EDP inaugura a sua maior central fotovoltaica na Europa

A produzir energia desde o final do ano passado, a central fotovoltaica da Cerca, em Alenquer, foi, formalmente, inaugurada pela EDP em Março deste ano. Com uma capacidade instalada de 202 megawatts-pico (MWp) que aumenta para 540 MWp a capacidade solar em Portugal, este projecto tornou-se no maior parque solar da empresa na Europa e o segundo a nível mundial.

Situada nos concelhos de Alenquer e Azambuja, esta central fotovoltaica, com mais de 200 hectares, conta com mais de 310 mil painéis solares bifaciais, que absorvem energia solar de ambos os lados, maximizando a conversão para electricidade renovável.

Com a inauguração da central da Cerca, a companhia energética coloca em operação a capacidade renovável atribuída à EDP Renováveis no primeiro leilão de energia solar feito em Portugal, em 2019. «A empresa tem o objectivo de reduzir os custos de energia para as famílias e acelerar a transição energética para o futuro», começa por referir Duarte Bello, administrador da EDP Renováveis para Europa e América Latina, junto às instalações.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Com uma produção anual estimada de 330 gigawatt-hora (GWh), esta central vai produzir electricidade renovável suficiente para abastecer cerca de 100 mil famílias ou cerca de 2,5% da população nacional. «Se fizéssemos 100 parques destes, conseguiríamos abastecer Portugal inteiro. Só com este parque, conseguimos teoricamente abastecer as vilas e regiões à volta de Alenquer», explica.

Deste modo, a produção de electricidade a partir dos parques de energia solar permite à empresa evitar a emissão de 170 toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano, o equivalente à pegada ambiental de mil milhões de quilómetros percorridos por um carro com motor a combustão. A empresa assume a ambição de só produzir energia a partir de fontes renováveis até 2030 e de alcançar a neutralidade carbónica até 2040 e revela que, só em 2023, «já conseguiu 90% de geração renovável».

A central solar da Cerca faz parte da estratégia de investimento global da EDP, que está fixada nos três mil milhões de euros por ano. Para os próximos três anos, só em Portugal, está previsto um investimento de 850 milhões de euros em projectos de transição energética. «Temos sido pioneiros. Não somos os primeiros por acaso, somos devido ao nosso trabalho. Do leilão de 2019, este é o primeiro projecto com alguma dimensão a ser colocado em prática», revela Duarte Bello.

Comprometida com as metas de descarbonização em Portugal, a companhia energética inaugurou recentemente o segundo projecto híbrido a combinar energia eólica e solar do país, em Penela e Ansião, nos concelhos de Coimbra e Leiria, adicionando a central solar de Monte de Vez ao Parque Eólico São João, que já estava em operação desde 2008. Desta forma, a EDP duplicou, praticamente, a capacidade para fornecer electricidade renovável ao mesmo ponto de ligação da rede eléctrica nacional.

IMPACTO EM ALENQUER

Em relação aos riscos ambientais após a instalação da central fotovoltaica de Cerca, em Alenquer, o administrador da EDP Renováveis garante que foi feito um trabalho de antecipação para limitar ou mitigar o impacto ambiental. «Tivemos todo o cuidado. A escolha dos terrenos também foi uma escolha já pensada para minimizar o impacto. Os terrenos foram todos arrendados e essa opção deve-se ao facto de querermos ter o mínimo impacto ambiental possível», realça Duarte Bello.

Ainda sobre a questão ambiental, «a EDP mandou plantar 9000 árvores na região onde foi instalada a nova central fotovoltaica, com o objectivo de ter um impacto ambiental positivo». Além disso, o responsável assegura que foram cumpridos todos os critérios exigidos para a criação deste parque solar, lembrando também os benefícios para a população da região, que viu as áreas de menor produtividade agrícola serem arrendadas. «Para as pessoas que vivem nesta região, não queremos que olhem para nós como um problema, mas, sim, como uma oportunidade para poderem ter uma rentabilidade adicional», salienta.

Em relações às iniciativas de responsabilidade social para as comunidades locais, a EDP destaca que foram criadas iniciativas conjuntas com as Câmaras Municipais de Alenquer e Azambuja. «Estes projectos estiveram relacionados com alguns apoios à educação, nomeadamente em relação ao tema das energias renováveis nas escolas e algumas parcerias com equipamentos sociais», evidencia a empresa.

Já sobre o impacto económico deste novo projecto, Duarte Bello considera que há agora mais margem para oferecer preços mais competitivos para as famílias. «Este projecto consegue acrescentar, pelas nossas estimativas, mais 70 milhões de euros para a tarifa. Conseguimos, assim, contribuir para a descarbonização e transição energética em Portugal; para a redução dos custos de energia; e para rentabilização do investimento», reforça.

AMBIÇÃO E PLANOS FUTUROS

Há quatro ou cinco anos, a EDP era classificada como uma empresa essencialmente de energia eólica. Contudo, tem vindo a apostar, cada vez mais, no desenvolvimento de projectos solares a nível global, de larga escala, sem esquecer as pequenas centrais de energia solar descentralizada.

Até ao ano passado, o administrador da EDP Renováveis revela que foram construídas instalações com capacidade para 1,7 gigawatts-pico (GWp) de energia solar. E para os próximos dois anos, até 2026, garante que «metade do investimento da EDP a nível global será feito em projectos solares de larga escala». A empresa tem, actualmente, 4,3 GWp de capacidade solar instalada, com destaque para os projectos de larga escala de Pereira Barreto (203 MWp), no Brasil, Los Cuervos (200 MWp), no México, ou Xuan Thien (199 MWp), no Vietname.

Face aos vários mercados em que a EDP opera, há claramente uma aposta maior na energia solar, sobretudo «devido à diminuição drástica dos custos nos últimos anos», revela. Fruto desta situação, «a competitividade da energia solar tem aumentado e atingido os níveis da eólica».

Dentro de portas, entre o desenvolvimento de projectos híbridos e novas instalações eólicas e solares, a EDP pretende colocar em operação mais 1 GW de energia renovável em solo nacional até 2026. Já sobre o papel que Portugal pode ter para o crescimento da energia solar, o profissional lembra que o país tem sido líder na transição energética e nas energias renováveis.

«Portugal tem uma fatia de geração renovável muito maior do que a média da maior parte dos países europeus. Estamos inseridos numa zona da Península Ibérica que tem características ímpares quer na energia solar quer na energia eólica. Portanto, vamos ser um modelo a seguir, porque vamos atingir as metas primeiros do que os outros países», acrescenta.

DESAFIOS E LIGAÇÃO À REDE

De acordo com o responsável, a principal restrição para a criação de novos projectos está relacionada com as limitações da ligação à rede. «A limitação da ligação à rede eléctrica é que tem desacelerado, de alguma forma, o desenvolvimento de novos projectos. Às vezes não existe ligação ou aquela que existe, noutras situações, é muito cara e demora muito tempo», lamenta.

Referindo-se ao caso particular da central fotovoltaica de Cerca, o profissional afirma que que se trata de um exemplo perfeito de superação de obstáculos. «Este projecto foi pensado antes da pandemia de COVID-19 e passou pelas várias crises dos últimos três anos, desde o coronavírus, passando pelos problemas na cadeia de fornecimento, até ao impacto da guerra na Ucrânia », recorda.

Ainda assim, a companhia energética foi capaz de ultrapassar todos os obstáculos, ao mesmo tempo em que conseguiu criar «um sentimento de grande orgulho no grupo de trabalho, pela criação de uma instalação com esta dimensão e sucesso». Por último, questionado sobre os problemas inerentes à cadeia de fornecimento, deixa claro que está «assegurada toda a cadeia de valor para os projectos a curto prazo».

Mesmo perante os desafios da ligação à rede eléctrica e na cadeia de fornecimento, a EDP mostra ter resiliência e um planeamento estratégico para garantir o sucesso dos seus projectos, sobretudo «após realizar uma avaliação com um período de antecedência entre nove a 12 meses». Duarte Bello realça ainda que a central fotovoltaica da Cerca não só representa um avanço significativo na produção de energia renovável, como também está enquadrada na estratégia global da EDP para um futuro mais sustentável.

Este artigo faz parte da edição de Abril (n.º 217) da Executive Digest.

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