Tem sido difícil para as empresas saírem da Rússia. E há três fortes motivos que o justificam

É difícil romper com a Rússia.

Mais de um ano depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, apenas 520 empresas saíram do país, segundo divulgou um estudo da Universidade de Yale, nos Estados Unidos – isto apesar, segundo o ‘Insider’, de mil empresas terem anunciado publicamente que estavam, de forma voluntária, a reduzir as suas operações apenas dois meses após o início do conflito.

Não é por falta de tentativa: há mais de duas mil empresas à procura de aprovação para sair do mercado russo, noticiou o ‘Financial Times’. Mas as autoridades russas não facilitam o processo: o responsável que lida com os pedidos de aprovação reúne-se apenas três vezes por mês e somente considera até sete pedidos de cada vez, prolongando assim o processo de saída.

Há três motivos para o lento ‘abandonar’ da Rússia.

As empresas têm tentado sair da Rússia de forma ordenada

Muitas empresas foram rápidas a anunciar a intenção de deixar o mercado russo. Enquanto algumas grandes marcas, como McDonald’s e Starbucks, saíram totalmente do país, outras estão a adotar uma estratégia lenta e ordenada para a sua estratégia de saída. “Traduzir as decisões da direção em ações no local leva tempo”, realçou Hassan Malik, analista sénior da Loomis Sayles, de Boston (Estados Unidos).

Há empresas que citaram obrigações para com os seus funcionários para decidir ficar ou sair. “Os nossos colegas na Rússia, sem culpa, suportaram meses de stress e incerteza”, lembou Arvind Krishna, CEO da IBM – uma das primeiras empresas a sair do mercado – em um comunicado. “Não achamos certo abandonar o nosso povo na Rússia”, justificou a gigante britânica de consumo Unilever.

Também há preocupações sobre o que aconteceria com as empresas se simplesmente fechassem as suas operações na Rússia. “Está claro que, se abandonássemos os nossos negócios e marcas no país, estas seriam apropriadas e depois operadas pelo Estado russo”, justificou a Unilever.

Vender o negócio também não é uma boa opção. “Até ao momento, não conseguimos encontrar uma solução que evite que o Estado russo obtenha mais benefícios”, apontou a multinacional.

Kremlin criou programas para manter a economia a funcionar

O Governo russo tornou desafiador para as empresas saírem depois das sanções ocidentais. Por exemplo, os investidores que desejam vender os seus negócios e são de “países hostis” devem doar pelo menos 10% das receitas da venda para o orçamento russo, segundo anunciou o Ministério das Finanças da Rússia. Essa ‘doação’ soma-se a um corte de 50% da avaliação patrimonial durante a venda dos ativos.

Estes são obstáculos adicionais à obtenção de aprovações estatais antes que as empresas possam sair da Rússia, assim como uma pressão implícita sobre os empregadores para preservar os empregos – uma tática, segundo Malik, usada pelo regime de Putin ao longo dos anos.

Ou seja, quem desejar sair da Rússia é pressionado a encontrar compradores para as suas operações no país que continuariam a administrar os negócios mas sob uma marca diferente. O McDonald’s, por exemplo, vendeu o seu negócio para uma empresa russa – no acordo, ficou estabelecido que o comprador era obrigado a empregar e pagar a todos os funcionários da gigante de fast-food durante dois anos.

As medidas, assim como a crise de mão de obra devido à ampla mobilização de homens por Putin, mantiveram a taxa de desemprego baixa e a economia russa mostrou-se resiliente ao final do primeiro ano da invasão. Mas isso pode estar a terminar, segundo revelou o oligarca do setor do alumínio, Oleg Deripaska, no Fórum Económico de Krasnoyarsk, na Sibéria, que garantiu que a Rússia “precisa de investidores estrangeiros” porque os fundos estão a acabar. “Não haverá dinheiro já no próximo ano”, revelou.

Multinacionais enfrentam desafios operacionais nas suas saídas

Muitas das empresas que operam na Rússia são multinacionais, pelo que o fecho de operações no país pode ter um efeito dominó nos seus negócios em outros lugares, considerou Saul Estrein, professor da London School of Economics, e Klaus E. Meyer, professor da Ivey Business School. Como as empresas são integradas globalmente, as suas operações em todo o mundo podem ser afetadas se uma subsidiária num local for fechada.

“Essa interdependência pode ser pequena quando a subsidiária tem apenas uma função de vendas e serviços”, apontaram, dando o exemplo da McDonald’s e Starbucks. “Mas, a interdependência é alta e perturbadora para a organização controladora quando a subsidiária é responsável pela aquisição de matérias-primas críticas ou produtos intermediários que a empresa controladora pode não conseguir obter facilmente noutro lugar.”

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