Pedagogia do desconhecido

Por Cristina Ventura, Presidente do ISEC Lisboa (Instituto Superior de Educação e Ciências de Lisboa)

 

O futuro que hoje se começa a delinear, com pandemias globais e as suas multifacetadas consequências, alterações climáticas e crises ecológica e energética, esgotamento dos recursos naturais, tecnologias disruptivas e mercados de trabalho em profunda revolução, crises de ceticismo na ciência, movimentos migratórios desregulados, são alguns dos desafios globais que enfrentamos com consequências óbvias no crescimento social e económico das sociedades e no pleno usufruto de direitos humanos e democráticos dos seus membros.

Nunca como hoje as expressões como “agentes de mudança” tiveram tanto significado para a academia portuguesa. A tradicional valorização intrínseca da Universidade assente no magister dixit desapareceu e em sua substituição emerge uma nova exigência social que associa o valor e a relevância das instituições de ensino superior (IES) ao modo como elas contribuam com eficácia na construção de soluções para um desenvolvimento sustentável, suportadas no conhecimento e na I&D, e, simultaneamente, promovam competências de cidadania e valores humanos nos seus estudantes.

À universidade atual já não chega formar diplomados técnica e cientificamente preparados. É exigido que incorporem na sua formação toda uma nova gama de competências que o atual mercado procura, de adaptação à mudança, de resiliência, e que capacitem os futuros diplomados para a crescente complexidade e riscos emergentes das sociedades em constantes alterações e mudanças. A par com esta transformação nos seus modelos educativos é ainda exigido que eles incluam questões de promoção de cidadania, promoção da igualdade e equidade, e repúdio a todas as formas de intolerância, xenofobia, racismo, …. A vida e a educação universitárias enriquecem a transição para a idade adulta e têm a missão de alimentar os nossos jovens para que se transformem em membros ativos de uma sociedade mais plural, justa e equitativa.

As constantes revoluções e avanços tecnológicos a que assistimos, a facilidade de acesso e o volume de informação disponível, a transmissão em tempo real de acontecimentos longínquos, a nova perceção da distância, do tempo e do espaço introduzida pela vulgarização do acesso às telecomunicações e suportes do mundo virtual introduzem no nosso quotidiano novas formas de pensar e de viver a realidade.

É, pois, tempo de repensarmos os nossos modelos educativos, os objetivos de formação, os planos e organizações curriculares, as metodologias de ensino-aprendizagens e transformá-los, adequando-os a uma população de jovens que tem hoje outras expetativas e aspirações e que chega às nossas Universidades com pleno domínio das novas tecnologias e com toda a informação disponível no telemóvel que transporta no bolso!

Verifica-se como absolutamente urgente que se atente à diversidade dos jovens (e dos menos jovens) que hoje acedem ao ensino superior. O ensino de massas, igual para todos (mas muito pouco igualitário), maioritariamente assente em métodos expositivos, ainda que com alguns aparentes resquícios de modernidade, é inadequado, promove o desinteresse ou mesmo o abandono dos que o procuram, mas, sobretudo, não responde às necessidades das sociedades contemporâneas.

Hoje, na formação universitária ou politécnica, o (auto) processo da construção individual do conhecimento é tão (ou mesmo mais) relevante como a própria aquisição do conhecimento do (jovem) estudante.

É, pois, imperioso que as IES consigam, elas próprias, a sua mudança: passar de “ensinar o que já se conhece” para “saber apre(e)nder o desconhecido”.

Desenvolver nos nossos estudantes o pensamento critico, a capacidade de resolução da complexidade, a criatividade, a comunicação, o trabalho colaborativo, a resiliência e perseverança, a capacidade de adaptação à mudança, a par com os valores de cidadania, são os principais desafios que se colocam às Instituições de Ensino Superior. Aquelas que o conseguirem, garantem aos seus estudantes maior e melhor preparação para futuras carreiras de sucesso emolduradas por uma maior realização pessoal.

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