As oportunidades que Portugal não pode desperdiçar: A opinião dos gestores, executivos e presidentes

CRESCIMENTO
Paulo Moita de Macedo
Oportunidades que Portugal não pode desperdiçar

Há oportunidades que Portugal não pode desperdiçar, umas mais urgentes que outras. Impactada económica e socialmente com os efeitos da pandemia e, logo de seguida, pelas consequências da Guerra na Ucrânia, Portugal vive desafios determinantes de mudança e transformação.
Destaco cinco (5) áreas, entre outras, onde existem claras oportunidades que não podem ser desperdiçadas, para maior criação de riqueza: Governance, Gestão, Estado, Transição Energética e Talento.
A Governance está na ordem do dia e faz a agenda mediática, pelas falhas em instituições privadas e públicas em Portugal e no estrangeiro. A eficiência e eficácia do funcionamento dos órgãos sociais das empresas são fundamentais para o exercício do desempenho coletivo do órgão de administração. Os desafios principais, a este nível envolvem questões relacionadas com a dimensão, composição, dinâmica, reporte, responsabilização e estrutura dos órgãos de governo, adequados ao seu bom funcionamento e prossecução dos seus objetivos, o seu grau de independência e interação, a sua compreensão dos riscos emergentes e em evolução, o grau de diversidade da sua composição, o conhecimento individual e coletivo para o exercício da função. Para além de um exaustivo escrutínio sobre conflito de interesses. Os princípios e normas de governo das organizações são fundamentais para a promoção de eficiência, transparência e de responsabilidade das empresas, sendo que, o sucesso e a credibilidade de uma organização serão tanto maiores quanto mais elevada for a transparência da sua estrutura e organização e as regras para seleção dos órgãos de gestão dessa organização. E por isso, no caso das empresas portuguesas, deverão pautar a sua estrutura interna por modelos de governo adaptados à sua realidade e necessidades, que permitam o equilíbrio entre a gestão e a prossecução dos seus objetivos, o retorno acionista e a crescente inclusão dos fatores ESG.
Relativamente à Gestão, o que se espera hoje do gestor, é que antecipe tendências e comportamentos resultantes das expetativas dos stakeholders, que cumpra e vá para além dos conceitos de maximização do lucro, alavanque preocupações ao nível ambiental, social e de governance (ESG) e seja capaz de dar resposta à inovação acelerada e a problemas cada vez mais complexos.
Para tal, é imperiosa a requalificação permanente dos quadros base, da gestão intermédia, mas também da gestão de topo das empresas, que permita uma atualização permanente do conhecimento.
De acordo com World Economic Fórum (2020), os grandes obstáculos identificados à transformação das empresas são a falta de competências na liderança das organizações, a incapacidade de atrair talento especializado e a incapacidade de detetar oportunidades. São domínios em que o conhecimento é fundamental e em que a ligação à Universidade contribuirá para encontrar soluções de qualidade, para além da exposição à inovação e aquisição de conhecimento.
Relativamente ao papel do Estado, é prioritário, entre outros aspetos, melhorar o seu desempenho enquanto promotor de condições para maior criação de riqueza para a Sociedade, nomeadamente através da agilização e aumento da eficiência na finalização dos processos judiciais, do aumento da transparência das entidades sem fins lucrativos, publicação de contas e duração de mandatos e na definição de políticas de prevenção e gestão de conflitos de interesses e incompatibilidades para os decisores públicos.
Reconhecendo a inevitabilidade da transição energética e a consequente mudança do paradigma económico, em particular, no que toca aos combustíveis fósseis, Portugal assumiu o compromisso de redução das suas emissões de gases com efeito de estufa, entre 45% a 55% até 2030, e a ambição de alcançar a neutralidade carbónica em 2050.
Este desafio irá requerer uma grande determinação e um enorme investimento por parte da sociedade portuguesa, sem esquecer o conjunto de condições muito favoráveis à concretização, com sucesso, para que esta transição seja um sucesso no nosso país. A Península Ibérica em geral, e Portugal em particular, têm características naturais para abraçar a transição energética e podem vir a ser o hub para o transporte das novas energias para a Europa. Portugal dispõe de condições naturais, disponibilidade de matérias-primas, como o sol e o lítio, força de trabalho qualificada, com um custo de mão-de-obra competitivo na Europa, grandes infraestruturas para apoiar a transição energética, como o porto de Sines e um elevado potencial para a economia azul.
Por último, mas não menos importante, é fundamental para Portugal conseguir desenvolver e reter talento português e estrangeiro desenvolvido nas suas universidades, por forma a garantir a eficiência e alinhar talentos internos e externos de alta performance, para as principais necessidades de recursos humanos das empresas. A retenção e desenvolvimento do talento fazem-se através de um sistema realista de avaliação de desempenho e aconselhamento, para melhoria de um sistema de remuneração assertivo, premiando a performance e o mérito (melhores salários para os jovens, mas também, por exemplo, para os dirigentes da Administração Pública), mas também pela oferta de novos desafios e de um propósito.
Mas a retenção passa também pelo desenvolvimento de competências e possibilidade de aquisição de novos conhecimentos, através da formação, sobretudo em áreas como inteligência artificial, data analytics, modelização de algoritmos, automação e robotização, indispensáveis aos novos desafios que se colocam, especialmente no atual contexto de incerteza.
A economia portuguesa “não cresce” há mais de 20 anos. Ainda assim, e apesar da indispensável prudência e preparação para o prolongar ou adensar da crise, segundo um estudo da consultora BCG, 79% dos gestores estão hoje otimistas sobre o desempenho das suas empresas em 2023. Muitas empresas saíram do período da pandemia mais fortes, tendo conquistado novos mercados para onde exportar, construindo uma almofada de liquidez e melhorando a sua eficiência e modelo de negócio. Num período em que as empresas nacionais enfrentaram perturbações das cadeias logísticas, aumento do custo das matérias-primas, da energia e algum aumento das taxas de juros, verificamos que a maioria melhorou os seus resultados em 2022.
Não desperdiçar as oportunidades que se colocam a Portugal, é ter ambição, fazer diferente, olhar para além dos números. É querer fazer melhor, apostar em ganhar dimensão, ganhar novas competências, inovar, com vista à implementação de novos modelos de negócio, com a uma gestão eficaz e boa governança.

 

MOMENTO DE VIRAGEM
Mariana Canto e Castro
Portugal tem de agarrar com ambas as mãos este caminho de transformação e evolução

Conferência da maior relevância para servir de trigger de reflexão para assuntos absolutamente incontornáveis no âmbito da vida empresarial do nosso país.Encontramo-nos num momento de viragem, numa daquelas intersecções de espaço/tempo em que sentimos que ou se agarram oportunidades de mudança e transformação ou podemos perder irreversivelmente as mesmas.
Portugal tem de acompanhar a velocidade, as tendências, e agarrar com ambas as mãos este caminho de transformação e evolução; as nossas empresas têm de poder acompanhar ou até fixar o rumo e a forma de actuar em todos estes processos sociais, educativos e empresariais.
São oportunidades únicas e irrepetíveis que não podemos perder.
Os players e diversos stakeholders do mercado, dos mais diversos sectores, deveriam juntar-se num think tank (para além, acima e à parte das organizações empresariais e associativas) que desse continuidade às temáticas aqui faladas. Importa que quem diariamente trabalha estes temas e batalha contra as dificuldades efectivamente sentidas possa ter uma voz activa sobre o que tem de ser feito, o que faz falta e aquilo que é apenas institucionalmente justificável.
Para que a transformação aconteça tem de ser criado um novo paradigma de funcionamento; creio que o mote está dado por tantos dos participantes que aqui falaram; falta o next step, falta “cumprir-se Portugal!”

 

O IMPACTO DAS TECNOLOGIAS
Marlos Henrique Silva
A simplificação é também a chave para o impacto da transformação digital

Na MC procuramos entender os impactos das novas tecnologias na jornada dos consumidores e, através da sua implementação, desafiamo-nos a transformar esta jornada, aumentando a conveniência e proporcionando uma experiência cada vez mais personalizada, seja ela física, digital ou híbrida.
Procuramos identificar a melhor tecnologia para solucionar um problema concreto que queremos resolver (seja na experiência do cliente ou na optimização de processos) e criamos e implementamos o respectivo contexto de experimentação – pilotos, provas de conceito, demonstradores, living labs, etc. – em oposição a encontrar um problema para aplicar a mais recente “trend” tecnológica. De entre as tecnologias emergentes, associadas ao conceito de transformação digital que estamos a trabalhar, e que já estão a ter impacto significativo nas experiências de consumo e nos processos operacionais que as suportam, destacamos a visão artificial, a robótica colaborativa e o 5G.
Consideramos fundamental trabalhar activamente na integração entre os diferentes sistemas no contexto da inovação e experimentação, ao mesmo tempo que procuramos a simplicidade na integração destas tecnologias com toda a infraestrutura que já temos em funcionamento para suportar o negócio.
Esta simplicidade é também relevante na comunicação com o nosso público e, ao disponibilizarmos soluções como o SIGA, o Quico ou o Continente Labs, facilitamos a vida dos nossos clientes, onde quer que eles se encontrem, qualquer que seja o momento que atravessam e as necessidades que tenham. Acreditamos que a simplificação é também a “chave” para o impacto da transformação digital, estimulando o sucesso e o crescimento das empresas e do país.

 

LÍDER EM INOVAÇÃO
Miguel Fonseca
O país tem um grande potencial de produção renovável

Foi um prazer participar na 24ª Conferência Executive Digest para debater a importância da sustentabilidade e da transição energética para a nossa economia. Em 2022, o investimento global na transição ascendeu a cerca de 1 bilião de euros, igualando pela primeira vez o investimento em combustíveis fósseis. No entanto, para atingir a neutralidade carbónica em 2050, este valor terá de triplicar já no curto prazo, nomeadamente porque 75% das reduções necessárias de CO2 serão provenientes de tecnologias inexistentes ou que estão ainda em fase inicial de desenvolvimento. Este é, por isso, um momento de oportunidade para Portugal. O país tem um grande potencial de produção renovável e está assim numa posição privilegiada para ser um líder em inovação, captar investimento, gerar novos negócios e tornar-se tecnologicamente competitivo – tudo isto enquanto reduz as suas importações de energia. Na EDP, a inovação é uma parte central da nossa estratégia de negócio para acelerar a transição energética. Somos impulsionadores de projectos disruptivos como o WindFloat Atlantic – o primeiro parque eólico flutuante offshore do mundo, localizado na costa portuguesa -, e até 2026 iremos investir mais de mil milhões de euros em projectos inovadores via incubação interna, investimento de capital e programas de inovação aberta. Ao mesmo tempo, estamos ao lado dos nossos clientes com soluções e modelos de negócio inovadores, para que possam acelerar a sua transição.

 

TRANSIÇÃO DIGITAL
Luísa Pestana
Tecnologias como o ChatGPT mostram como a Inteligência Artificial pode revolucionar o mundo

O desenvolvimento da Inteligência Artificial tem levado a que esta ganhe cada vez maior espaço em muitos aspectos das nossas vidas, pessoais e empresariais, desde a automação de tarefas até à tomada de decisões complexas. Tecnologias como o ChatGPT mostram como a Inteligência Artificial pode revolucionar, por exemplo, a forma como interagimos, comunicamos, idealizamos e produzimos.
Assim sendo, o tema do painel em que tive muito gosto em participar, “Transição Digital: digitalização e inovação, um caminho de 360º”, assume plena actualidade. Parece-me fundamental que governos, empresas e instituições educativas se preparem para os inevitáveis impactos desta transição, designadamente a nível requalificações e capacitações profissionais e do emprego do futuro.
Foram vários os temas objecto de debate no âmbito da Conferência “As oportunidades que Portugal não pode desperdiçar” – desde os Contributos do PRR, os clusters do Mar e da Saúde, até ao Turismo, o Ensino e o Talento, entre outros -, sublinhando a preocupação e a acuidade com que CEOs, gestores e quadros de grandes empresas estudam, analisam e acompanham estas questões, verdadeiramente fulcrais para o futuro do emprego e da competitividade da nossa economia.
Do importante e oportuno evento levado a cabo pela Executive Digest evidencia-se uma conclusão fundamental: neste tempo de transição digital, de caminhos tecnológicos e de decisões políticas, que em alguns aspectos nos amedrontam e perturbam, o futuro continua nas nossas mãos. Amanhã, como hoje, e como sempre.

 

DESAFIO DE COMPETITIVIDADE
Pedro brito
As escolas devem ter muito mais proximidade com as grandes empresas e sobretudo com as PMEs

Portugal tem um desafio de competitividade enorme. Todos os índices indicam uma enorme necessidade de desenvolver uma estratégia nacional de melhoria de competências de gestão, sobretudo ao nível das PMEs. O problema é que a maior parte destas empresas não tem interesse em exportar, investir em tecnologia ou em ferramentas de gestão.
Acredito que as escolas têm um papel muito importante neste desafio nacional. Sobretudo porque têm a isenção para se assumir como um agregador de iniciativas existentes de apoio às empresas.
As escolas devem por isso ter muito mais proximidade com as grandes empresas e sobretudo com as PMEs para que a aderência à realidade dos currículos seja maior;
A grande oportunidade para Portugal passa por mobilizar as lideranças em torno da melhoria da competitividade do país, através do poder da educação.
E aqui as escolas têm de dar exemplo. Não só trazendo o conhecimento mais vanguardista, como resultado da investigação aplicada, mas através de práticas de gestão, que incluem parcerias estratégicas entre diferentes instituições de ensino, publicas e privadas. A criação de um cluster de educação com real impacto deve ser entendida como uma missão urgente para o nosso país. 

 

MUNDO MAIS SUSTENTÁVEL
João Mestre
Os impactos ambientais afectam as pessoas e os seus bens, sendo por isso um tema crítico

Participar na Conferência Executive Digest, foi para a Fidelidade uma oportunidade de apresentar os seguros como uma alavanca essencial da transição energética, uma das peças chave para um mundo mais sustentável. A questão ambiental é, também, uma questão social, uma vez que os impactos ambientais afectam as pessoas e os seus bens, sendo por isso um tema crítico.
O investimento necessário para alcançarmos a meta Europeia Net-zero, apesar de muito avultado, representa uma forte oportunidade para a economia portuguesa. Considerando os factores distintivos de Portugal, desde condições naturais à infraestrutura, indústria e mão de obra qualificada, temos a oportunidade para nos tornarmos num hub para a transição energética.
Neste âmbito, os seguros são uma alavanca essencial.  Por um lado, desenvolvendo produtos que beneficiem e potenciem o investimento em tecnologias que promovam a transição energética, contribuindo para a sua viabilização e eliminação de barreiras, mas, também, através da realocação da sua carteira de investimentos.
No caso da Fidelidade, este é um trabalho profundo e que temos vindo a realizar. Na redução da nossa pegada de carbono directa, mas também no impacto que podemos ter junto da sociedade, desenvolvendo novos produtos e realocando os nossos investimentos. É um compromisso que assumimos em Portugal e em todas as geografias onde estamos presentes, no sentido de contribuir de forma proactiva e relevante para uma transição energética.

 

 

 

 

 

 

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