Quando os extremos se tocam, o melhor acontece

Por Nuno España, Gestor

 

Nuno tem origem no latim nonnus, nome carinhoso utilizado pelas crianças para designar os seus tutores, os que as educavam. Assim, pode significar “aio”, “educador” ou mesmo “pai”. Eu, como Nuno que sou, e fazendo jus ao nome, sempre gostei de interagir e aprender com crianças; de certa forma, mais do que gostar acho que tenho jeito para o fazer. Esse mesmo gosto, talvez ainda de forma mais vincada e profunda, tenho-o também por pessoas mais velhas, aqueles que eu considero meus tutores, meus educadores. Admiro-os pelo que são, pelas vidas que tiveram, pelo que nos podem ensinar, através do ensinamento e da moral, mas sobretudo através da maneira de estar, do exemplo – muitas vezes basta estar atento para evitar alguns erros de percurso…!

Aos olhos do mundo, a infância é uma etapa decisiva e definidora, onde todos reconhecemos a importância de aprender e ser estimulado, justificando que a educação seja dos principais investimentos nas sociedades ditas desenvolvidas. Já o envelhecimento, igualmente importante por ser o período de maior bagagem intelectual e espiritual, depois de todas as vivências e crescimentos ao longo da vida, é tantas vezes desvalorizado e ignorado, tornando-se um processo duro e difícil, sobretudo pela infantilização e limitações na autonomia e autodeterminação.

Recordo-me sempre de a minha Abuela nos dizer que uma das coisas que lhe custava mais era envelhecer, ao lado de quem lhe falava alto, com uma linguagem infantil, ou ao lado de quem numa conversa simplesmente a ignorava.

Recentemente, tive a oportunidade de visitar um lar, onde tive uma das melhores experiências que poderia ter tido. Geralmente sou sempre bem recebido, mas aquele dia foi particularmente especial!

Ao passar no corredor, deparei-me com algo que me deixou sem reação. Na sala comum destinada às atividades extra, estavam, para além dos habituais animadores e dos habituais 15 residentes do lar, professores e outros 15 miúdos entre os 4 e 5 anos. Naquela sala reinava a harmonia. Havia idosos mais animados e outros com maiores debilidades, bem como crianças mais compenetradas e outras nem por isso, mas a interação entre eles era pura e simplesmente uma relação de aprendizagem e convívio. As crianças a aprender e a receber carinho e atenção. Muitos morriam a rir das cócegas por todo o lado – barriga, debaixo dos braços, pescoço. Era no meio de tanta brincadeira que estavam a desenvolver valores únicos que levariam para a vida e que lhes serão úteis em momentos críticos. Os mais velhos, para além de se sentirem úteis e por isso mais válidos, aproveitavam para se exercitar e contavam com a assistência dos mais pequenos nas tarefas do dia-a-dia, sentindo-se amparados e cuidados. Vi também um animador exemplar, que, de forma exímia, falava a linguagem de crianças e idosos e os fazia estar em harmonia. Parecia um verdadeiro maestro – e que linda música estava a criar.

Não resisti em parar e ficar à porta a assistir. Sem dar por mim, de repente, em substituição de uma das avós retidas na fisioterapia, acabei por fazer de Avô Nuno. Que privilégio! Não poderia ter gostado mais de ter participado e acho que o Zé também gostou…!

Mais uma vez consegui tocar os extremos – e não há dúvida que se completam. As crianças e os mais velhos são aqueles que mais tempo têm para ouvir mas também aqueles que carecem de uma enorme necessidade de serem ouvidos. A cada um de nós cabe-nos tentar ser maestros nesta harmonia, respeitando os ritmos de cada um.

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