PRR – plano de liderança Profissional, Responsável e Resiliente

Por Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

Quer ter um patrão estrangeiro em Portugal? ”Referia o expresso economia no dia 27 de Novembro. E porquê? Porque re-publicava dados do INE muito interessantes sobre produtividade. Estes dados confirmam que não existe, em minha opinião, um problema estrutural de produtividade em Portugal, mas sim conjuntural. Existe sim um problema de dimensão e inovação. E este problema é consequência do problema estrutural de baixa qualificação da liderança empresarial que “condena” a produtividade dos trabalhadores. Por isso as filiais de empresas multinacionais em Portugal são mais produtivas e pagam salários mais elevados que as empresas nacionais (no sector não-financeiro). E este cenário agrava-se nas microempresas, segmento onde as filiais estrangeiras alcançaram em 2020 uma produtividade do trabalho (medida pelo rácio entre valor acrescentado bruto e pessoal ao serviço) de 195% acima das empresas nacionais, tendo sido a remuneração média 163,8% superior. Diferenças que se esbatem à medida que aumenta a dimensão das empresas. Por isso a partir de agora falarei de MPMEs ou seja micro / pequenas / médias empresas. Portanto a conclusão é de que somos produtivos (os Portugueses), dependendo de onde (ambiente nacional ou multinacional) e para quem trabalhamos! E esta conclusão é também confirmada pelos exemplos de sucesso dos trabalhadores portugueses no estrangeiro. Mas a grande questão é que em Portugal, 99.9% ou 1.333.649 são MPMEs que empregam 3.344.792 trabalhadores (pordata 2019). Ou seja temos um problema fundamental que apenas tem uma solução: aumentar a produtividade nas MPMEs como se de filiais de multinacionais se tratassem. Dobrávamos a produtividade Portuguesa !!!

Portugal e o estado tem apostado na competitividade das PMEs portuguesas quando devia era apostar na produtividade das mesmas. 1€ em cada 5€ investido em Portugal, do financiamento europeu até 2020, foi neste “milestone” da competitividade. O que não faz sentido, pois só conseguimos ser competitivos se formos produtivos.

Mas há que explicar, baseado no meu argumento, porque é que nas grandes empresas Portuguesas este fosso de produtividade com as filiais de multinacionais não é tão acentuado? Em minha opinião porque nas grandes empresas, portuguesas ou multinacionais, a gestão e liderança é profissionalizada, por norma externa aos donos do capital social da empresa e com vários mecanismos de controle das decisões de gestão como conselhos de administração, assembleias gerais, comissões de remuneração, auditorias e revisão de contas. Portanto a decisão continua “accountable” mas está auditada.

A forma de melhorar este indicador é clarificar que a causa da baixa produtividade é a liderança e que existem formas de a melhorar. Uma das minhas sugestões é a de criar um  Certificado de liderança MPME (micro, pequena e média empresa) que valida o modelo organizacional, a qualidade da liderança, a accountability, o plano estratégico e o plano de formação e desenvolvimento de competências do líder e dos trabalhadores da empresa. A academia e o estado podiam definir os critérios. Este selo não poderia ser obrigatório, no entanto permitiria (semelhante aos selos ISO) aceder a fundos de apoio, maior facilidade no acesso a fundos de tesouraria e relacionamento bancário, benefícios fiscais, atrair e reter talento, entre outros. O EBITDA e a produtividade por trabalhador (assim como a liderança e práticas organizacionais), deveriam confirmar a manutenção deste selo ao longo dos anos, no médio prazo, depois do período de arranque. Ou seja, a avaliação qualitativa e quantitativa. Os empresários e as empresas iriam orgulhar-se de o ostentar (como fazem com os certificados ISO), os parceiros com quem fazem negócio começariam a exigi-lo como boa prática ESG (environment, social, governance) e os benefícios justificariam o investimento. No final, mais produtividade, mais rentabilidade, mais IRC, mais IRS, mais remuneração para os trabalhadores!

Talvez o PRR não seja um esquema complicado de geringonça governamental mas apenas a necessidade de desenvolver uma cultura de liderança Profissional, Responsável e Resiliente. Logo Produtiva, logo Competitiva!

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