Como é que um fabricante chinês de aspiradores quer competir com a Bugatti?

Dreame é um fabricante chinês de aspiradores e corta-relvas que apresentou um plano ambicioso: competir com símbolos de velocidade e tecnologia automóveis dos últimos 20 anos como a Bugatti ou a Bentley

Automonitor
Setembro 14, 2025
12:00

A Dreame é um fabricante chinês de aspiradores e corta-relvas que apresentou um plano ambicioso: competir com símbolos de velocidade e tecnologia automóveis dos últimos 20 anos como a Bugatti ou a Bentley.

Em 2021, numa lista exclusiva dos ’40 Empreendedores de Elite com menos de 40 anos’, Yu Hao entrou no ranking da ‘Fortune China’- fazia apenas quatro anos que o jovem chinês, formado em ciências aeroespaciais, fundou a Chase Technology, uma empresa que fabrica aspiradores, secadores de cabelo, produtos de limpeza para piscinas e corta-relva sob a marca Dreame, que já está presente em 120 países.

Agora, em plena transição dos automóveis para a eletrificação, e com mais de 100 marcas chinesas – algumas das quais já faliram devido ao excesso de oferta -, Hao quer agora fabricar um hipercarro elétrico.

Para a Dreame, falta à indústria automóvel uma marca de hipercarro verdadeiramente inteligente: apontou a Bentley e Bugatti como os expoentes máximos do setor do ultra-luxo, e que a marca china agora pretende redefinir, e “têm sido lentas a adotar a eletrificação e a inteligência”. O primeiro motivo para tentar competir com a Bugatti é óbvio: acredita que consegue. Porque o carro dos próximos anos será diferente. A Bugatti é agora Bugatti-Rimac, e a empresa croata juntou-se à marca de luxo pela sua comprovada competência na produção de soluções elétricas – o que se traduziu em hipercarros elétricos. E se ‘desconhecidos’ da Croácia atingiram tal nível, o que podem fazer os mil técnicos que a Dreame designou para o projeto do carro elétrico?

Muitos produtos Dreame são robôs sobre rodas. Em pequena escala, já fazem o que os fabricantes de automóveis procuram para garantir o seu futuro: propulsão elétrica, carregamento automático de bateria, orientação laser para navegação automática de nível 4 (em casa, jardim ou piscina), IA para selecionar as melhores rotas, comunicação com a cloud do fabricante.

Com a base tecnológica de Hao – já com mais de 1.200 patentes para os seus robôs, num total de 4.200 registadas – em áreas-chave como motores elétricos digitais de alta velocidade, mecânica de fluídos, controlo de robôs e posicionamento rural, não é impossível pensar que possa vir a dominar tecnologia adequada para um automóvel: afinal, possui o know-how, a capacidade de produção e está familiarizado com o desenvolvimento de canais de vendas globais.

O automóvel tradicional ficará marcado na história

Visto pelos olhos dos fabricantes ocidentais com 120 anos de experiência em redução implacável de custos, com excesso de capacidade de produção num mercado saturado, pode parecer uma loucura entrar agora no setor automóvel. Mas o que pode travar um jovem empreendedor no auge do sucesso?

Por um lado, a barreira de entrada, que era o domínio do complexo motor de combustão, foi eliminada. As dificuldades enfrentadas pelos fabricantes tradicionais são a área de especialização da Dreame: o motor elétrico, o controlo da bateria… De facto, pode argumentar-se que os fabricantes convencionais estão a tentar invadir o seu território natural: a empresa já produz centenas de milhares de motores elétricos com tecnologia própria, eletrónica e sistemas de controlo proprietários.

Por outro lado, há figuras públicas que acreditam que o boom dos carros elétricos chineses não se sustenta apenas por subsídios do Governo cenral. Cada cidade e província chinesa quer ter o seu próprio fabricante de carros elétricos, e a Dreame pode tirar partido disso. Se a BYD costumava fabricar baterias recarregáveis e agora é um dos maiores fabricantes de automóveis; a Huawei costumava fabricar routers e agora também fabrica automóveis; a Xiaomi costumava fabricar smartphones e scooters e o seu SU7 surpreendeu o mundo, o que poderia desencorajar a Dreame?

Além disso, que apaixonado por automóveis nunca quis ter a sua própria marca de automóveis? Da Lamborghini — e antes dela, a Ferrari — ao atual Koenigsegg, estes são sonhos verdadeiramente pessoais realizados.

Porquê um supercarro? A resposta está na história. Quando a Honda produzia motos e ousou aventurar-se no mundo dos automóveis, considerou imediatamente competir no topo da gama, a Fórmula 1. Era uma forma de ganhar reconhecimento entre os seus colaboradores, reputação e promover a sua marca. Os carros foram relançados, mas as motos também: de repente, aspiradores que poderiam ter passado despercebidos tornaram-se conhecidos.

O primeiro carro da Honda era como as suas motos: dois lugares, aberto, leve, simples e pequeno… uma extensão do que sabia fazer-

Segundo os meios de comunicação chineses, o Dreame pretende que o carro aprenda com os seus utilizadores, os seus hábitos, preferências e até as suas características emocionais (incluindo interpretar variações de voz) através da IA . O objetivo é que, graças à tecnologia, o utilizador perceba que o Dreame é o carro ao qual melhor se adapta. Teremos de esperar até 2027 para verificar isso.

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