Irão reforça ‘hipervigilância’ ao uso do véu islâmico no âmbito das tensões com Israel

À medida que o Irão aguarda uma possível retaliação de Israel após os ataques com drones e mísseis do passado sábado, novas tensões emergem nas ruas de Teerão. Horas antes do ataque direto a Israel, as forças policiais iranianas anunciaram medidas reforçadas para garantir o cumprimento do uso obrigatório do véu islâmico nas ruas.

Embora o uso do hijab no espaço público seja obrigatório no Irão desde 1981 para mulheres e raparigas acima dos nove anos, este símbolo tem variado em termos de rigor conforme as circunstâncias políticas do país.

Nos últimos 18 meses, as autoridades intensificaram a pressão nas ruas para garantir o uso do hijab, após as massivas manifestações antigovernamentais desencadeadas pela morte de Mahsa Amini que faleceu sob custódia policial após ser detida por não usar corretamente o véu islâmico no metro de Teerão e, mais recentemente, de Armita Garavand, que mrreu após ser agredida pela polícia no metro, por não estara usar corretamente o hijab.

Em resposta às exigências por liberdades e melhorias económicas, o Governo intensificou a repressão, com uma onda de vigilância contra mulheres sem véu e críticos do regime. Pelo menos 500 pessoas foram mortas pelas forças de segurança e mais de 20.000 foram detidas numa repressão que continua.

Desde o último sábado, a presença policial aumentou nas principais cidades, coincidindo com as tensões com Israel. Patrulhas da polícia da moralidade também foram destacadas para vigiar o cumprimento do código de vestimenta islâmico. Embora ainda não aprovado pelo Conselho de Guardiães, as autoridades planeiam aplicar o código de “hijab e castidade”, que prevê multas e punições severas para as mulheres sem véu.

“Ainda não existe nenhuma lei sobre o hijab e castidade que sancione tais ações”, afirmou o advogado Mohsen Borhani, referindo-se ao projeto de lei não aprovado. “Qualquer plano ou projeto de lei deve tornar-se lei antes da sua implementação, e isso ainda não aconteceu”, concluiu.

A polémica sobre o véu surge num contexto de descontentamento público face às condições económicas e à incerteza crescente devido à guerra na Faixa de Gaza. O líder supremo, o aiatola Ali Jamenei, reforçou a importância do cumprimento das leis religiosas e da “castidade” contra “poderes estrangeiros”, um apelo seguido por vários subordinados e parlamentares alinhados com o Governo. Organizações humanitárias e especialistas da ONU classificaram o projeto de lei como “apartheid de género”, dado que afeta exclusivamente metade da população.

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