Será que Musk está mesmo a prejudicar a Tesla? Valor de mercado da empresa cai 70%

As ações da Tesla têm vindo a cair sucessivamente nos últimos anos, porém, nada tão grave como desde o momento da compra do Twitter pelo atual CEO de ambas as empresas, Elon Musk.

De acordo com a ‘Bloomberg’, desde o início de 2022 o valor de mercado da empresa caiu mais de 70%, para 340 mil milhões de dólares (320 mil milhões de euros), um valor que não a tira do topo do pódio dos fabricantes de automóveis mais valiosos do mundo. A Ford Motor, a General Motors , a Stellantis e a Toyota Motor valem aproximadamente a mesma quantia todas juntas.

Contudo, apesar desta situação, a Tesla conseguiu o feito extraordinário de desvalorizar o dobro do valor equivalente a quatro grandes fabricantes automóveis, tendo Elon Musk conseguido simultaneamente ser a primeira pessoa na história a perder 200 mil milhões de dólares.

A explicação mais óbvia é que a Tesla é vitima da grande especulação do mercado de ações que impulsionou este tipo de empresas em 2020 e 2021, mas que as abandonou em 2022, quando as taxas de juros subiram e o mercado de ações caiu em geral. Musk apontou para essa dinâmica numa publicação no Twitter, em meados de dezembro. Na altura, terá dito que quando as pessoas podem ganhar taxas mais altas sem risco, elas tendem a transferir o seu capital “de ações para dinheiro”.

No entanto, o declínio da Tesla é notável mesmo entre as ações de tecnologia. Em 2022, as ações tiveram o pior desempenho no NYSE FANG+ Index (um indicador de 10 grandes empresas de tecnologia que inclui a Amazon, a Apple e a Meta). O índice caiu cerca de 40% em relação ao ano passado, o que ainda é muito menor que a queda da Tesla. As ações da empresa foram amplamente negociadas em linha com outras grandes ações de tecnologia no ano passado até cerca de setembro, tendo então começado a divergir acentuadamente. Nos últimos três meses, a Tesla caiu 59%, em comparação com uma perda de 6,7% das FANG+ e um aumento de 6,7% do S&P 500.

A restante explicação prende-se com o facto de Mark Stoeckle, CEO da Adams Funds, que detém ações da Tesla, considerar a empresa “um cocktail de miséria”, relacionado com a liderança de Musk e as suas más decisões.

A liderança tem sido também cheia de escândalos, mesmo antes do Twitter ter mudado de mãos.

O primeiro dano feito na Tesla aconteceu em novembro de 2021, quando o CEO fez uma publicação no Twitter em que perguntava se devia vender 10% da sua participação na Tesla, algo a que os utilizadores responderam que sim. Em dois meses, Musk vendeu 16 mil milhões em ações da Tesla, acabando o cenário por piorar em 2022, depois de anunciar a sua intenção de adquirir o Twitter.

Depois de tentar evitar o acordo, teve finalmente que avançar com o mesmo. Durante todo este tempo, os investidores da Tesla manifestaram preocupações relacionadas com a necessidade de financiar a compra do Twitter com a participação de Musk na Tesla. Outra preocupação prendia-se com a distração do CEO com este negócio paralelo.

Musk já vendeu quase 40 mil milhões de dólares (37,7 mil milhões de euros) em ações da Tesla desde o final de 2021, embora tenha dito recentemente que não tem planos de vender mais ações no futuro próximo.

Ao mesmo tempo, provocou inúmeras controvérsias sociais e políticas desde que assumiu o Twitter, com as suas próprias publicações e mudanças repentinas nas políticas de moderação. Este espetáculo mediático a acontecer em paralelo é importante porque a personalidade de Musk está intimamente associada à Tesla, e cada uma das suas atitudes pode provocar danos financeiros e reputacionais na empresa.

Sublinha-se que a acrescentar a esta situação, a empresa foi vítima de um alto nível de expectativas, tendo em conta que as ações subiram mais de 1.100% em 2020 e 2021.

Os economistas alertam para uma possível recessão global em 2023. Enquanto isso, a alta inflação no ano passado e o aumento do custo de financiamento de um carro estão a levar os consumidores a adiar planos de compra de veículos caros, e os carros elétricos costumam ser mais caros do que os movidos a combustíveis fósseis.

A Tesla raramente oferece descontos, mas recentemente ofereceu aos clientes nos EUA um desconto de fim de ano de 7.500 dólares para aumentar as entregas. Também cortou preços e produção na China.

A ‘Bloomberg’ sublinha que a história da Tesla no mercado de ações tem sido vítima da psicologia do mercado. Entre os grandes players relacionados com a tecnologia, a Tesla está neste momento num percurso semelhante à Meta, que caiu 64% no ano passado. Ambas as empresas enfrentam problemas específicos. No caso da Meta, estes incluem a queda na receita das redes sociais e o foco do CEO Mark Zuckerberg no metaverso, mas também um forte ceticismo geral entre os investidores.

Musk atinge novo recorde: Primeira pessoa na história a perder 200 mil milhões de dólares

Ler Mais