“Havia interesse em calar-me. E de facto calaram-me”, diz Boa Ventura Sousa Santos na 1.ª entrevista após acusações de assédio

Boaventura Sousa Santos, investigador e sociólogo do Centro de Estudos Sociais de Coimbra (CES) deu a primeira entrevista desde que se viu no centro de uma série de acusações de assédio sexual, com origem no livro ‘Sexual Misconduct in Academia’ (Conduta Sexual Inapropriada na Academia), de três investigadoras do CES de Coimbra, que relatam alegados episódios que envolvem o especialista.

Na entrevista, divulgada no YouTube e citada pelo Diário de Notícias, Boaventura Sousa Santos volta a reforçar ser vítima de uma “vingança” de uma das investigadoras que o denunciou, afirmando “nunca” ter cometido crimes, admitindo no entanto “erros, atos incorretos”.

O sociólogo explica estar “muito tranquilo” e “confiante” de que a verdade prevalecerá, e indica que o livro em causa está com a publicação suspensa “por a acusação ser tão grave”.

“Porque é na verdade uma acusação criminal sob o disfarce de um trabalho científico”, indica, criticando que as autoras, Lieselotte Viaene, Catarina Laranjeiro e Miye Nadya Tom se basearam numa “rede de murmúrios” para construir a obra científica sem nunca levarem a cabo uma entrevista.

O investigador sustenta que a belga Lieselotte Viaene está a encetar uma vingança pessoal.

“Foi expulsa do nosso centro. Tivemos de instaurar um processo disciplinar contra esta mulher, por conduta inapropriada, e ela prometeu vingança”, conta, indicando que as outras autoras lhe disseram que artigo !não era para ser contra o ‘Professor Estrela’, porque o admiramos, mas a versão final é da belga e ela colocou tudo em cima do professor porque se queria vingar”.

Sete mulheres “de nacionalidades brasileira, portuguesa, peruana e mexicana”, que constituem o “coletivo de vítimas CES-UC”, criticam a suspensão da venda do livro e exigem esclarecimentos para o que a motivou, indicando que as experiências que tiveram “permitem atestar a veracidade do padrão de comportamentos descrito no capítulo 12”.

Uma das alegadas vítimas de Sousa Santos, política Brasileira Isabella Gonçalves, conta ao Diário de Notícias que foi contactada por uma advogada do sociólogo para “chegarem a um acordo”, cujos termos nunca foram debatidos porque a mulher quis “não seguir o contacto”.

Sousa Santos nega estas afirmações, dizendo que tem um advogado em Portugal, que ainda não atuou sobre o caso e não fez qualquer contacto referido.

“As feministas mais novas acham que o homem é o inimigo. E tenho de as compreender como sociólogo, até escrevi um documento de autocrítica, admitindo que cometi erros no passado. Mas nunca fiz aquelas coisas, é absurdo”, indica, dizendo que outro motivo para a ‘vingança’ é o facto de se ter manifestado contra a guerra na Ucrânia. “Havia interesse em calar-me. E de facto calaram-me”, sustenta.

O investigador tem confiança de que “a verdade triunfará” no final, sobre o caso, mas lamenta que não lhe deem espaço público para se defender.

Desde que surgiram as denúncias, Boaventura Sousa Santos tem reagido através de repostas às perguntas de jornalistas e por meio de comunicados, e agora queixa-se que não pode “ir para os jornais” expor a sua defesa.

“Dizem-me: ‘Ok, é a sua posição, as a da mulher prevalece’. Acho que em 90% dos casos estão certos, mas por vezes podem estar errados”, sustenta.

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