Da recessão iminente à implementação do PRR: Especialistas discutem as finanças e o estado das empresas portuguesas

Beatriz Rubio, CEO da RE/MAX, João Duque, Dean do ISEG e Luís Ribeiro, Administrador do Novo Banco juntaram-se no palco do Museu do Oriente, em Lisboa, para debater o tema das finanças, de como lidar com as taxas de juro e a inflação que assolam os mercados globais, e qual o estado das empresas portuguesas e o financiamento da economia. Esta Mesa Debate foi moderada por Ricardo Florêncio, CEO do Multipublicações Media Group.

“Hoje as empresas estão melhor preparadas, foi feito um caminho muito significativo nos últimos anos”, principalmente tendo em conta inflação e o aumento das taxas de juro, considera Luís Ribeiro.

O Administrador do Novo Banco considera que temos um tecido empresarial muito assente em PMEs que responderam bem aos desafios que temos vindo a enfrentar. Mesmo num momento em que se assiste a uma conjugação de pandemia com a guerra, com o grande impacto nas cadeias de distribuição.

Apesar da resiliência, afirma que o tecido empresarial português está em dificuldade, principalmente num fator preponderante que é a capitalização das empresas. Luís Ribeiro sublinha que são necessárias ferramentas para as ajudar a crescer. “Temos que trabalhar em largura e profundidade” para competirem no mercado global, considera.

Mais especificamente no mercado imobiliário, a CEO da RE/MAX explica que este está a mudar. Segundo Beatriz Rubio, em julho assistimos a um mercado vendedor e, a partir deste ponto, com o aumento das taxas de juro e a inflação, passamos a um mercado comprador, onde o número de compradores diminui e há uma maior dificuldade em vender casas.

“O mercado estava inflacionado e os imóveis começam agora a ficar ao seu preço”, diz, sublinhando que atualmente há pouco produto no mercado, e que são necessárias mais licenças das Câmaras Municipais para projetos de construção.

 

Cenário de recessão iminente

Nessa Mesa Debate, João Duque considera que “o ideal era haver uma travagem no crescimento para impedir a recessão”. O Dean do ISEG explica que a inflação e as medidas de mitigação vão ter aspetos recessivos, mas que é necessário utilizar instrumentos de controlo para regularizar o cenário atual.

João Duque sublinha ainda que os custos de financiamento vão aumentar, o que vai provocar um arrefecimento da economia, “mas é isso que se quer. É melhor que o maior dano, que é deixar isto descontrolar-se.”

“A expectativa é que vamos de facto vamos entrar em recessão”, destaca.

“Os bancos centrais estão a subir as taxas de juro de forma concertada, porque é a única forma de não criar disparidade, principalmente para países que não têm uma moeda que faça parte do mundo dos negócios, que estão a importar inflação”, considera João Duque.

 

Investimento, o ingrediente principal

Para o Administrador do Novo Banco, “os bancos hoje estão substancialmente sólidos e estamos capacitados para acompanhar as empresas”, isto porque fizeram um percurso de otimização de custos devido às taxas de juro negativas, e souberam preparar-se.

O aumento das taxas de juro exige uma maior atenção à alocação de capital por parte da banca portuguesa, explica, sublinhando que agora têm que ser mais rigorosos na avaliação, quer nos créditos habitação, quer nos financiamentos.

“Estamos com ambiente de taxas de juro bastante normal, o anormal foi a subida rápida e vertiginosa dessas taxas”, diz Luís Ribeiro.

No entanto, Luís Ribeiro diz que não estamos a assistir a uma bolha imobiliária, mas que se nota um desacelerar do mercado.

Este cenário faz com que se assista a um arrefecimento do mercado imobiliário, como explica Beatriz Rubio. A executiva relembra que até julho a média de venda mensal de casas se situava nas 180 mil, um número abaixo das 250 mil registadas em 2007. “É um mercado que nunca esteve ao nível anterior”, sublinha”.

A RE/MAX estima que a partir de 2023 a média esteja nas 150 mil casas, com uma percentagem de venda a rondar os 80% para clientes portugueses e entre 20 e 22 para estrangeiros com capitais.

A CEO da imobiliária sublinha que é preciso contruir um novo tipo de casas para pessoas novas, que querem sair das cidades, “é necessário criar casas para todos”.

 

Soluções para o crescimento das empresas nacionais

Questionado sobre quais as soluções que podem ser implementadas para que as empresas possam ressurgir desta crise e criar valor para o mercado, o Administrador do Novo Banco considera que as medidas principais passam pela implementação do PRR, bem como pela preocupação das empresas em investir na transição, quer seja energética, de governance, ou tecnológica.

Já a CEO da RE/MAX considera importante as instituições de crédito acompanharem de perto os clientes para evitar o malparado, destaca que precisamos de uma oferta que seja fora dos grandes centros e com transporte publico rápido e eficiente, e sublinha ainda que não se deve acabar com o alojamento local, pois Portugal continua a ser muito forte no que respeita a turismo.

Já para João Duque deve evitar-se a intervenção da política na movimentação normal do mercado, e é importante que as empresas sejam estimuladas a criar postos de trabalho e valor acrescentado, papel que deve ser da responsabilidade do Governo.

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