive é destruir a infraestrutura de Gaza, mesmo a custo de um elevado número de baixas civis, empurrar a população palestiniana em direção à fronteira com o Egito e perseguir o Hamas, fazendo explodir o labirinto de túneis subterrâneo que o grupo terrorista construiu. Mas, de acordo com as fontes, Israel não tem uma ideia clara de como será o futuro pós-guerra.

Há preocupações em Washington de que Israel não tenha formulado uma estratégia de saída e as viagens do secretário de Estado, Antony Blinken, e do secretário da Defesa, Lloyd Austin, enfatizaram a necessidade de haver um plano pós-guerra para Gaza. As autoridades árabes também estão alarmadas. “Israel não tem um fim para Gaza. A sua estratégia é lançar milhares de bombas, destruir tudo e entrar, mas e depois? Eles não têm uma estratégia de saída para o dia seguinte”, garantiu uma fonte de segurança regional.

Aaron David Miller, especialista no Médio Oriente do ‘Carnegie Endowment for International Peace’, sustentou que a viagem de Joe Biden foi também uma ocasião para pressionar o líder israelita Benjamin Netanyahu a pensar em questões como o uso proporcional da força e os planos de longo prazo para Gaza antes de qualquer invasão.

“É claro que estamos a pensar e a lidar com isso. Envolve avaliações e inclui o Conselho de Segurança Nacional, os militares e outros sobre a situação final”, comentou o diretor do Conselho de Segurança Nacional israelita, Tzachi Hanegbi. “Não sabemos o que será com certeza, mas o que sabemos é o que não existirá.” No entanto, pode ser mais fácil falar do que realizar.

“É uma cidade subterrânea de túneis que fazem com que os túneis vietcongues pareçam uma brincadeira de crianças”, referiu outra fonte à ‘Reuters’. “Eles não vão acabar com o Hamas com tanques e poder de fogo.” Segundo dois especialistas militares, as Brigadas Ezzedine al-Qassam, braço armado do Hamas, mobilizou-se para uma invasão, instalando minas antitanques e dispositivos explosivos com armadilhas para emboscar as tropas israelitas.

Washington revelou pouco otimismo de que Israel seja capaz de destruir completamente o Hamas e veem poucas hipóteses de Telavive manter qualquer território de Gaza ou reocupá-lo. O cenário mais provável é as forças israelitas matarem ou capturarem o maior número de elementos do Hamas, façam explodir túneis e, conforme subirem as baixas israelitas, declarar vitória e sair.

Miller, um antigo negociador dos EUA para o Médio Oriente, expressou profundo ceticismo sobre o potencial estabelecimento de um Governo pós-Hamas para governar Gaza. “Poderia pintar um quadro mais apropriado para uma galáxia muito, muito distante e não no planeta Terra sobre como se poderia combinar a ONU, a Autoridade Palestina, os sauditas, os egípcios, liderados pelos EUA a comandar os europeus, para basicamente converter Gaza de uma prisão a céu aberto para algo muito melhor”, disse ele.

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