“Sangue e vingança”: Porque é que as autoridades russas divulgaram imagens explícitas da tortura dos suspeitos de terrorismo em Moscovo?

Após o recente ataque terrorista no Crocus City Hall em Moscovo, que fez pelo menos 140 vítimas mortais, quatro cidadãos do Tajiquistão foram detidos e submetidos a interrogatórios violentos e tortura, um incidente que marca um grave precedente nas práticas de segurança russas, até porque as imagens dos atos violentos foram divulgadas.

Segundo informações obtidas pelo jornal russo Verstka, fontes dos meios de comunicação estatais russos revelaram que foram instruídas a enfatizar a severidade com que os suspeitos foram tratados, com o intuito de responder a um suposto desejo do público russo de ver “sangue e vingança”. Esta ordem reflete uma abordagem alarmante por parte das autoridades, utilizando os meios internos próprios para amplificar e justificar atos de violência contra suspeitos.

Imagens chocantes dos interrogatórios, que rapidamente se tornaram virais, começaram a circular em canais do Telegram associados aos serviços de segurança russos. Dois vídeos em particular ganharam destaque, um mostrando Saidakrami Rachabalizoda a ter uma orelha cortada e a ser forçado a comê-la, e outro que exibe Shamsidin Fariduni a ser eletrocutado. Estes conteúdos brutais foram amplamente partilhados e já acumulam centenas de milhares de visualizações, assinala o jornal russo independente Meduza.

Ao serem apresentados em tribunal, os quatro suspeitos exibiam claros sinais de agressão física. Muhammadsobir Fayzov, um dos detidos, foi trazido para a sala de audiências numa cadeira de rodas, apresentando-se em estado quase inconsciente, evidenciando a brutalidade a que foi submetido.

Fontes das autoridades de segurança, em conversa com o Verstka, confirmaram que a divulgação dos vídeos de tortura foi intencional e autorizada. Um agente envolvido na investigação justificou a violência, afirmando: “Queimaduras e uma orelha cortada são apenas o início. O próximo passo será cortar dedos, um por um. Trata-se de uma medida preventiva”. Outro agente corroborou, alegando que a população russa exige “sangue e vingança”.

Apesar da gravidade das imagens e das reações do público, as respostas oficiais das autoridades russas têm sido ambíguas. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, optou por não comentar diretamente os vídeos, enquanto o presidente do Conselho de Segurança, Dmitry Medvedev, foi explícito ao declarar que “serão eliminados todos os envolvidos no ataque terrorista”.

No entanto, críticas e preocupações emergem até mesmo entre as fileiras do governo. Um deputado da Duma Estatal, e membro do partido no poder, expressou sob anonimato inquietação com a divulgação e disseminação dos vídeos violentos, sugerindo que estas ações poderiam ter o efeito contrário ao desejado, aumentando o clamor público por medidas ainda mais severas.

Para complicar ainda mais o cenário, uma fonte próxima do Kremlin assegurou que as autoridades federais não deram autorização para a publicação dos vídeos de interrogatórios violentos, insinuando que esta decisão possa ter sido um caso isolado, mas preocupante.

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