Gaza “será melhor do que o Mónaco” após reconstrução, promete Trump
Numa declaração surpreendente e que está a gerar grande polémica, o ex-presidente dos EUA e atual candidato republicano à presidência, Donald Trump, afirmou que Gaza poderia ser reconstruída de forma a superar o Mónaco, um conhecido refúgio de luxo no Mediterrâneo. As declarações foram feitas na segunda-feira durante uma entrevista ao apresentador conservador de rádio Hugh Hewitt, que perguntou se Gaza, devastada por mais de um ano de ofensivas militares de Israel, poderia ser transformada num lugar semelhante ao Mónaco “se fosse reconstruída da maneira certa”.
“[Gaza] poderá ser melhor do que o Mónaco”, afirmou Trump, acrescentando que a região tem “a melhor localização no Médio Oriente, a melhor água, o melhor de tudo”. No entanto, a comparação foi vista por muitos como irrealista, dada a destruição massiva e as profundas divisões políticas na área.
Trump, ex-promotor imobiliário, continuou a desenvolver a sua ideia, afirmando que já tinha estado em Gaza, embora o jornal The New York Times tenha desmentido essa alegação, afirmando que não há registos de visitas de Trump à Faixa de Gaza, nem enquanto presidente dos EUA, nem como empresário. A campanha de Trump esclareceu que ele estava a referir-se a Israel, país que Trump visitou em 2017, durante a sua presidência, onde também passou pela Cisjordânia. Gaza, que esteve ocupada por Israel durante décadas, não faz parte do território israelita atualmente, após a retirada militar em 2005.
As observações de Trump ecoam comentários semelhantes feitos pelo seu genro e antigo conselheiro na Casa Branca, Jared Kushner, que em fevereiro descreveu a costa de Gaza como uma “propriedade à beira-mar… com grande potencial de valorização”. Kushner foi um dos arquitetos do controverso plano de paz de Trump para o Médio Oriente, que visava um novo acordo entre israelitas e palestinianos, mas que foi amplamente criticado por favorecer os interesses israelitas.
Apesar das declarações otimistas de Trump, a realidade em Gaza é drasticamente diferente. Um ano após o início da ofensiva militar israelita, que incluiu bombardeamentos aéreos e uma invasão terrestre, a Faixa de Gaza encontra-se em grande parte destruída. Segundo as Nações Unidas, cerca de um quarto dos edifícios no enclave costeiro foram completamente arrasados ou gravemente danificados. A reconstrução será uma tarefa hercúlea, com a ONU e o Banco Mundial a estimarem, em abril deste ano, que o custo de restaurar as infraestruturas críticas da região pode ascender a 18,5 mil milhões de dólares.
Além da destruição material, o impacto humano é devastador. Mais de 40.000 palestinianos perderam a vida desde o início do conflito, e aproximadamente 75% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza foram forçados a abandonar as suas casas, sendo agora deslocados internos num território sobrelotado e com poucos recursos. A situação humanitária tem vindo a agravar-se com o bloqueio imposto por Israel e o Egito, que restringe severamente a entrada de bens e pessoas em Gaza, agravando ainda mais a crise.