Celebra-se hoje o 90º aniversário da Revolta da Marinha Grande: participantes da contestação a Salazar ‘pagaram’ com anos de prisão

Celebra-se esta quinta-feira o 90º aniversário da Revolta na Marinha Grande: em 1934, centenas de trabalhadores e operários do setor vidreiro saem à rua para protestar a entrada em vigor da Constituição de 1933 e das leis laborais do novo regime, que dissolveram os sindicatos e proibiam expressamente as greves. Foi o primeiro grande choque com António Salazar

Por todo o país, os trabalhadores pretendiam combater a fascização dos sindicatos e convocaram para 18 de janeiro uma greve geral revolucionária que deveria paralisar o país nesse dia, com o objetivo de derrubar o Governo de Salazar. A revolta falhou no país devido à deficiente coordenação entre os diversos núcleos e a desconfiança entre os setores anarco-sindicalistas e as forças ligadas ao Partido Comunista Português – deflagraram várias bombas em Lisboa, em Coimbra e no Barreiro e várias fábricas paralisaram, mas foi ‘curto’.

Mas na Marinha Grande, os contestatários cortaram as estradas de acesso à vila, as linhas telefónicas e o caminho de ferro. A seguir, avançaram para ocupar os correios, a câmara municipal e o posto de GNR, sem qualquer resistência. A vila ficou sob controlo completo dos manifestantes.

No entanto, a revolta estava condenada ao fracasso: sem eco no resto do país, na Marinha Grande os manifestantes não tinham meios para se oporem à polícia e ao exército. Às 9 horas, a vila foi cercada e a revolta foi rapidamente dominada após alguma troca de tiros. Ao meio-dia estava tudo terminado, com as autoridades a ‘caçarem’ os últimos grupos que tinham fugido para os pinhais.

Em que resultou o protesto?

18 de janeiro de 1934 resultou numa implacável repressão das forças policiais e militares do regime. Houve uma vaga de rusgas e prisões que abalou as estruturas sindicais e da oposição política no país.

O número de detidos terá ascendido a 131 pessoas, sendo que 45 revoltosos foram processados e condenados ao desterro pelo Tribunal Militar Especial, com penas entre três e 14 anos de prisão e ao pagamento de pesadas multas.

Dois anos mais tarde, o regime de Salazar inaugurou a prisão do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde – cerca de um terço dos reclusos foram participantes na revolta da Marinha Grande, sendo que alguns acabariam por morrer devido às condições terríveis da prisão.

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