E agora Portugal? “Apostar numa reindustrialização do tecido empresarial nacional”: Gonçalo Lobo Xavier, Diretor-Geral da APED
Na sua opinião, quais deviam ser as prioridades do novo Governo em termos de reformas para que Portugal tenha um crescimento sustentável para o futuro?
A APED tem vindo a conseguir sensibilizar os sucessivos governos para a grande necessidade de implementação de medidas que venham favorer a competitividade da economia nacional, em linha do que tem vindo a ser proposto também pela CIP.
Entre as medidas centrais está a necessidade de inverter o percurso de perda de competitividade fiscal que o País tem vindo a viver ao longo dos últimos anos. É essencial retomar a reforma do IRC e dotar o sistema fiscal de previsibilidade e simplicidade de modo a aliviar a carga fiscal sobre as empresas.
De igual modo é premente avançar com a redução de custos de contexto (financeiros e não financeiros), que acabam por penalizar o empreendedorismo e a inovação no País. Dentro destes, a burocracia associada a projectos de in-
vestimento e licenciamento, são bons exemplos do que deve ser melhorado a nível local e central.
Uma outra medida decisiva seria a concepção de uma estratégia industrial, isto é, apostar numa reindustrialização do tecido empresarial nacional. A resposta aos desafios da competitividade, da sustentabilidade e da digitalização passa pela valorização das indústrias tecnológicas e o seu contributo para a indústria dita tradicional e de inovação de produto, sem perder de vista as chamadas indústrias de base produtoras de commodities.
Atendendo ao actual contexto, que expectativas a nível macroeconómico para Portugal?
É difícil traçar previsões sobre a evolução do contexto macroeconómico do País perante o cenário de incerteza que existe no contexto interno, fruto da situação política vivida, a que acrescem os efeitos do enquadramento geopolítico e geoeconómico, nomeadamente os efeitos das guerras na Ucrânia e no Médio Oriente e ainda a tensão vivida no Mar Vermelho, que vêm elevar as disrupções no transporte internacional de matérias-primas e mercadorias, com efeitos na cadeia de abastecimento e logística. Notamos que a confiança do consumidor está em queda e é muito difícil inverter esta situação com este enquadramento.
E quais são as expectativas para o seu sector?
A APED assume sempre uma postura de negociação e de colaboração, e estará sempre do lado da solução que vá ao encontro da liberdade e capacitação dos consumidores para fazerem as suas opções. É importante que os decisores políticos assumam uma atitude de abertura em relação às soluções que existem para lidar com os desafios dos cida-
dãos e das empresas, que tenham a capacidade de ouvir e acolher contributos antes da tomada de decisão e, acima de tudo, que não tomem decisões apressadas e com uma janela temporal muito curta para as entidades se pronunciarem. É importante que o conhecimento e a experiência dos desafios existentes ao nível operacional sejam tidos em conta no momento da produção legislativa, evitando constrangimentos e comunicação menos clara no momento de entrada em vigor de nova legislação que pode provocar disrupções e problemas desnecessários e com impacto em todos os interessados.