EDA: «É um projecto marcante em Portugal e até na Europa»

A ilha Terceira será energeticamente mais sustentável na medida em que irá reduzir o consumo de combustíveis fósseis importados.

Em entrevista à Executive Digest, Paulo André, presidente do Conselho de Administração da EDA, explica como este inovador sistema de armazenamento de energia por baterias na ilha Terceira representa um passo significativo na integração de mais energias renováveis nos Açores.

O novo sistema de armazenamento e gestão de rede da EDA é um dos pioneiros na Europa. Qual o objectivo deste sistema?
Este sistema, construído pelo consórcio formado pelas empresas Siemens, S.A. e Fluence Energy, Gmbh, tem como principal objetivo reduzir o número de grupos geradores térmicos em operação, os quais são ainda essenciais para garantir a segurança de abastecimento de energia elétrica em redes isoladas e de pequena dimensão como as nossas, nos períodos em que o potencial renovável seja elevado, maximizando assim a entrada directa na rede da energia eléctrica produzida a partir de fontes renováveis.

Como é que este projecto pretende tornar a ilha Terceira mais sustentável?
Irá tornar a ilha Terceira energeticamente mais sustentável na medida em que permitirá, como anteriormente referido, reduzir a necessidade de utilização de grupos geradores térmicos e, consequentemente, reduzir o consumo de combustíveis fósseis importados, o que se estima em 1.152 toneladas por ano, bem como reduzir a emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera em cerca de 3.636 toneladas de CO2 por ano. Irá também permitir aumentar a quota de produção de energia eléctrica a partir de recursos renováveis e endógenos da ilha para mais de 50%, após a conclusão dos novos investimentos em curso e previstos para aproveitamento destas fontes de energia. Permitirá ainda melhorar a resiliência do sistema eléctrico, ao conferir aos sistemas electroprodutores uma maior flexibilidade e uma maior rapidez de actuação, contribuindo para a estabilidade do sistema e, por conseguinte, para a fiabilidade de fornecimento de energia elétrica ao cliente final.

Que outros projectos inovadores em prol da Sustentabilidade está a EDA a desenvolver?
A EDA, nas últimas duas décadas, acompanhou e promoveu diversos estudos e projectos sobre soluções baseadas em sistemas de armazenamento de energia eléctrica, quer sistemas de elevada capacidade, como é o caso das centrais hídricas reversíveis, quer sistemas de resposta rápida e precisa, como é o caso dos sistemas de armazenamento de energia por baterias.
Como exemplo deste percurso, temos a instalação de sistemas de resposta rápida do tipo volante de inércia nas ilhas das Flores e da Graciosa em 2005 e 2006, respectivamente, o que permitiu, até aos dias de hoje, que na ilha das Flores se pudesse alcançar 100% de produção de energia renovável em alguns períodos do dia, principalmente no vazio.
A par disso, acompanhou e colaborou no projecto desenvolvido na ilha Graciosa, por entidades externas, de um sistema de produção híbrido com base em recursos intermitentes suportado por um sistema de armazenamento de energia com recurso a baterias. Com base na experiência adquirida e nos estudos desenvolvidos, foi tomada a opção de se dar prioridade na Região a projectos de investimento em sistemas de armazenamento por baterias, uma vez que permitem integrar uma maior quantidade de energia eléctrica produzida a partir de fontes renováveis directamente no diagrama de cargas das ilhas, por substituição de grupos geradores diesel, o investimento ser menor e permitir a sua ampliação de acordo com as necessidades da oferta.
A implementação do projecto na ilha de São Miguel, apoiado pelo Programa Operacional dos Açores 2020, está em curso desde o final de 2021 e deverá ficar concluído até final de 2023. A execução dos projectos para as restantes ilhas, previstos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), irá arrancar em 2023 e 2024, estando prevista a sua conclusão em 2026.

Qual o investimento necessário?
O investimento necessário para a implementação destes projectos é muito significativo principalmente neste período de grande incerteza e instabilidade nas cadeias de fornecimento e de preços de construção muito elevados derivado da inflação.
A grande procura que se verifica actualmente por sistemas deste tipo a nível mundial, mas com muita maior dimensão que a dos nossos, aliado ao facto de sermos uma região ultraperiférica, torna os nossos projectos pouco apetecíveis para o mercado. Estes são os principais desafios.
O investimento realizado no projecto da ilha Terceira ascendeu aos 14 milhões de euros, tendo sido cofinanciado em 85% pelo Programa Operacional dos Açores 2020, através do FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. Só assim foi possível a sua implementação.
É essencial que estes projectos inovadores e pioneiros sejam alvo de fortes apoios públicos de financiamento, permitindo que uma região ultraperiférica como a nossa se torne mais sustentável e energeticamente independente.
O Grupo EDA está profundamente empenhado no desafio da transição energética dos Açores, contribuindo para a sustentabilidade ambiental, mas acima de tudo para reforço da autonomia energética da Região, preocupação estratégica face às crescentes ameaças e riscos de abastecimento do exterior. Actualmente, a integração de energia elétrica de fontes renováveis na rede, excluindo os RSU, ascende a cerca de 40%.
O plano de investimentos do Grupo EDA prevê medidas para reforço da capacidade instalada de energias renováveis até 2030, numa estratégica combinada de sistemas de reserva rápida de armazenamento de energia e de aumento da potência instalada de produção a partir de fontes renováveis e endógenas em todas as ilhas. Pretendemos ultrapassar os 65% de penetração de renováveis nesta data.
Para tal, o total do plano de investimentos até 2027, ascende a 289M€ na EDA e a 416M€ no total do Grupo EDA.

Estes projectos são a prova de que Tecnologia e Sustentabilidade podem andar de mãos dadas?
Este é um projecto marcante e líder do ponto de vista tecnológico em Portugal e até na Europa, pela dimensão da capacidade instalada e pelas tecnologias que incorpora, e que poderão ser replicados em diferentes locais. Projectos desta natureza são imprescindíveis para assegurar a integração estável nas redes eléctricas de quotas cada vez mais elevadas de energias renováveis de fontes muito variáveis, como são os casos das fontes eólicas e solar. É nossa convicção que só com avanços tecnológicos como este poderemos assegurar um futuro sustentável dos sistemas eléctricos actuais e futuros.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Redução da Pegada Ambiental”, publicado na edição de Outubro (n.º 211) da Executive Digest.

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