Resiliência e adaptação

Numa altura em que as empresas controlam mais o budget destinado à formação, as escolas de negócio enfrentam vários desafios em contexto de pandemia: procurar manter o formato presencial, adaptar programas às necessidades mais imediatas dos clientes e garantir a segurança de todos.

As instituições de ensino presentes no pequeno-almoço debate da Executive Digest são unânimes quanto aos programas de formação de executivos no actual contexto em que vivemos: há muitos desafios pela frente e é preciso ter um optimismo moderado.

Pedro Brito (associate dean for Executive Education & Business Transformation na Nova SBE), Diogo Lopes Pereira (director de Marketing da Católica Lisbon), Tiago Guerra (director do Técnico+ do IST), Catarina Paiva (directora do ISEG Executive Education), Nádia Leitão e Rui Vinhas da Silva (head of Special Projects and Alumni Relations e Membro da Comissão Executiva do ISCTE Executive Education), Pedro Mendes (dean do IPAM Lisboa), Ferrão Filipe (vice-reitor da Universidade Portucalense), Ana Côrte-Real (associate dean da Católica Porto Busines School), Rui Coutinho (Executive Director for Innovation and Growth da Porto Business School) e Maria José Amich (directora executiva do The Lisbon MBA) foram os especialistas presentes na última conversa sobre o ensino de executivos.

DESAFIOS

«Temos algumas empresas bastante receosas, mas a quererem começar os programas presenciais em Outubro. Fizemos sugestões de blended mas elas preferem maioritariamente os programas presenciais», assim se inicia a conversa com algumas das principais instituições da área em Portugal. Houve, contudo, uma procura online do ponto de vista nas temáticas que eram críticas no momento – trabalho remoto e liderança virtual – e nas grandes empresas, sobretudo as que têm executivos e colaboradores espalhados pelo mundo, ainda existe uma procura pela formação online assíncrona que possa escalar facilmente e rapidamente.

«É algo tailor. Nem é open nem custom. A nossa perspectiva é que as empresas estão a controlar o budget de formação. Sentimos isso todos os dias. Mas não estão a querer deixar de o fazer, mas sim optar por outras formas», diz um A constrangimentos por parte das empresas e dos executivos – e a pandemia foi um acelerador muito grande – é fundamental continuar a ter o formato presencial porque a questão do networking continuará a ser muito valorizada.

Depois, é preciso estabelecer um equilíbrio em termos de oferta e portefólio. «Há uns anos, as escolas e universidades tinham a missão do saber-saber (formar as pessoas a saber pensar conceitos, a transmitir conhecimento); a seguir passámos para uma segunda fase que era o saber-fazer (ter portefólio e formação muito ligado a temas mais instrumentais, sobre como é que as pessoas analisam dados, formação em data science, analytics, entre outros); agora estamos a entrar numa terceira fase que é o saber-ser (ensinar os executivos, gestores e empresas a procurar o seu Propósito», sublinha outra das especialistas presentes neste pequeno-almoço debate.

Segundo os especialistas, as empresas querem pensar numa lógica de sustentabilidade a médio e longo prazo. Ou seja, querem ver respondidas questões sobre como é que num ambiente tão volátil e dinâmico se faz a gestão de equipas remotas, se cria cenários alternativos e novos modelos de negócio. As companhias privilegiam no actual contexto que os gestores ganhem competências em liderança de equipas quando estão online, saber motivá-las e até ensiná-las. «São cursos muitos virados para aquilo que são as novas competências e necessidades associadas às novas profissões. Notamos procura por cursos estruturantes e transformacionais que possam ser ministrados de forma mais curta, intensa e que possam ter uma característica mais técnica e profissionalizante», acrescenta outro dos intervenientes.

INOVAÇÃO

«O que eu sinto é que o contexto actual acabou por acelerar muito a inovação nas escolas. Primeiro, a adaptação a esta nova realidade sanitária. Mais do que a responsabilidade de termos somente condições de segurança e confiança, as escolas têm uma responsabilidade muito grande de dar o exemplo e, por vezes, não é fácil porque acarreta uma responsabilidade acrescida do ponto de vista da reputação. Também se sente que existe aceleração na criação de novas soluções que façam sentido para o contexto actual, quer do ponto de vista de conteúdo e de formato.

O próprio corpo docente assistiu a uma aceleração grande na forma como tem abordado os desafios. Inovação e rapidez é o que tenho assistido por parte das escolas para responderem ao mercado, o que é espetacular. Do lado das empresas tenho uma visão menos optimista do que normalmente tenho», explica um dos especialistas. Na mesma linha, um outro interveniente acrescenta que o negócio da educação, de cursos tailor made para empresas, «é provável que sofra bastante.

É provável que haja muita procura individual de pessoas que se queiram valorizar, mas existe uma grande incerteza em saber como vamos terminar o ano. Mas as universidades são muito resilientes e adaptam-se facilmente». MBA Apesar do optimismo moderado por parte de todos os intervenientes é também consensual que o investimento feito por particulares está a aumentar. Neste sentido, o MBA ganha especial relevância. «Portugal continua a ter uma boa imagem, melhor do que a dos outros países, e o facto do campus ser COVID Free (à semelhança das instituições presentes neste encontro promovido pela Executive Digest) tem dado confiança aos alunos. Todas as aulas serão face-to-face, mas também em streaming, caso seja necessário para alguns estudantes», revela uma das especialistas.

Neste âmbito, um dos temas mais trabalhados é o tema da liderança e, portanto, é fundamental enfatizar e intensificar todos os programas de capacitação de liderança, em áreas com a resiliência, empatia, capacidade de mobilizar equipas e de fazer a transformação contínua das organizações. «As empresas procuram que os seus gestores passem a ser líderes que trabalhem em ambiente de constante mudança e de disrupção tecnológica», explicam os participantes. Tradicionalmente, o negócio dos MBA é um negócio em contra- -ciclo. Ou seja, quando existem períodos de crise económica, as pessoas sentem necessidade de sair da sua zona de conforto e procuram a sua valorização profissional. De acordo com os especialistas, se olharmos para a História percebemos que 2012 (ano pico da troika) foi um dos melhores anos de sempre dos MBA, registando-se o facto de o MBA deixar de ser um negócio B2B para ser um negócio B2C.

Ainda assim, e apesar da tendência, um dos participantes faz a seguinte ressalva: «Há muita gente que entrevistei e que me pede para esperar mais um ano para fazer porque tem algum receio que se tenha de voltar outra vez para o online. E valoriza-se mais o presencial quando o investimento é grande.» Tanto os MBA como as formações de executivos estão relacionados com a aposta na formação pessoal ou até quem está em fase de desemprego e deseja preparar-se melhor para o mercado do trabalho.

Neste pequeno-almoço debate organizado pela Executive Digest houve quem lembrasse as várias crises financeiras dos últimos anos, no entanto, a variável Saúde acaba por ser um dado novo para o qual ninguém estava preparado. E isso tem constituído um grande desafio não só para as empresas, mas também para as instituições de ensino, que tiveram de adaptar salas, equipamento e restante logística para receber os alunos, professores e outros funcionários da forma mais segura possível. «Quem souber adaptar- -se nestas fases de crise, quando vier a retoma, sairá sempre beneficiado», concluem.

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