Alterações climáticas e redes sociais ‘não combinam’: veja algumas das notícias falsas mais reproduzidas na web

As alterações climáticas e o ambiente são ‘terreno fértil’ para muitas notícias falsas, que se espalham violentamente nas redes sociais, sites e aplicações de mensagens: de acordo com o jornal espanhol ‘El País’, há algumas ‘mentiras’ que se espalharam de tal forma que se confundem com a verdade e que é importante desmistificar.

Como pode haver tantas áreas do mundo que estão a aquecer mais rapidamente do que o resto?

A Agência Europeia do Ambiente relatou, recentemente, que o continente europeu é aquele que aquece mais rapidamente devido às alterações climáticas – duas vezes mais rápido do que a média da Terra.

No entanto, basta uma rápida pesquisa pelo Google para encontrar muitos alertas sobre outros pontos do mundo a aquecer muito mais rápido do que o resto: Ártico, Médio Oriente, África, Rússia, China, Austrália, Canadá, México, Estados Unidos, América Latina e as Caraíbas ou a Antártida – isto cria confusão e não dá credibilidade ao alerta climático.

A realidade é que, cientificamente, em todos estes locais o aumento da temperatura é superior à média da Terra: isto porque se tratam de áreas terrestres de um planeta ocupado por mais de 70% de água. De acordo com María José Sanz, diretora científica do Centro Basco para as Alterações Climáticas, “as massas de água aquecem muito mais lentamente do que as áreas terrestres, por isso é óbvio que a superfície da Terra aquece mais rapidamente”.

Isso explica a multiplicação de alertas sobre a velocidade de aquecimento maior que a média do planeta, porém também existem diferenças entre todos esses locais. E, falando de continentes, a Europa é de facto o que aquece mais rapidamente. Segundo Sanz, um dos fatores mais influentes é o chamado ‘albedo’, que determina a proporção de radiação que reflete uma superfície.

Em locais cobertos por neve ou gelo, grande parte da radiação que atinge a superfície é refletida. Em zonas ‘mais escuras’, o calor é absorvido pela Terra, fazendo aumentar as temperaturas. “A Europa está no hemisfério norte, e quanto mais próximo do Polo Norte, do Ártico, mais aquece, pois há mais alterações com o albedo. Em latitudes elevadas, onde havia mais superfícies cobertas por neve ou gelo, quando estas desaparecem, o albedo muda e aquecem mais rapidamente do que antes”, afirmou a investigadora.

O falso desastre ambiental dos painéis solares

“Uma catástrofe ecológica desconhecida e gigantesca”, “um desastre ambiental do qual ninguém fala”. Têm surgido com frequência notícias que apresentam os painéis solares como uma ‘bomba de efeito retardado’: dentro de alguns anos, todos os painéis que estão a ser instalados vão tornar-se resíduos.

O termo “eco-desastre” surgiu num artigo da BBC, no qual era citado Rong Deng, da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sydney (Austrália), que afirmou que há cerca de 2,5 mil milhões de painéis solares em todo o mundo. No entanto, “nunca usei palavra tão forte, a energia solar não é um desastre ecológico”, explicou.

“Precisamos de novas soluções para gerir os painéis solares quando estes terminarem a sua vida útil ou forem substituídos, mas isto não está nem perto de um desastre, é simplesmente um problema que precisamos de resolver”, referiu o investigador, cujo estudo apontou que mais de 95% dos materiais utilizados no fabrico de um painel solar podem ser reciclados, sendo as peças mais valiosas o silício, o alumínio ou a prata. Porém, deixou o alerta: os sistemas atualmente utilizados devem ser melhorados para aumentar a utilização destes materiais e evitar que metais valiosos acabem em aterros sanitários.

O que significa que são necessários 15 mil litros de água para produzir um quilo de carne?

Já se deve ter cruzado com esta mensagem, talvez com outros bens alimentares. É verdade que as medições da pegada hídrica tendem a ser mal interpretadas: quando se utiliza esta metodologia criada pelo holandês Arjen Hoekstra para calcular quantos litros de água são necessários para produzir um determinado alimento, deve-se levar em conta que o cálculo inclui tanto a irrigação como a chuva.

No caso da carne, a maior parte da água estimada está relacionada com a irrigação ou chuva que foi necessária para produzir o alimento que a vaca comia (por isso é uma quantidade muito elevada). Por isso, esta ferramenta de medição é interessante, mas deve ser utilizada com cautela.

Sim, os humanos são os principais responsáveis ​​pelas alterações climáticas.

Os boatos negacionistas das alterações climáticas estão a evoluir. Desde negar as evidências sobre o aquecimento global até rejeitar que os humanos são os principais responsáveis ​​por esta crise.

Uma das farsas mais difundidas resume-se assim: as mudanças climáticas sempre existiram e a atual não é responsabilidade do ser humano. A primeira parte é verdadeira, a segunda não. Na verdade, no passado ocorreram alterações climáticas que arrefeceram ou aqueceram o planeta. Mas a diferença no caso atual é que o responsável é o ser humano pelas emissões de gases de efeito estufa geradas pela sua atividade (fundamentalmente, pela queima de combustíveis fósseis).

A ciência é clara e milhares de artigos sustentam que o homem é o principal responsável. A última grande revisão realizada pelo IPCC (o painel internacional de especialistas que analisa toda a literatura científica para lançar as bases para as alterações climáticas) foi categórica ao afirmar que é “inequívoco” que as atividades dos seres humanos “aqueceram a atmosfera, o oceano e a terra”.

As suas conclusões são ratificadas pelos quase 200 países (praticamente todos do mundo) que participam nas negociações climáticas. E, embora possa parecer novo, há décadas que existe um consenso internacional sobre este assunto, embora se tentem semear dúvidas.

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