Um estudo realizado por investigadores da Universidade Åbo Akademi, na Finlândia, sugere que a região da Ostrobótnia, situada no oeste do país, reúne características que a poderão colocar na lista restrita das chamadas “Zonas Azuis” — áreas do mundo onde se concentra um número excecionalmente elevado de pessoas que vivem muito acima da média de esperança de vida.
Atualmente, apenas cinco locais estão oficialmente reconhecidos como Zonas Azuis: Ogliastra, na Sardenha (Itália), Icária (Grécia), Okinawa (Japão), Nicoya (Costa Rica) e Loma Linda (Califórnia, EUA). Estes territórios são conhecidos por partilharem hábitos como dietas equilibradas, atividade física regular, baixos níveis de stress e forte integração comunitária.
Segundo a equipa liderada por Sarah Åkerman, investigadora em políticas sociais, a Ostrobótnia, em particular a zona costeira de maioria sueco-falante, apresenta uma esperança de vida de 83,1 anos, valor superior à média nacional da Finlândia (81,6 anos) e muito acima da média mundial (73,1 anos).
Em comparação, no Reino Unido, a esperança média de vida à nascença entre 2020 e 2022 foi de 80,6 anos — 78,6 para homens e 82,6 para mulheres — de acordo com o Office for National Statistics.
A investigação, publicada na Journal of Aging Research, revela que os habitantes mais idosos da Ostrobótnia costeira não só vivem mais tempo, como apresentam melhores indicadores de saúde mental e social: são menos propensos a relatar depressão ou solidão, participam ativamente em atividades de voluntariado e mantêm laços comunitários fortes.
“A Ostrobótnia pode ser considerada uma potencial Zona Azul da longevidade”, afirmam os autores do estudo. “No entanto, será necessário prosseguir com investigação demográfica rigorosa para validar de forma definitiva a excecional longevidade desta região.”
O estudo analisou três zonas específicas: a Ostrobótnia bilingue, a Ostrobótnia do Sul (de maioria finlandesa) e o arquipélago de Åland (de maioria sueco-falante). Embora Åland apresente a mais elevada esperança de vida e bons níveis de saúde, não cumpre de forma consistente os princípios de estilo de vida identificados nas Zonas Azuis, com exceção de proporcionar um ambiente natural agradável.
Já a Ostrobótnia do Sul revelou níveis de vida saudável, mas uma esperança de vida inferior à registada nas outras regiões.
A proximidade ao mar parece ser um fator determinante: a dieta rica em peixe e outros produtos frescos é apontada como uma das chaves para os bons resultados de saúde e longevidade.
O termo “Zona Azul” foi criado há cerca de 20 anos pelo jornalista norte-americano Dan Buettner, que transformou a ideia numa marca comercial, ligada a programas comunitários e produtos de estilo de vida. Apesar de não ter formação médica, Buettner inspirou-se em estudos demográficos realizados pelo belga Michel Poulain e colegas, que identificaram na Sardenha a primeira região com características excecionais de longevidade, através da análise rigorosa de registos municipais de nascimento e óbito.
As Zonas Azuis distinguem-se por hábitos comuns: movimento natural no dia a dia, alimentação equilibrada, baixo stress, sentido de propósito na vida e forte ligação entre gerações.
“A possível ligação entre longevidade, saúde e estilo de vida pode variar conforme os contextos culturais, políticos, sociais e económicos das diferentes regiões”, sublinha a professora Sarah Åkerman, citada no estudo.
Apesar do entusiasmo, os investigadores salientam que a identificação da Ostrobótnia como nova Zona Azul é ainda preliminar. A equipa sublinha que nem sempre existe uma correlação direta entre estilos de vida saudáveis e longevidade, apontando a necessidade de aprofundar o estudo das interações entre hábitos, saúde e envelhecimento ativo.
“Uma vida longa é, em geral, vista como a consequência máxima de uma boa saúde, mas a longevidade não resulta necessariamente apenas de estilos de vida saudáveis”, concluem os autores.
Se confirmada, a Ostrobótnia poderá tornar-se a primeira Zona Azul oficialmente reconhecida no norte da Europa, juntando-se às regiões já consagradas pela ciência e pela cultura popular como locais de excecional longevidade.














