Sanções à Rússia fizeram subir o preço do bacalhau em Portugal. O ‘fiel amigo’ ficou 18% mais caro no último ano
O Natal aproxima-se e, com ele, os preparativos para uma das festividades mais importantes do ano. No entanto, as famílias portuguesas estão a sentir os efeitos de um aumento considerável nos custos de vários alimentos típicos da quadra natalícia. Entre os principais culpados, destaca-se o bacalhau, cujo preço por quilo subiu 18% em comparação com dezembro de 2023, atingindo os 14,38 euros na primeira semana de dezembro de 2024.
O aumento no preço do bacalhau deve-se, em grande parte, às sanções económicas impostas pela União Europeia à Rússia, no contexto da guerra na Ucrânia. A Rússia partilha com a Noruega o controlo do mar de Barents, sendo uma das principais fornecedoras de bacalhau para o mercado português, ao lado da Noruega e da Islândia.
Paulo Mónica, secretário-geral da Associação dos Industriais do Bacalhau (AIB), explica a jornal Público: “O preço do bacalhau é grandemente influenciado pelas sanções económicas impostas pela União Europeia à Rússia. Há um mecanismo europeu que permite às empresas obterem matérias-primas fora do espaço europeu, mas isso nem sempre é suficiente.”
As sanções obrigam as empresas a pagar uma taxa de 12% em direitos aduaneiros, o que aumenta os custos de importação e, consequentemente, o preço para os consumidores finais.
“Já fizemos chegar estas preocupações ao Governo. É necessário que Bruxelas compreenda que estas medidas estão a penalizar a indústria europeia e não a Rússia, que continuará a receber o mesmo dinheiro pelas exportações,” acrescenta Paulo Mónica.
Bacalhau: uma tradição sob pressão
O bacalhau, há décadas central na mesa de consoada em Portugal, está a tornar-se cada vez mais inacessível para muitas famílias. Segundo Paulo Mónica, o aumento nos custos de transporte e energia também contribui para o encarecimento deste produto.
“Se compararmos com períodos antes da pandemia, os transportes estão significativamente mais caros,” observa o responsável da AIB.
Apesar disso, a tradição mantém-se firme, com os consumidores a adaptarem-se ao aumento dos preços. Muitos optam por tamanhos mais pequenos ou partes específicas do peixe, como lombos, em vez de exemplares inteiros.
“Os consumidores ainda preferem os bacalhaus grandes, de 20 a 30 euros o quilo, mas nem todos conseguem. Mesmo assim, continuam a procurar formas de ter bacalhau na mesa, porque é uma tradição,” afirma Paulo Mónica.
Os associados da AIB, que representam mais de 80% da produção industrial de bacalhau em Portugal, movimentam um volume de negócios anual de 500 milhões de euros.
A subida de preços não se limita ao bacalhau. Outros produtos tradicionais do cabaz de Natal também registaram aumentos significativos. A tablete de chocolate para fins culinários, por exemplo, teve uma subida de 44% face ao ano passado. No início de dezembro de 2024, este produto custava 2,86 euros, em comparação com os 1,86 euros de dezembro de 2023.
O cabaz de Natal, composto por 16 produtos essenciais, ultrapassa agora os 52 euros, representando um aumento de 4% em relação ao mesmo período do ano anterior.