Covid-19. Dividendos das cotadas na bolsa portuguesa levam golpe de 315 milhões
As empresas cotadas no índice português, PSI-20, vão baixar este ano a remuneração aos seus acionistas, um cenário de queda de que não registo nos últimos anos e que se explica com o impacto da pandemia da covid-19, o qual, segundo o FMI, deverá pôr a economia mundial na recessão mais forte desde a Grande Depressão dos anos 30.
Este impacto sobre os acionistas das cotadas portuguesas foi apurado pelo ‘Jornal de Negócios’ que prevê, ainda assim, que seja limitado, uma vez que as empresas que pagam os dividendos mais elevados mantiveram a política de divisão dos lucros obtidos em 2019, referindo-se à EDP e Galp.
Os cálculos do Negócios apontam para que as cotadas entreguem um total de 2,24 mil milhões de euros aos acionistas por conta dos lucros obtidos em 2019 (3,28 mil milhões de euros). Aos dividendos que serão pagos corresponde uma queda de 6% face ao bolo distribuído no ano passado, em linha com a queda de 5% que se registou nos lucros.
Tendo em conta o que estava previsto há dois meses, a redução chega agora aos 13%.
Importa recordar que a 17 de fevereiro, o ‘Negócios’, tendo em conta os valores já anunciados e os previstos pelos analistas, escreveu que os dividendos das cotadas iriam subir 7% este ano para mais de 2.593 milhões. Agora, perante os valores anunciados, propostos ou aprovados em assembleia-geral, a remuneração total prevista é 315 milhões de euros mais baixa.
Esta análise aponta para dois fatores que justificam a situação: por um lado, quatro companhias (BCP, CTT, Novabase e Sonae Capital) fizeram marcha atrás e cancelaram o dividendo, e por outro, outras empresas anunciaram a remuneração quando a pandemia já estava com uma forte propagação. Avançaram por isso com propostas mais conservadoras como vai acontecer com a Navigator, Semapa e Altri, que vão remunerar os acionistas com valores substancialmente inferiores ao que os analistas estimavam há apenas dois meses.
“Este ano já é certo que os dividendos vão baixar. Mas a descida é pouco significativa, comparando com o que se passa no mercado global. Um estudo da Janus Henderson publicado no início deste mês apontava para que a pandemia do novo coronavírus iria cancelar cerca de 60% dos dividendos globais”, salienta ainda o ‘Negócios’., acrescentando que a descida mais limitada em Portugal estará sobretudo relacionada com o perfil mais defensivo das maiores cotadas (energia e retalho têm forte peso) e do facto de o BCP ser o único representante do setor financeiro no PSI-20.
Entre as grandes, a EDP já aprovou o pagamento de 695 milhões de euros e a Galp Energia vai levar à AG de 24 de abril a proposta de pagamento de 580,5 milhões de euros (quase metade deste valor já foi pago no ano passado). Pode ainda juntar-se uma terceira empresa com maior peso no total dos dividendos, a Jerónimo Martins, mas neste caso o pagamento ainda está em dúvida. A AG de 18 de abril foi adiada devido à covid-19 e a distribuição de dividendos ainda está a ser analisada.