Mais um prego no caixão da Amazónia: Brasil já tem luz verde para começar a alcatroar autoestrada no “pulmão do mundo”

A agência ambiental do Brasil concedeu autorização ao Ministério das Infraestruturas brasileiro para avançar com o alcatroamento de autoestrada BR-319, uma grande via, por até agora de terra batida, que atravessa o centro da floresta Amazónia, ligando a cidade de Manaus ao resto do país.

O anúncio foi feito esta quinta-feira pelo Ministério da Infraestruturas brasileiro e vai permitir ao Presidente Jair Bolsonaro cumprir uma promessa que tinha feito durante a campanha eleitoral de 2018.

A estrada em questão foi criada na década de 1970, durante o período de ditadura militar, mas desde então tem vindo a deteriorar-se devido às condições particulares da floresta tropical, e durante metade do ano grandes porções dessa via transformam-se em trechos lamacentos intransponíveis durante a época das chuvas.

Contudo, a aprovação agora concedida pelo regulador brasileiro faz soar os alarmes ambientalistas, pois o alcatroamento da estrada permitirá um acesso mais facilitado por parte de madeireiros ilegais às árvores amazónicas e aumentar ainda mais a desflorestação daquele que ainda é considerado – embora não se sabia por quanto mais tempo – o “pulmão do mundo”.

Citando estimativas de estudo realizado por especialistas, a agência ‘Reuters’ avança que esse projeto vai aumentar em cinco vezes o nível de desflorestação da Amazónia até 2030, ou seja, com a estrada pavimentada nos próximos oito anos deverá desflorestadas uma área superior à do estado norte-americano da Florida.

Sob a liderança de Bolsonaro, a Amazónia tem estado aberta ao saque, com o respaldo das autoridades governamentais. No início de julho, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, no Brasil, tinha divulgado que, durante os primeiros seis meses deste ano, foram perdidos aproximadamente 3.750 quilómetros de floresta amazónica. O mesmo instituto revelou que desde o início de 2022 tem vindo a registar recordes de área desflorestada todos os meses.

Por outro lado, o Instituto Igarape denunciou que a polícia federal brasileira tem feito muito pouco para deter os madeireiros ilegais e outros criminosos que têm devastado as Amazónia e destruído inúmeros ecossistemas.

Em 2021, a área desflorestada nessa floresta tropical, partilhada pelo Brasil e por mais outros 8 países a América do Sul, atingiu o nível mais alto dos últimos 15 anos, aponta a ‘Reuters’.

Numa mensagem publicada no Twitter, o ministro brasileiro das Infraestruturas, Marcelo Sampaio, afirmou que a atribuição da licença prévia marcava um “dia histórico” e que o projeto de pavimentação alia “engenharia e respeito ao meio ambiente”.

Em jeito de sentença, o governante rematou: “Vamos tirar a sociedade do Amazonas do isolamento”.

A licença prévia permite que o governo possa proceder à contratação de empresas de construção, que começaram por pavimentar a secção da estrada que está em pior estado de conservação. Para poderem realmente começar os trabalhos precisam de uma nova licença.

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