Randstad Insight: It’s ok to be not ok

Por Mariana Canto e Castro | Directora de Recursos Humanos Randstad Portugal

500 milhões de pessoas. 500 milhões de pessoas, em 2030.
500 milhões de pessoas, em 2030, em todo o Mundo terão problemas de saúde mental, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
Mais de metade serão jovens até aos 20 anos…
Atrevo-me a achar que se conseguíssemos falar com todas estas pessoas, fazendo a tradicional pergunta “então, tudo bem?”, muito mais de metade responderia com o clássico: “Tudo!” e um sorriso no final da frase…
Mas não está tudo bem. Entrámos no 3.º ano da pandemia COVID-19, desde Fevereiro deste ano que uma guerra violenta e sem fim à vista se desenrola na Europa, em todo o Mundo surgem situações de saúde preocupantes, a Economia entrou em recessão, a inflação atinge níveis máximos, a escassez de água é uma realidade, faltam bem alimentares… Não está tudo bem!
E para quem está a ler isto e a ficar irritado porque sente uma carga negativa no texto, deixo um “spoiler”: não reconhecermos os problemas, não aceitarmos que eles existem é precisamente o primeiro passo para garantir que eles se agigantam acima daquilo que é suposto.
Reconhecer problemas não é ser “negativo”, não é ver tudo “pelo lado negro”, não é sermos um “anjo da desgraça”; é, simplesmente, reconhecer factos e depois decidirmos o que fazer com eles e a forma como vamos deixar que os mesmos impactem no nosso bem-estar emocional e, consequentemente, físico. E aceitar, ainda, que alguns deles irão ter um impacto pesado, e que iremos sentir-nos mais tristes ou preocupados. E está certo que assim seja; porque não sentir essas emoções, ou recusá-las, não dar espaço para que elas entrem em nós é, na verdade, o primeiro passo para permitir que as mesmas nos controlem.
Saudável é sentirmos todo um leque de emoções umas mais e outras menos positivas, deixá-las ocupar o seu tempo e espaço em nós. Temperá-las com informações credíveis, processá-las e deixar que sigam o seu caminho. Se nos deixam um pouco mais tristes, cuidaremos de nos animar ao aceitarmos que assim estamos. Se ficamos preocupados, há que analisar a razão e tentar superar a causa. Falar destas emoções com transparência e coragem e não acharmos que temos de estar sempre nos píncaros da felicidade é tão importante como combatermos as emoções negativas mais fortes.
Só os bobos estão sempre felizes; os comuns mortais passam por uma panóplia de sentimentos e emoções ao longo de um único dia; e todas são importantes para o nosso bem-estar e para o nosso equilíbrio. Até o “not ok” de um dia é essencial par o “ok” de dias depois, porque nos permitiu compreender o que é que estava menos bem e modificá-lo.
Para que este ciclo saudável possa acontecer temos, antes de mais, que ter auto consciência, percepção do que se está a passar em nós e tempo para processarmos a informação.
Tempo é essencial. Tempo para parar e pensar, para ref lectir, para aceitar que estamos “ok” ou “not ok”, para compreender o porquê. Um corpo e uma mente cansados estão mais frágeis e susceptíveis. Por isso as férias são tão importantes. É tempo para parar com as rotinas instaladas e para as quebrar; para fazer o seu oposto ou não fazer nada de todo; para estarmos com quem nos é mais querido, mas também a sério e em profundidade connosco próprios.
Tempo para recarregar energias, fazer o que gostamos ou permitir-nos nada fazer. Não precisamos de estar sempre ON, em actividades “cool” e instagramáveis. A vida não acontece nas redes sociais. Acontece connosco, dentro de nós e com quem está perto de nós. Dediquemos-lhe a necessária e preciosa atenção e tempo. A nossa saúde agradece, as nossas emoções também, família e amigos mais do que ninguém o farão e nós próprios então nem se fala…
500 milhões de pessoas, em 2030, em todo o mundo terão problemas de saúde mental… ou não…
Vá de férias e comece a cuidar de si, hoje, amanhã, assim que puder!
“It’s ok to be not ok”, para que possa estar (verdadeiramente) “ok” de novo.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 197 de Agosto de 2022