O reskilling deve ser uma prioridade para as empresas

Por Fernando Braz, Country Leader da Salesforce Portugal

Embora a pandemia de Covid-19 tenha acelerado a transformação digital de empresas e setores, a verdade é que também resultou no aumento da já existente lacuna a nível de competências e outras desigualdades. Enquanto as empresas procuram recuperar e as economias enfrentam níveis crescentes de desemprego, é agora o momento certo para se investir nas pessoas.

A pandemia afetou desproporcionalmente as mulheres e grupos minoritários – de acordo com a McKinsey, as taxas de perda de empregos no género feminino têm sido cerca de 1,8 vezes maiores do que as taxas de perda de empregos de homens, em todo o mundo – sendo que a indústria de tecnologia, em particular, tem a responsabilidade de aumentar a sua representação e implementar acordos de trabalho mais flexíveis.

Preencher essas lacunas não é importante apenas para colocar as pessoas em empregos significativos nos dias de hoje, mas também para garantir que todos possam fazer parte da economia digital de amanhã. À medida que empresas e governos emergem da pandemia, aqui ficam três razões pelas quais o reskilling deve então ser uma prioridade.

As novas tecnologias estão a alterar a natureza dos empregos

À medida que a pandemia evoluiu, também a procura por parte dos clientes e os serviços que as empresas oferecem mudaram. Num mundo onde as empresas são cada vez mais analisadas pela forma como proporcionam uma experiência do cliente de qualidade, as tecnologias como a inteligência artificial (IA) e a automação são um imperativo. A IDC prevê que os gastos globais com Inteligência Artificial dupliquem nos próximos quatro anos – chegando a 110 mil milhões de dólares em 2024 (de 50 mil milhões em 2020).

Embora a combinação entre a pandemia e os rápidos avanços tecnológicos possa diminuir a procura por determinados empregos orientados para tarefas mecânicas, a verdade é que muitos empregos serão totalmente transformados. Cada vez mais profissões em áreas como o marketing, por exemplo, contam com inteligência artificial para entregar campanhas de sucesso. O potencial do cloud computing, engenharia de software, dados e IA para complementar os empregos existentes e criar novas funções, produtos e serviços é enorme. Com as capacidades certas, as empresas podem preparar os seus colaboradores para o sucesso.

Dar resposta a incompatibilidades de competências para uma economia mais inclusiva

Mesmo antes da pandemia, o impacto da transformação digital nos espaços cívicos e no mundo do trabalho resultou numa grande desconexão entre os sistemas de educação e as necessidades das economias e sociedades globais . Cada vez mais as competências digitais estão a tornar-se tão importantes como a capacidade para saber ler e escrever.

Embora as instituições de ensino tenham incentivado a construção de carreiras nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), existe ainda alguma falta de compreensão em como as carreiras digitais podem ser acessíveis. Trabalhando juntos, sistemas educativos, governos e empresas podem proporcionar conhecimento, formação e capacidades para quebrar as barreiras à participação na economia digital, entrar na indústria de tecnologia e garantir que ninguém é deixado para trás pelos avanços tecnológicos que continuarão por muito tempo após a pandemia.

As empresas devem fomentar uma cultura de aprendizagem contínua

As empresas não têm apenas a responsabilidade de dar oportunidades para as comunidades se reciclarem e fazerem a transição para os empregos do futuro. Mas é, sim, cada vez mais do seu interesse fazê-lo. Da mesma forma que a Quarta Revolução Industrial exige que fechemos as lacunas existentes em termos de capacidades, o mundo do trabalho remoto no qual vivemos agora exige que invistamos mais nas capacidades pessoais – para resolver problemas complexos, desafiar o status quo e gerar um sentido de propósito comum entre as equipas remotas.

Para promover a representação, e o potencial das mulheres e dos grupos minoritários em particular, devemos considerar todo o ciclo de vida do colaborador, desde como atraímos e recrutamos talentos até à forma como investimos no seu desenvolvimento. Só então podemos construir um local de trabalho que reflita verdadeiramente a sociedade em que vivemos.

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