Do outro lado do espelho: Nuno Pinto de Magalhães, Presidente da Central de Cervejas

Sempre que passeia pelas ruas de Lisboa, Londres, Paris ou outra cidade europeia, os olhos de Nuno Pinto de Magalhães, Presidente da Central de Cervejas, brilham quando vê um antiquário. Talvez por já ter tido um há muitos anos, na rua da Lapa, mas também pela paixão pela arte –  sobretudo miniaturas. «Uma vez ia a andar de eléctrico na Alemanha e, de repente, vejo um antiquário que tinha duas miniaturas expostas. Pedi para parar o transporte e fui a correr comprá-las», recorda o gestor à Executive Digest. Uma paixão que começou há cerca de 20 anos e que já conta com perto de 400 peças meticulosamente expostas na sua casa. «Admiro tudo o que é bonito, estético, independentemente de ser clássico ou moderno. Mas também gosto muito de pessoas e de ver caras, daí o retrato», acrescenta Nuno Pinto de Magalhães. 

As miniaturas, pinturas de pequenas dimensões, surgiram essencialmente em França e Inglaterra, no século XV. As primeiras eram pintadas em pregaminho e, a partir do século XVII, em cobre. Mas o grande fulgor dá-se no século seguinte, pintadas em plaquinhas de marfim. «Eram objectos íntimos de transporte fácil e escondidos dos olhos públicos. Podiam colocar-se em gavetas, no bolso, dentro de uma pasta ou secretária.  Muitos casamentos foram feitos à distância com miniaturas. Na maior parte dos retratos, as pessoas melhoravam os seus traços fisionómicos. Com o aparecimento da fotografia, as miniaturas desaparecem completamente», explica o gestor.

Actualmente, as miniaturas só se compram em antiquários, leilões ou a famílias. «Tenho um circuito de redes sociais fechado com todos os coleccionadores europeus, com quem tenho aprendido imenso. O engraçado desta minha paixão é saber aquilo que está por trás da peça, a história da pessoa, a época, o pintor e o material utilizado», afirma o Presidente da Central de Cervejas, que recorda os tempos em que apanhava um avião todas as semanas para Londres. «Visitava duas feiras, uma delas de madrugada, e andava de lanterna a ver as peças», lembra. 

No entanto, as primeiras miniaturas que comprou foram na feira da Ladra. Nuno Pinto de Magalhães viu numa banca cinco peças, achou bastante decorativo e comprou. E foi a partir desse momento que começou a construir o seu acervo pessoal.  Aprofundou o tema, leu, estudou e contactou pessoas com as mesmas afinidades. «Hoje em dia, quem escreve sobre miniaturas pede-me para as ver, fotografar e também emprestar para exposições».

Na busca incessante pela melhoria do acervo, o gestor confessa que prefere leilões online a presenciais. A discrição em primeiro lugar. «Estou em casa e vou licitando. O leilão dá um certo despique, mas eu controlo-me muito e ofereço
o valor que acho real. Por uma questão de espaço e de gestão financeira, Nuno Pinto de Magalhães também já cedeu peças que não lhe eram tão boas para adquirir outras que podiam aperfeiçoar o espólio de que dispõe. «Eu não vendo miniaturas, mas troco. A motivação e o interesse pessoal não têm valor», sublinha. 

Na casa do gestor há miniaturas de homens, mulheres, crianças, famílias, reis, raínhas e outros líderes (Raínha Carlota, Rei D.Miguel, D. João VI, Frederico da Prússia ou Napoleão). «Para mim é essencial o que está por trás, a vivência em concreto. Por exemplo, sempre que compro um militar tento identificar as condecorações. Como não é uma colecção organizada nada me faz falta, mas há sempre a perspectiva da melhoria pela raridade e procura pelo conhecimento. Adoro mostrar a minha colecção a pessoas que gostam. Tenho uma conversa profunda, pormenorizada, técnica, mas tento não os maçar», afirma. Por vezes, os filhos mudam a disposição das peças sem ele saber. «Mas eu acabo sempre por identificar as mudanças», conta entre risos. 

MINIATURAS E GESTÃO
Para Nuno Pinto de Magalhães é fundamental ter actividades complementares à vida profissional. Além da paixão pela arte, o gestor desempenha ainda diversas actividades de carácter social. Em todas elas encontra paralelismos com a gestão, inclusivé nas miniaturas. «Há uma ligação às pessoas em ambos os casos. Nas empresas, tão importante como as marcas são as pessoas. Sempre tive a minha porta aberta, gosto de falar e nunca recusei uma conversa. Nós vivemos de relações», explica. 

Depois, continua o gestor, um acervo pressupõe conceitos de organização: homens, mulheres e crianças. E uma gestão económica porque não é possível ter todas as miniaturas. «É fundamental uma selecção criteriosa e uma gestão de prioridades», sublinha. A gestão do tempo é outro dos pontos em comum. «Durante muitos anos conciliei a minha vida profissional com esta. O grande luxo que nós temos é ter tempo para discernir e perceber o que fazer, como fazer e quando fazer», acrescenta. 

O tempo para ponderar decisões, tendo em conta os cenários, é outra das semelhanças – seja numa empresa (embora os actuais modelos empresariais priviligiem as decisões em rede) ou num leilão é preciso encontrar o momento certo para decidir. E, por fim, a organização e a partilha de conhecimento. «Sempre gostei de trabalhar em ambientes arrumados e de procurar mais informação junto de especialistas», destaca Nuno Pinto de Magalhães, que já tem em mente o próximo objectivo: um livro para poder mostrar as miniaturas a todos os interessados e dar a conhecer as histórias das peças que foi adquirindo ao longo das últimas duas décadas. «Os meus olhos cintilam, é mesmo uma grande paixão».  

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