Costa do Sol espanhola é porto de abrigo de polacos que fogem de uma possível invasão da Rússia

As advertências dos líderes ocidentais sobre uma possível escalada entre a Rússia e a NATO nos próximos anos fizeram com que os polacos começassem a comprar casas em áreas como Marbella e Estepona, em Espanha, indicou esta quarta-feira a publicação espanhola ‘El Confidencial’.

Estepona, a poucos quilómetros da praia, vai recebe a família de Paulina: ao redor, terão por vizinhos muitas outras pessoas da mesma nacionalidade. Desde o final de 2023, milhares de polacos têm procurado casas em zonas da Costa del Sol, como Marbella, por medo de que o seu país possa entrar numa guerra com a Rússia.

“Se isso acontecer, prefiro partir mais cedo e poder dar aos meus filhos a oportunidade de começarem noutra parte da Europa onde a ameaça russa não está tão presente”, destacou Paulina.

Para os cidadãos polacos, Espanha já não é só um destino atraente apenas por causa do seu clima. Quando a guerra na Ucrânia começou, em 2022, multiplicaram-se as compras de apartamentos e casas nesta região mediterrânica. O aumento nos últimos meses coincidiu com declarações de vários líderes ocidentais sobre uma possível escalada entre a NATO e a Rússia nos próximos anos se a Ucrânia perder a guerra.

Katarzyna Gonzalez é uma das corretoras imobiliárias que trabalha para clientes polacos. A morar na Costa del Sol desde 2016, tem visto de perto como o mercado comprador no seu país natal mudou. “Antes compravam mais em Alicante porque viam esta zona como mais luxuosa e com menos apartamentos de construção nova, que é o que mais procuram”, explicou à publicação.

A Covid-19 começou a mudar esta tendência e locais como Estepona, Higuerón ou Manilva começaram a ser o foco de futuros compradores polacos. “Com a guerra na Ucrânia tudo mudou completamente porque as pessoas tinham medo de que lhes acontecesse o mesmo que os ucranianos, que um dia se revoltassem com os tanques russos no seu país e perdessem tudo. Compraram uma casa aqui, para que se isso acontecer possam chegar e ter uma casa”, destacou Gonzalez.

Os receios de uma futura escalada com a Rússia impulsionaram as compras de casas na Costa del Sol. “Agora vêm famílias com crianças, muito mais do que antes, mas acima de tudo, aumenta o perfil dos compradores que já não querem investir na Polónia porque não sabem o que vai acontecer ao seu país”, destacou. “Tive um cliente há poucos dias que veio apenas um dia. Tivemos três compromissos e na última casa fez uma oferta de compra. Muita gente quer fazer o mais rápido possível.”

De acordo com o ‘TM Real Estate Group’, um dos maiores da área, a percentagem de clientes deste país aumentou 20% em 2022 e, até agora, em 2024, o crescimento atingiu os 35%. Esta subida também foi acompanhada por uma mudança no perfil dos compradores: de uma pessoa com alto poder aquisitivo e que procurava o luxo, o mercado passou a incluir quem compra apartamentos menores. “São de nível médio-alto porque esta zona ainda é mais cara do que outras como Alicante e procuram casas modernas e de construção recente. Poderíamos dizer que o orçamento está entre os 400 e 500 mil euros”, referiu Natalia Genewska, diretora da imobiliária Solhouse Marbella.

“A sensação de perigo era omnipresente, o número de pessoas que fugiam da Ucrânia era enorme, foi uma experiência muito difícil e stressante para nós. Não sabíamos como tudo iria acabar, queríamos sentir-nos seguros e garantir essa segurança à nossa filha”, explicou Katarzyna Kowalska. Natalia Genewska já viu casos em que o medo é que os filhos adolescentes sejam recrutados. “Têm medo de serem forçados a prestar serviço militar ou de terem de ir para a guerra no futuro. Também tive clientes que me disseram isso. Eles querem proteger o seu país, mas temem pelo futuro dos seus filhos.”

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