Afinal, o que esperam de mim agora?

Por Inês Odila, Country Manager da Coverflex Portugal

No limiar do século XXI, testemunhamos uma revolução silenciosa que redefiniu os contornos do ambiente de trabalho, impulsionada pelo avanço tecnológico e pela globalização. A chegada da era digital desvaneceu as barreiras físicas que antes limitavam o nosso local de trabalho e colocou-nos à distância de mensagens escritas e algumas chamadas.

Duas décadas depois, a pandemia acelerou esta tendência, tornando o trabalho remoto uma realidade para uma parte significativa das pessoas. A flexibilidade, que teria sido impensável na era pré-internet, agora é tida como um direito quase adquirido. As longas horas presenciais no escritório, que eram a norma, passaram a ser vistas como um modelo antiquado, e deparamo-nos hoje com uma busca incessante pelo chamado equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Esta transformação não se limita às ferramentas que usamos, mas estende-se profundamente às nossas expectativas e aos valores que atribuímos ao trabalho.

 

O que domina a agenda dos trabalhadores modernos?

Além da flexibilidade, a trajetória linear de carreira já não satisfaz a maioria dos trabalhadores. O desenvolvimento profissional e pessoal contínuo são imperativos num mercado que se transforma rapidamente, onde o risco de algo se tornar obsoleto num curto espaço de tempo é real. Os trabalhadores modernos esperam que os seus empregadores ofereçam oportunidades de crescimento em áreas multidisciplinares, sem estar circunscritos às funções que lhes foram entregues originalmente. Acreditam que a capacidade de aprender e aplicar novas competências é essencial para que a empresa se mantenha competitiva, e para que os próprios se mantenham relevantes.

A diversidade e a inclusão emergiram como pilares fundamentais dentro das organizações, e vivem-se tempos em que, mais que palavras, é necessário atuar. O trabalhador de hoje valoriza que o ambiente laboral seja um reflexo do mundo multifacetado em que vivemos, onde a diversidade cultural, étnica e de género não é apenas aceite, mas também celebrada. Esta valorização contribui simultaneamente para potenciar a criatividade e a inovação, elevando o padrão das soluções e ideias geradas.

Vive ainda uma crescente preocupação com a sustentabilidade e a responsabilidade social das empresas. O trabalhador moderno é frequentemente um defensor do ambientalismo, e acredita em práticas de negócios que respeitem e promovam a sustentabilidade ambiental. Esta consciência ecológica, mais acentuada nas novas gerações, sinaliza um desvio dos objetivos de lucro a qualquer custo, em favor de uma abordagem que equilibra o sucesso económico com compromisso ético.

Talvez a mais recente mudança seja o reconhecimento da importância da saúde mental, uma discussão emergente no novo mundo do trabalho. O despertar para este tema representa uma mudança cultural que prioriza o ser humano, e não apenas a sua dimensão profissional. Neste cenário, promover um espaço em que os trabalhadores se sintam seguros e apoiados para discutir as suas preocupações de saúde mental sem medo de estigma ou discriminação melhora a cultura, o bem-estar, a produtividade e a captação deste talento.

O trabalhador moderno quer ser visto ou ouvido. Não se revê no número mecanográfico das folhas de excel. Procura transparência na informação, envolvimento nos temas e decisões que impactam o seu trabalho. Procura propósito, realização pessoal e contribuição social, em detrimento do sucesso financeiro tradicional ou da estabilidade no emprego.

 

Se o mundo do trabalho me pedir para ir às compras, que competências coloco na minha lista?

No novo paradigma em que vivemos, as capacidades requeridas são tão dinâmicas quanto o próprio mercado.

A capacidade de entender, gerir e usar as próprias emoções de forma eficaz, bem como interagir e compreender as emoções dos outros, é mais valorizada do que nunca. A inteligência emocional fortalece as relações interpessoais saudáveis e eficazes. Por exemplo, a combinação de vulnerabilidade e empatia pode levar a melhores resultados de equipa, comunicação mais eficaz e maior satisfação no trabalho. Trabalhadores que demonstram essas qualidades podem inspirar maior lealdade e motivação.

A adaptabilidade é também um dos pilares das competências modernas. O ritmo acelerado imposto pelas mudanças tecnológicas, a capacidade de aprender rapidamente e de se adaptar a novas ferramentas e ambientes é crucial. A agilidade cognitiva permite que os trabalhadores resolvam problemas complexos e apliquem o pensamento crítico em diversas situações.

A par disso, com mais trabalhadores a operar de forma remota ou em modelos de trabalho flexíveis, a capacidade de autogestão e a iniciativa para conduzir projetos sem supervisão constante são essenciais.

Por fim, a colaboração e comunicação efetiva. O mundo do trabalho requer uma compreensão das diversas diferenças e preferências de cada pessoa com quem trabalhamos. A habilidade de comunicar com clareza são 10 passos à frente para o alinhamento entre equipa e contribuir para o mesmo objetivo.

 

E os velhos?

Recentemente li um artigo que dizia que “os velhos têm história”.

Trabalhadores mais velhos trazem consigo anos de experiência e uma compreensão profunda das nuances das suas indústrias e funções. Passaram por dias bons, e dias maus, e por dias muito bons, e outros tantos muito maus.
Fizeram parte de muitas conquistas, e também de muitos erros. E tornaram esses erros em novas aprendizagens que chegaram ao mundo atual como dados adquiridos.

O trabalhador moderno exige diversidade, mas terá visto toda a beleza da diversidade da idade? A experiência de vida e a perspetiva dos trabalhadores mais experientes pode oferecer abordagens alternativas aos desafios e contribuir para uma tomada de decisão mais abrangente. Já passaram por tantas mudanças tecnológicas e de mercado, ao longo de suas carreiras, que demonstraram grande capacidade de adaptação e de resiliência.

 

Afinal, quem são os trabalhadores modernos?

São os íntegros, os que dão corpo ao manifesto, os que querem evoluir e contribuir para o desenvolvimento do mundo do trabalho. São os que deixam pegadas, os que aprendem, os que ensinam, os que ouvem, os que erram, os que choram, os que acordam com problemas, os que se deitam agradecidos.
São os imperfeitos.

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