Espiões e sabotadores detidos em vários países da Europa em menos de 72 horas. Putin está a ‘acelerar’ rumo a uma “guerra híbrida”?

As tensões entre a Rússia e o Ocidente têm vindo a crescer, com uma série de incidentes e alegações de atividades de espionagem que sugerem uma intensificação da “guerra híbrida” conduzida pelo Kremlin. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, recentemente alertou que a ameaça da Rússia “pode não ser iminente, mas não é impossível”, reforçando os relatos de inteligência que sugerem uma possível ação russa contra um país da NATO num período de cinco a oito anos.

A intensificação da atividade russa foi evidenciada por uma série de incidentes recentes em países ocidentais, só nas últimas 72 horas. Na Alemanha, dois indivíduos foram detidos sob a acusação de tentar sabotar o fornecimento de armas à Ucrânia. Poucas horas depois, um cidadão polaco foi preso por envolvimento num plano para assassinar o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Adicionalmente, na Polónia, duas pessoas foram detidas por serem as principais suspeitas do ataque ao ativista e opositor russo Leonid Volkov.

Estes incidentes foram acompanhados por eventos no Reino Unido e nos Estados Unidos. No Reino Unido, uma explosão numa planta de produção militar que fornece projéteis para as tropas ucranianas levantou preocupações sobre a segurança das instalações. Nos Estados Unidos, uma instalação que produz armas para a Ucrânia foi atingida por um incêndio, cujas causas estão sob investigação.

Além dos incidentes específicos, Martin Kupka, ministro dos Transportes da República Checa, lançou um alerta sobre os esforços contínuos da Rússia para interferir na rede ferroviária da UE e sabotar a infraestrutura desde o início da invasão russa na Ucrânia. Paralelamente, foi revelada a existência de uma rede destinada a corromper eurodeputados para promover políticas favoráveis à Rússia.

O relatório mais recente da empresa de cibersegurança Mandiant, assinala o El Confidencial, destacou que grupos de hackers russos estão por trás de ataques a sistemas de água nos Estados Unidos e em países europeus, incluindo a Polónia e a França.

Ian Garner, professor adjunto de Política na Queen’s University (Ontário), argumenta que “já estamos em guerra. Os governos devem agir como tal”. Ruslan Trad, investigador de segurança no Atlantic Council, concorda, salientando que “esta guerra tem sido travada há anos”. O especialista sugere que a Rússia tentará sabotar os suprimentos militares, influenciar a opinião pública e obter o apoio de parlamentares e políticos europeus.

O relatório anual do Serviço de Inteligência Interior da Estónia (KAPO) aponta para uma agressividade crescente e táticas mais encobertas por parte dos serviços de inteligência russos. Esta mudança de táticas é vista como uma resposta às expulsões e medidas de represália tomadas pelos países europeus após a invasão da Ucrânia.

Andrei Soldatov, jornalista russo e especialista em serviços de segurança do Kremlin, destaca que um dos principais objetivos da Rússia é comprometer a Alemanha. Recentemente, a detenção de dois indivíduos na Baviera, acusados de planear atos de sabotagem a pedido dos serviços secretos russos, voltou a colocar a Alemanha no centro das atenções.

À medida que estes eventos se desenrolam, é evidente que a Rússia está a intensificar os seus esforços para enfraquecer a confiança no Ocidente e promover uma solução política para a guerra na Ucrânia.

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