Do clima à imigração: Eleitores europeus estão divididos em cinco ‘tribos’ com preocupações distintas, revela sondagem

Se outrora os eleitores europeus estava divididos entre esquerda e direita, pró ou anti-UE, nas eleições europeias deste ano, serão cinco ‘tribos’, cada uma com preocupações próprias e distintas, a dominar o panorama eleitoral.

É o que revela uma sondagem publicada pelo European Council on Foreign Relations (ECFR), que sugere que não só as eleições para o Parlamento Europeu, como outros sufrágios na Europa, serão disputadas pelas atitudes dos eleitores em cinco principais crises que têm afetado as populações nos últimos anos.

São assim as cinco ‘tribos’, mediante as preocupações principais de cada uma com determinadas crises que “afetaram dramaticamente as políticas governamentais, e que ainda não acabaram”: emergência climática, crise migratória, turbulência económica global, guerra na Ucrânia e pandemia da Covid-19 (e outras preocupações de saúde).

O relatório ‘Uma Crise Própria: a Política do Trauma no Ano Eleitoral Europeu’, indica que os principais partidos políticos poderão ter dificuldades em mobilizar os eleitores para as questões do futuro do projeto da União Europeia, e indica que, em vez disso, devem procurar “examinar e propor soluções” que respondam às preocupações mais urgentes dos eleitores.

Em particular, a crise climática e a imigração revelam-se como temas-chave mais mobilizadores das campanhas eleitorais. “Os ativistas climáticos temem a extinção da vida humana e de outras formas de vida; os ativistas anti-imigração temem o desaparecimento das suas nações e da sua identidade cultural”, apontam os autores do estudo, citados pelo The Guardian.

Mas a predominância de cada uma das preocupações entre eleitores varia conforme os países analisados (Grã-Bretanha, Itália, Alemanha, França, Dinamarca e Polónia).

Na Grã-Bretanha, dominam os temas da pandemia da Covid-19 (26%) e das alterações climáticas (22%). Em Itália, é a crise económica global a reunir mais preocupações (34%), seguida da crise climática (21%). Já na Alemanha, 31% dos eleitores destaca como principal questão a imigração. Em França domina o tema das alterações climáticas (27%), enquanto os eleitores dinamarqueses dividem-se entre o mesmo tema (29%) e a invasão da Rússia à Ucrânia (também 29%). Na Polónia, a maior ‘tribo’ é a que tem como principal preocupação a guerra na Ucrânia (31%).

Já em Portugal e Itália, por exemplo, mais de um terço (34%) dos inquiridos manifestou como principal preocupação a crise económica e o aumento do custo de vida.

Recorde-se que, para além das eleições europeias, Portugal, Bélgica, Áustria, Croácia, Lituânia e Reino Unido têm eleições legislativas ou presidenciais este ano.

O inquérito foi realizado em nove Estados-Membros da UE, mais a Grã-Bretanha e a Suíça, sendo que apurou que 73,4 milhões de europeus considerava que a emergência climática era a maior preocupação que tinham com o seu futuro. Número semelhante (72,8 milhões) apontava a Covid-19, e as decorrentes fragilidades dos sistemas de saúde como principal tema.

As preocupações variam, verificaram os investigadores, conforme as faixas etárias: as gerações mais velhas têm tendência a eleger mais como principal tema questões de migração e da guerra na Ucrânia, enquanto as mais novas escolhem mais predominantemente a crise climática, a pandemia da Covid-19 e a crise económica global.

“As eleições europeias não serão apenas uma competição entre esquerda e direita – e eurocéticos e pró-europeus – mas também uma batalha pela supremacia entre as diferentes tribos em crise da Europa”, indicam os autores do estudo.

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