Porto 1 – Lisboa 0

Opinião de Nelson Ferreira Pires, Presidente da Fundação Marquês de Pombal

André Manuel Mendes
Outubro 28, 2025
16:02

Por Nelson Ferreira Pires, Presidente da Fundação Marquês de Pombal

Admiro várias cidades portuguesas como Viseu, Porto, Lisboa, Oeiras, entre muitas outras. Vivi ou vivo nesta multipolaridade social. Uma das cidades é fabulosa para viver; outra ideal para trabalhar e algumas delas fantástica para ambos objetivos. Deixo-vos na dúvida! Vou-me ficar apenas por duas delas, pela sua importância urbana e pelo seu contraste extremo verificado nas recentes eleições. Gil Vicente descreveria este contraste como um “desconcerto do mundo! Diversidade tamanha entre o justo e o malvado”!

O Porto… Almeida Garret descreveu como ninguém as “gentes do Porto”, contrastando o caráter do Porto com o de Lisboa. Celebrou a sua cidade do Porto com a frase: “Se na nossa cidade há muito quem troque o b por v, há pouco quem troque a verdade pela infâmia, a liberdade pela servidão”. As eleições passadas foram um reflexo de que “o Porto não é um lugar, é -mesmo- um sentimento” (nas palavras da Agustina Bessa-Luís). O cavalheirismo dos discursos de Pedro Duarte e Manuel Pizarro, os 2 mais votados do Porto, na vitória e na derrota, demonstrou como “rir  com uma certa insolência” faz parte da genética desta cidade. Eram 2 candidatos autárquicos em que qualquer um poderia ser presidente do município e ter sucesso. Um tudo fez para ganhar mas soube perder com dignidade e elegância, o outro tudo fez para não perder e soube vencer com respeito e elevação. 

Lisboa foi Lisboa. Eça de Queirós descreveria bem estes tempos de Lisboa  afirmando que “os políticos e as fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo”. Um mau presidente da câmara e pior candidato frente a um grupo de “neo-modernizadores de pacotilha que conseguiram exterminar a nostalgia, desqualificaram os sentidos, conspurcaram as pulsões mais íntimas do afeto e da coerência” para que a cidade de Lisboa nos transporta (*). Lisboa entregou a vitória a Moedas por falta de comparência dos adversários. E por isso Lisboa perdeu. A “qualidade”  de todos os candidatos era baixa! Até nos discursos de vitória ou derrota, Lisboa se demarcou do Porto, para pior. Pareciam candidaturas a uma associação de estudantes de uma escola em nenhures! Alexandra Leitão e seus acólitos a “deitar a toalha ao chão” e Moedas aos “saltinhos” no palco gigantesco. Que desencanto!

Miguel Torga  terminaria esta análise com um enfadado “Enfim… Portugal!

(*) Hélder Pacheco

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