O fim do Quantitative Easing
Tudo começou em 2008, quando Ben Bernanke, então presidente da Reserva Federal (Fed), o banco central dos EUA, decidiu combater a recessão comprando dívida do Estado e, por essa via, injectando dinheiro na economia, ao mesmo tempo que mantinha as taxas de juro em mínimos históricos. Este bombardeio contínuo de dinheiro inaugurou uma nova forma de política monetária, menos apertada que antes e rapidamente baptizada como Quantitative Easing (expansão quantitativa, valendo ao presidente da Fed a alcunha de Ben “Helicóptero” Bernanke).
A receita foi um sucesso no combate à Grande Recessão e foi depois adoptada pelo Banco do Japão e pelo Banco Central Europeu, tornando-se prática dominante. Na Zona Euro, o governador do BCE, o italiano Mario Draghi, avançou com um bombardeamento mensal de 60 mil milhões de euros para compra de dívida dos países, numa decisão que, apesar dos protestos da Alemanha, se viria a revelar vital para a retoma da economia europeia.
Agora, com a recuperação económica nos EUA e na Europa sustentada, o cenário vai alterar-se. De ambos os lados do Atlântico, os bancos centrais já deram indícios discretos de que os estímulos vão começar a ser retirados, embora de forma muito gradual. Na Europa, os analistas acreditam que a redução das compras de dívida pública será posta em prática já a partir de 2018 e que as taxas de juro tenderão a subir ao longo do ano, pressionadas pelo fim gradual das ajudas aos países com dívidas públicas maiores, como é o caso de Portugal.
Em Junho, a compra de Obrigações do Tesouro português pelo BCE caiu abaixo dos 500 milhões de euros, o valor mais baixo desde o arranque do programa de compra de dívida pública. O total de títulos de dívida pública portuguesa na carteira do BCE e do sistema de bancos centrais da Zona Euro estava já muito próximo do limite, que estabelece os 35% da dívida emitida com maturidade a um ano.
A mudança da política monetária terá efeitos nas economias mais endividadas, com a subida dos juros a fazer aumentar o custo do serviço da dívida. Nos EUA, depois de cinco anos de Quantitative Easing, a nova presidente da Fed, Janet Yellen, avançou com quatro subidas consecutivas das taxas, para as fixar num intervalo entre 1,0% e 1,25%. Entre duas a duas vezes e meio os níveis de 2016.
Numa coisa concordam todos os analistas: apesar do fim dos Quantitative Easing, não voltaremos a ter taxas de juros nominais de 5 ou 6%, como há dez anos atrás.
Artigo publicado na revista Risco n.º 6 de Outono de 2017.