Guia de um fundador sobre as diferenças entre trabalhar com empresas de capital privado e de capital de risco

Por: Kelly Ann Winget, Fast Company

No dinâmico panorama das startups, os fundadores ignoram frequentemente a necessidade de estratégias de saída realistas, o que pode ser prejudicial para o sucesso a longo prazo da empresa. Como investidor e consultor, vejo o meu papel como algo mais do que um simples guia financeiro. Trata-se de criar confiança e de me alinhar com os objectivos dos fundadores desde o início.
Os fundadores precisam de ter em conta perguntas cruciais, tais como: o que acontece em caso de sucesso ou fracasso? Qual o limiar financeiro que os obrigaria a perseverar ou a afastar-se? Quanto estão dispostos a continuar a investir numa empresa que se debate quando as coisas se tornam difíceis? Qual o valor do cheque que aceitariam para entregar o seu sangue, suor e lágrimas?
Ao longo da minha carreira, o meu objectivo tem sido manter os fundadores com os pés bem assentes na terra, assegurando que estão preparados para todo o percurso empresarial, incluindo a sua eventual conclusão. Para isso, os fundadores precisam de compreender as diferenças intrincadas entre as empresas de Private Equity (capital privado) e de Venture Capital (capital de risco).

A diferença entre capital privado e capital de risco
Trabalhar com uma empresa de capital de risco é muitas vezes o primeiro passo ousado no percurso financeiro de uma empresa. Normalmente, acontece na fase de startup, quando os investidores de capital de risco investem na sua ideia com a esperança de obter retornos significativos, muitas vezes para obterem um ganho de 10 a 100 vezes. Este investimento inicial não só fornece o financiamento necessário, como também serve de introdução a outras oportunidades de capital. É normalmente a aposta essencial que pode dar o pontapé de saída na trajectória de crescimento de uma empresa.
Por outro lado, as empresas de capital privado tendem a concentrar-se nas fases mais avançadas do desenvolvimento de uma empresa; normalmente, são empresas com alguns anos de existência (ou detidas por gerações) e que obtiveram ganhos significativos, mas que ainda não são eficientes em termos operacionais ou não estão a crescer da melhor forma. As empresas de capital privado lideram frequentemente as empresas durante processos transformadores, como aquisições ou fusões, ou até mesmo na sua entrada na bolsa. Os seus objectivos são ambiciosos, mas mais comedidos, procurando normalmente retornos na ordem de cinco a 20 vezes. O papel das empresas de capital privado consiste em orientar as empresas no complexo panorama do mundo empresarial e levá-las até à meta do seu percurso de crescimento.

Como é trabalhar com capital privado
O capital privado representa uma fase mais madura do investimento, envolvendo normalmente empresas que já demonstraram um historial de geração de receitas e, em muitos casos, de rentabilidade. As empresas de capital privado podem investir como accionistas minoritários ou maioritários, com estratégias que vão da expansão da empresa para uma venda pública ou privada até à sua fusão com outras empresas, ou mesmo ao seu desmantelamento para reforçar outro investimento. A flexibilidade e a criatividade das sociedades de capital de risco são significativas, embora grande parte desta actividade ocorra longe dos olhos do público. Os investidores de capital privado envolvem-se profundamente no funcionamento e na expansão da empresa, orientando-a para marcos importantes, como ofertas públicas ou aquisições.

Como é trabalhar com capital de risco
O capital de risco pode ser visto como o “Oeste Selvagem” do investimento, caracterizado por um grande risco e pelo potencial de retornos elevados. Os investidores de capital de risco efectuam diligências exaustivas antes de darem o que é essencialmente um salto de fé. Para os fundadores, é fundamental compreender que os investidores de capital de risco investem tanto em pessoas como em ideias. Fornecem o capital e o apoio necessários nas fases iniciais de uma startup, ajudando a aperfeiçoar as ideias e a chegar ao público certo. Muitas vezes, os investidores de capital de risco são os parceiros financeiros iniciais que abrem caminho para a entrada de investidores em fases posteriores, como as empresas de capital privado.
Quando procuram financiamento, os fundadores têm a responsabilidade fundamental de pesquisar exaustivamente e efectuar diligências para identificarem o parceiro de investimento certo. Este processo implica compreender as estratégias dos diferentes investidores, quer se trate de capital de risco ou de capital privado. Eis três maneiras pelas quais os fundadores podem tomar uma decisão financeira informada:

Alinhar-se com os investidores pela missão e objectivo
A sinergia entre investidores e fundadores é vital. Os fundadores devem procurar o seu primeiro investimento junto de indivíduos ou grupos que se relacionem com o seu produto ou serviço a um nível mais profundo. Nem todo o capital na fase inicial é benéfico; o desalinhamento pode ser prejudicial para a empresa. O investidor ideal compreende e acredita na visão do fundador, contribuindo com os seus conhecimentos, redes e um compromisso partilhado para o sucesso da empresa.

Escolher o parceiro de investimento certo
Quer opte por trabalhar com capital privado ou capital de risco, este princípio mantém-se consistente para os fundadores: encontre um investidor que se identifique com a sua visão e os seus valores. Esta relação é de longo prazo, exigindo respeito mútuo e colaboração. O parceiro financeiro certo desempenha um papel crucial na transformação de uma visão em realidade, oferecendo mais do que apenas fundos, contribuindo também com conhecimentos e contactos valiosos.

Compreender as fases de investimento
O capital privado e o capital de risco correspondem a diferentes fases do ciclo de vida de uma empresa. O capital privado é mais adequado para empresas que estabeleceram um determina do nível de crescimento e que pretendem aumentar a escala, comprar ou abrir o capital da empresa. O capital de risco, por outro lado, é ideal para startups com uma base de clientes sólida que pretendem crescer sem abdicar de demasiado controlo. Trata-se de encontrar o equilíbrio certo entre a cedência de capital e a obtenção do capital e apoio necessários.
Em conclusão, embora o capital privado e o capital de risco tenham abordagens e fases de investimento distintas, o seu objectivo principal é semelhante: alinhar-se com a visão do fundador e contribuir para o sucesso da empresa. Os fundadores devem procurar investidores que não sejam apenas financiadores, mas parceiros no seu percurso empresarial. No fundo, a chave para uma parceria de sucesso a longo prazo é encontrar um investidor que não só adore o seu produto, mas que também compreenda profundamente e se ligue à sua empresa como cliente. 

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