Menos de 5% das praias em Portugal são vigiadas fora da época balnear: quer saber quais são?

Menos de 5% das praias de Portugal têm vigilância o ano inteiro. Quer saber quais são?

Viana do Castelo

Praia do Cabedelo (que é patrulhada e com um sistema de salvamento de prevenção)

Vila do Conde

Toda a frente urbana da cidade, com dois nadadores-salvadores na freguesia de Azurara (sobretudo na praia da Azurara, uma das praias com maior número de ocorrências do país).

Matosinhos

Na área urbana de Leça e Matosinhos – o Serviço de Salvamento Balnear (SSB), que faz parte da Proteção Civil, também realiza ações de prevenção em outras praias.

Nazaré

Praia do Norte (somente entre outubro e março – abril, maio e junho não têm vigilância), mais a praia da Vila, na frente urbana da cidade. Com 8 operacionais ao serviço.

Almada

Todas as praias do concelho, desde a praia de São João até à Fonte da Telha – seis pessoas, mais uma viatura. A partir da Páscoa, até começar a época balnear, há vigilância em todos os fins de semana e feriados, sendo o dispositivo reforçado com mais 8 viaturas e 18 homens.

Cascais

A ‘Brave Heart’ providencia vigilância o ano inteiro na praia de Carcavelos, praia da Parede, praia de São Pedro do Estoril, Praia das Moitas (Cascais), Piscina oceânica Alberto Romano, praia da Conceição e da Duquesa (junto da estação de comboio) e praia da Rainha, num total de 12 operacionais.

Albufeira

Toda a frente urbana da cidade de Albufeira, que vai desde a praia Pescadores, praia do Peneco, passando pelo Inatel, até chegar à praia dos Alemães. A partir de 2025, vão existir meios complementares que vão fazer um sistema de prevenção nas restantes praias do concelho.

“Estamos em abril e já morreram 30 pessoas afogadas – na primeira quinzena deste mês, foram cerca de entre 13 e 15 pessoas. São números trágicos. Portanto, não vamos assobiar para o lado”

Carlos Ferreira – mais conhecido como Carlos da Póvoa – é um dos responsáveis da Federação de Nadadores-Salvadores e da maior associação de nadadores-salvadores do Norte – ‘Os Delfins’ (Associação de Nadadores-Salvadores da Póvoa de Varzim e Vila do Conde), que falou em exclusivo à ‘Executive Digest’ para sublinhar os vários problemas que enfrenta o setor.

Em primeiro lugar, como se justifica um número tão reduzido de praias com vigilância o ano inteiro?

“O conceito de época balnear está completamente ultrapassado e obsoleto. As câmaras municipais, depois da transferência de competências, assumiram a assistência balnear a banhistas mas viram uma abertura para empurrarem novamente para os privados. O que não faz sentido nenhum. São os privados que pagam a segurança e assistência a banhistas. Isso está errado.

No entanto, temos de dar os parabéns a algumas câmaras que assumiram essa responsabilidade e que têm noção de que, com as alterações climáticas temos vagas de calor – tivemos vagas de calor em janeiro -, com gentes nas praias. Por causa dos desportos náuticos, do turismo, há gente nas praias todos os dias. Com as atividades desportivas na praia, vem a família toda: pais, filhos, primos, vem tudo. Atrai muita gente.

Achamos que não faz sentido tão poucas praias terem tão pouca vigilância o ano todo. Acreditamos que todas as praias deviam ter um sistema, obviamente reduzido, de assistência balnear, com  patrulhamento, com sensibilização às pessoas que estão na praia. Pequenas dicas previnem acidentes e menos problemas. As pessoas sabem que, naquela praia, onde está o perigo.”

Neste período de inverno – apesar das temperaturas de verão -, quais são os principais perigos?

“O que acontece no mar de inverno é que as areias não estão estabilizadas. Tradicionalmente, por ser inverno, a força do mar é outra. Não está tão estável ou tão sereno. Como as areias não estão estáveis, há tendência para haver muito mais fundões porque não houve reposição das areias. Há uma maior fenómeno de agueiros e fundões.

Há também praias com declives mais acentuados porque o mar comeu mais areia. Por isso por vezes aconselhamos que não se ande junto à linha da água. Na Póvoa do Varzim, que tem um gradeante muito grande (gradeante é a descida até ao nível do mar). O que acontece nesta praia? Tem um fundão, ou seja, entra-se na água e perde-se logo o pé. Não é como nas praias do Algarve, que se pode andar 100 metros e continua a ter pé. Na Póvoa do Varzim, já morreram nos últimos anos três pessoas que estavam vestidas, colhidas da areia. O mar de inverno leva a água até cá acima, quando regressa as depressões fazem aumentar o caudal e arrasta tudo o que estiver ali. Quando se tenta pôr pé, com o fundão, entra em pânico e acaba por ficar na água.

Este mar de inverno tem muito mais força: a tendência de correntes é muito superior, e mais fortes, e obviamente uma tendência de mais agueiros porque as areias não estão estabilizadas.”

Como se justificam os números trágicos do passado fim de semana? E face aos números mortais, não devia haver já movimentação dos responsáveis para uma maior vigilância?

“Coincidiu uma vaga de calor com o mar bravo. A ondulação alta foi fatal.

E claro que sim – os responsáveis empurram com a barriga para o lado. A mudança de políticas tem de ser radicalmente. A época balnear não é só durante o verão. Devia haver um reforço de equipas, com esta previsão de bom tempo. Isto é que era salvamento. Agora, quando o salvamento está dependente única e exclusivamente de concessionários e de particulares… há praias que são muito frequentadas mas não têm concessionários e não têm nadadores-salvadores e há outras que são concessionadas e têm pouca gente mas têm nadador-salvador. Isto é ridículo.

Em Matosinhos, por exemplo, é caótico. Em 1.100 metros de praia, há três concessionários, ou seja, apenas 300 metros têm vigilância. Agora, Matosinhos montou um dispositivo que, com carrinhas, consegue colmatar muitas necessidades e acidentes.. porque se não eram mortes com fartura. Os mesmo 1.100 metros na Póvoa do Varzim têm 19 concessionários. E se formos para o sul, há praias no Alentejo sem concessionário que estão cheias. Onde houver gente deve haver nadador-salvador e não onde houver concessionários.

Estamos em abril e já morreram 30 pessoas afogadas – na primeira quinzena deste mês, foram cerca de entre 13 e 15 pessoas. São números trágicos. Portanto, não vamos assobiar para o lado. Isto depende das autarquias.. e estamos a falar de valores irrisórios.”

“Apesar do calor ser mais perto do do verão, o mar, nesta época do ano, é um mar de inverno”

A Autoridade Marítima Nacional (AMN) fez um total de 249 salvamentos nas praias sob sua jurisdição entre a passada sexta-feira e domingo, período em que se registou também o desaparecimento de três pessoas em contexto balnear. Contactada pela ‘Executive Digest’, a mensagem da AMN é muito clara: “Apesar do calor mais perto do verão, o mar, nesta época do ano, é um mar de inverno.”

A esmagadora maioria das praias portuguesas não se encontra vigiada nesta altura do ano, isto é, não apresentam dispositivo de segurança balnear. Como tal, a resposta a uma situação de socorro poderá ser demorada, pelo que a população deverá ter um comportamento adequado e responsável, não se colocando em situações de risco.

Assim, a AMN reitera os comportamentos de segurança que deve adotar:

– Vigiar permanentemente as crianças e não permitir que se afastem, mantendo-as sempre próximas de um adulto;

– Evitar comportamentos de risco, não se aproximando da água ou caminhar na areia molhada;

– Não virar as costas ao mar e oferecer sempre uma distância de segurança em relação à linha de água, evitando ser surpreendido por uma onda;

– Caso testemunhe uma situação de perigo dentro de água, não entre e peça ajuda através do 112.

Não se esqueça: a sua segurança começa em si!

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