Como será a próxima pandemia? A probabilidade de estar relacionada com vírus respiratórios “é de 100%, resta saber quando”

No mundo atual, a busca pela próxima pandemia ou doença tornou-se um tema recorrente em discussões científicas e cinematográficas. Antes da chegada da Covid-19, muitas produções imaginavam os cenários mais sombrios diante da possibilidade de um novo vírus mortal. No entanto, a realidade superou a ficção em 2020, quando o mundo foi assolado por uma pandemia que afetou todos os cantos do planeta. Agora, os especialistas estão em uma corrida contra o tempo para identificar e conter os agentes patogénicos que podem representar a próxima grande ameaça à saúde global. E segundo especialistas, tudo indica que se tratará de patógenos que afetam as vias respiratórias.

Entre os vírus que estão sob vigilância constante, a gripe ocupa um lugar de destaque. O surgimento de novas estirpes da gripe aviária e suína tem preocupado os especialistas, que alertam para o potencial pandémico destes vírus. Adolfo García-Sastre, famoso virólogo do Instituto de Saúde Global e Patógenos Emergentes em Nova York, enfatiza em entrevista ao El Mundo que “quanto mais diversidade e quantidade de vírus circulantes existirem, maior será o risco para a saúde pública”.

Esta preocupação é compartilhada por Colin Russell, do Departamento de Microbiologia Médica da Universidade de Amsterdão, que destaca a diversidade dos vírus da gripe aviária e suína como uma ameaça real. “A probabilidade de uma futura pandemia vir de um vírus respiratório é de 100%, resta saber qual o horizonte temporal”, indica.

Um estudo recente, publicado na revista Travel Medicine and Infectious Disease, revelou que o vírus da gripe (influenza) é considerada o principal patógeno de preocupação com potencial pandémico por mais da metade dos especialistas mundiais em doenças infeciosas. Jon Salmanton-García, investigador da Universidade de Colónia, destaca que “a influenza, juntamente com a doença X [ainda desconhecida], o SARS-CoV-2, o SARS-CoV e o vírus do Ebola são os patógenos mais preocupantes em termos de seu potencial pandêmico”.

Além da gripe, outros vírus também estão no radar dos especialistas, incluindo o vírus da febre hemorrágica de Crimeia-Congo, o Zika, o Ebola e o MERS-CoV. A rápida disseminação destes vírus e a sua capacidade de causar surtos epidémicos preocupam as autoridades de saúde em todo o mundo.

Em relação à gripe, o professor Raúl Ortiz de Lejarazu, diretor emérito do Centro Nacional de Gripe de Valladolid, destaca sua capacidade de variabilidade genética, afirmando que “os vírus de gripe junto com o VIH são os que mais capacidade de variabilidade genética têm”. O especialista compara a velocidade de mutação dos vírus da gripe ou do VIH com a do SARS-CoV-2, dizendo que “a velocidade de mutação de vírus de gripe ou do VIH é a de um Ferrari e a do SARS-CoV-2 a de um utilitário”.

Mark Woolhouse, catedrático de Epidemiologia de Enfermidades Infeciosas na Universidade de Edimburgo e assessor científico dos governos do Reino Unido e da Escócia, destaca que a próxima pandemia pode surgir de um vírus estritamente zoonótico, como a gripe aviária, ou de um completamente novo. Ele explica que “não podemos evitar a próxima pandemia, mas podemos detetá-la mais rapidamente, o que nos permitiria contê-la ou mesmo detê-la, como fizemos com o vírus SARS original”.

Os especialistas são unânimes em concordar que a deteção precoce de qualquer sinal de mutação ou adaptação desses vírus é crucial para conter a propagação e evitar uma crise global semelhante à da Covid-19.

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