Web “Mummyt”

Por Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

Hoje não vou falar de Ucrânia, Putin, Setúbal ou outro tema “quente” mas sim da minha opinião sobre a “web summit”. A conferência deveria estar garantida em Portugal até 2028 no âmbito do contrato assinado entre a Web Summit, a Câmara de Lisboa e o Estado português, imaginávamos nós em exclusividade (e com direito a pensar pois trata-se de um evento privado mas com financiamento público). Até porque muitos dos participantes não são Portugueses, diria até que a maioria não são Portugueses, há muitos brasileiros e de outros países. O que implica que organizar eventos semelhantes com a marca “umbrella” de Paddy Cosgrave noutros locais, vai afectar a execução contratual do web summit em Portugal, tornando-o num “web mummyt” que custa 11 milhões todos os anos. O que vai acontecer em 2023 com o web summit a desdobrar-se entre Portugal e o Brasil. O nosso contrato inclui uma cláusula de rescisão de 340 milhões de euros por cada ano em que falhasse a realização na capital portuguesa pois a web summit recebe os tais 11 milhões de euros por ano do Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa e do Governo, através do Ministério da Economia, para se manter em Lisboa. Portanto este desdobramento, não acautelado pelos Portugueses, da cimeira entre Lisboa e o Rio de Janeiro em 2023 pode prejudicar seriamente o nosso país em vários dos KPIs deste investimento. Confesso que no início fui um apoiante fervoroso deste evento que coloca Portugal no mapa do mundo tecnológico e digital, os Portugueses como percursores “trendy” do que vai acontecer no futuro, o desenvolvimento de um ambiente de networking que atrai startups e investimento para o pais, assim como a criação da imagem de Lisboa e Portugal como destino turístico de negócios de eleição. Daí o meu apoio desde o início. Tratava-se de colocar as “mãos na massa” e não fazer mais uma campanha promocional num jornal internacional a promover Portugal. Ainda por cima a economia gerada directamente pelo evento (em dormidas, restauração, transportes impostos, taxas, etc) superava certamente o seu custo. Mas já em 2019 entendi que o evento estava a perder energia, apesar da participação de Snowden e mais 1.205 speakers. Mesmo o anúncio do novo rumo face à sustentabilidade da Google feito pela “Google’s Sustainability Officer” Kate Brandt ou a opinião de Michel Barnier sobre o Brexit. Até Tony Blair veio falar de regulação. Mas confesso que desde essa data achei que o evento estava a perder “lastro”, o entusiasmo estava a desaparecer (excepto o do organizador que enchia os bolsos á nossa custa). Lisboa continuava igual, com ou sem a web summit, algo que nos anos anteriores não tinha acontecido. Com a web summit digital em 2020, totalmente remota por causa do covid, mas a continuar a custar os mesmos 11 milhões de euros ao estado Português, confirmei as minhas insatisfação com a realização do evento em Portugal. Apesar das queixas de Paddy que referia que perdia 30 milhões de euros anuais por causa da pandemia (Como todos os outros negócios que perderam se calhar muito mais mas não receberam 11 milhões de euros). Nem aproveitaram para criar e testar uma plataforma online focada na interação e networking que teve uma oferta de sponsoring de 6.5 milhões de euros (sg o próprio ao jornal eco). Compreendo e aceito que Paddy queira ganhar dinheiro, que muitos unicórnios estão a nascer na América do Sul e existem investimentos de capital venture em startups de USD 9.4 biliões em 2021 no Brasil. Portanto será normal perceber que se o seu evento está “a passar de moda” em Portugal tente encontrar alternativas, mesmo estando agarrado a um contrato. Só que não deixa de ser um contrato que lhe dá 11 milhões de euros por ano; que agora dará muito mais pois desdobrou o evento.  E certamente não vai fazer o evento de borla no Rio de Janeiro. Prejudica Portugal claro, pois os sul americanos não virão para a Europa se podem ir para o Rio de Janeiro. Portanto, como diriam alguns, “mama dos 2 lados”. Até se lembrar de triplicar ou quadruplicar o evento para a África e Ásia. E continuar a ganhar de todos os lados e Lisboa ficar com o “web mummyt” de 11 milhões de euros em Lisboa. Portanto a imagem do irlandês “Chico esperto” (como alguns caracterizam Paddy) pode estar a confirmar-se. Talvez seja a altura de acabar com este negócio, investir os mesmos 11 milhões de euros com um parceiro Português, que organize um evento semelhante, tenha raiz Portuguesa e nunca daqui saia. E temos tantos e bons empresários capazes de o fazer como o Ricardo Florêncio ou o Álvaro Covões…