Lisboa: Depois das tendas, sem-abrigo começam a ocupar edifícios devolutos na cidade

A situação dos sem-abrigo no coração Lisboa tem sido uma preocupação crescente, e ganha agora novas ‘cores’ com a ocupação de edifícios devolutos na zona dos Anjos. Além das tendas instaladas, principalmente junto à Igreja dos Anjos e agora também frente ao Centro Nacional de Apoio à Integração de Imigrantes, há relatos de sem-abrigo que começaram a ocupar habitações vazias e degradadas.

Um desses edifícios encontra-se no troço entre a Rua da Bombarda e o Mercado do Forno do Tijolo, relata a Rádio Renascença. Nesta área, as únicas luzes acesas são provenientes de um hostel. Ao lado deste estabelecimento, encontra-se um edifício devoluto de rés-do-chão e dois andares, que desde setembro de 2021 aguarda licenciamento da Câmara para execução de obras, e agora é local que vários imigrantes e sem-abrigo chamam “casa”.

Apesar da entrada principal estar trancada com correntes e cadeado, algumas pessoas conseguiram forçar a passagem e pernoitar no interior. A falta de eletricidade levou à criação de uma fogueira no local, resultando num incêndio há alguns dias atrás, relatam moradores locais.

Os bombeiros tiveram de intervir, cortando o cadeado e as correntes para entrar e extinguir o fogo. Após o incidente, a responsabilidade de fechar novamente a porta com cadeados foi deixada ao proprietário do edifício (o que não veio a acontecer).

Moradores locais como Alzira Santos, que vive na área há mais de 50 anos, expressam preocupações com a segurança. A mulher relata ter presenciado o recente incêndio no edifício devoluto e partilha o receio constante de que algo semelhante possa acontecer novamente: “Tenho medo. Cada vez que vou à janela, vejo-os a entrar e sair. Cada vez que saio, deixo as janelas interiores fechadas, porque não sei até que ponto podem passar da varanda para a minha janela, que é mesmo ao lado. E penso sempre que pode haver um outro incêndio, de maiores dimensões.”

Outra residente, Maria Luciano, destaca o desconforto causado pelo odor proveniente do edifício ocupado, especialmente ao passar pela porta do mesmo. A moradora que o local é frequentemente utilizado para “necessidades”, incluindo por sem-abrigo, toxicodependentes e imigrantes. “Fazem as necessidades lá dentro, que é um cheiro que não se pode. Metem-se ali sem-abrigo, toxicodependentes e imigrantes. E há uns dias houve ali um incêndio, perto da meia-noite. Podia ter sido mais forte e alastrar ao prédio ali ao lado, assinala.

Em resposta às preocupações, a Câmara Municipal de Lisboa explica que o edifício em questão é propriedade privada e está desabitado. Após vários processos de licenciamento, um novo pedido submetido em setembro de 2021 foi aprovado em janeiro do ano seguinte. No entanto, o requerente ainda não procedeu ao pagamento das taxas em dívida para emissão do alvará.

Após o caso ser conhecido e noticiado, a Junta de Freguesia de Arroios colocou uma corrente com cadeado para impedir o acesso ao edifício, numa tentativa de garantir a segurança dos residentes locais.

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