“Nego profundamente”: Ana Jorge recusa acusações do Governo de ter tirado benefício próprio da Santa Casa

Ana Jorge, ex-provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), negou veementemente as acusações feitas pela ministra do Trabalho e da Segurança Social, Maria do Rosário Ramalho, transmitidas na RTP na última noite, em que acusou a responsável de não ter feito “nada” e de ter tirado benefício próprio da instituição durante o mandato.

“Nego profundamente essa declaração e é preciso justificar qual é o benefício próprio”, afirmou Ana Jorge, citada pela Renascença.

“Conseguimos manter toda a atividade, fizemos grandes reorganizações internas. Portanto, terei oportunidade, de hoje a oito dias, de explicar e de levar dados e informação detalhada sobre tudo aquilo que a Mesa da Santa Casa fez.

Segundo a provedora exonerada, a administração tentou manter todas as atividades, conseguiu ter uma execução orçamental positiva, e “tentou encontrar soluções para os trabalhadores, melhorando principalmente aqueles que têm ordenados mais baixos”.

Ainda sobre as críticas da ministra em relação aos salários, Ana Jorge explicou que a SCML fez um acordo de empresa que a ministra considerou que não deveria ter sido realizado.

Ana Jorge contou que, no primeiro encontro que teve com a ministra, esta lhe disse que “não o devia ter feito, mas também não havia problema porque podia ser anulado”.

“Isto foram palavras, portanto, isto diz tudo”, vincou, afirmando que no parlamento dirá “mais coisas”.

Relativamente às críticas de Maria do Rosário Ramalho, em que a acusou de “total inação”, Ana Jorge comentou que não sabe como é que “a senhora ministra em 12 dias” pode ter tirado essa ilação, considerando que dificilmente a ministra terá a informação sobre toda a atividade da Santa Casa.

Mais tarde, aos jornalista, Ana Jorge voltou a negar as afirmações da ministra do Trabalho e que na semana que vem a instituição irá apresentar na Assembleia da República o plano de reorganização, relatório que orientará as respostas da antiga provedora aso deputados.

“Quer ponto de vista financeiro, quer de reorganização. Temos um plano que vamos demonstrar na AR na próxima quarta-feira, com os resultados, quer de aumento de receitas nas áreas que é possível faze-lo, quer de reduções de despesa que Santa Casa fez”.

Ana Jorge voltou a reforçar: “Nunca estive nos lugares [cargos] por questões politicas, estive por acreditar nos projetos, e acredito muito na Santa Casa, onde estive em 2016, saí e voltei agora.

As críticas da ministra
A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social não poupou críticas à provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. A responsável garantiu ontem na RTP que a saída da provedora não se tratou de um “saneamento político”, como diz a oposição, mas sim de uma demissão “por razões absolutamente de gestão”.

E explica: “Não teve nada a ver com o perfil da senhora provedora, que eu muito prezo (…), mas sim com a convicção que o gabinete e o Governo foram formando de que ela não tinha capacidade e não possuía as qualidades necessárias”.

Maria do Rosário Ramalho declarou que, quando o Governo tomou posse, encontrou na Santa Casa uma “situação muito difícil”: “A senhora provedora foi imediatamente chamada (…) mas não evidenciou nenhum sentido de urgência relativamente à situação que se vivia”.

Diz ainda que “não havia um plano de restruturação” e sublinha: Houve “negligência grave por total inação (…) [A provedora] não fez nada (…)”.

À RTP, a ministra acusou ainda a Mesa e a provedora de se terem beneficiado “a si próprios” e àqueles que gerem a Santa Casa. “Não beneficiaram de todo as pessoas que estão na operação”, muitas delas a receber perto do salário mínimo, argumentou.

A governante diz ter perdido “absolutamente” a confiança na provedora e revela que ofereceu a Ana Jorge e à restante mesa a possibilidade de se demitirem, mas como tal não aconteceu, foi necessária a exoneração.

Ana Jorge tomou posse em 02 de maio de 2023, escolhida pelo anterior Governo socialista de António Costa, e herdou uma instituição com graves dificuldades financeiras, depois dos anos de pandemia e de um processo de internacionalização dos jogos sociais, levado a cabo pela administração do provedor Edmundo Martinho, que poderá ter causado prejuízos na ordem dos 50 milhões de euros.

Depois da sua exoneração, no dia 20 de abril, a provedora escreveu uma carta a todos os trabalhadores da SCML, na qual acusou o Governo de a ter exonerado de “forma rude, sobranceira e caluniosa” e que foi apanhada de surpresa.

*Com Lusa

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