A sustentável leveza de ser

Por Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade

Quando escrevo este texto, tal como todos os outros cronistas desta revista, não faço a mais pequena ideia do que vai estar escrito na página ao lado, nem sequer na restante revista.

Essa é uma função para o director da revista. Mas consigo apostar que a palavra sustentabilidade vai estar escrita na grande maioria das páginas, mesmo que o artigo não seja sobre sustentabilidade. A palavra, melhor ainda, o tema, passou a ser ubíquo, isto é, está em todo o lado, é omnipresente, e mesmo que não esteja escrita, mesmo que não seja praticada, continua sempre a estar lá.
O tema, diria, é incontornável e não pode ser ignorado pela indústria seguradora, ainda para mais numa época histórica em que o mundo em que vivemos entrou numa nova fase, uma fase mais incerta, mais desafiante e muito mais insegura do ponto de vista geopolítico e macroeconómico e muito mais instável, imprevisível e perigosa. Atravessamos uma conjuntura adversa do ponto de vista geopolítico, com consequências impactantes a nível económico, financeiro e social, e deparamo-nos enquanto sociedade com grandes problemas estruturais que teremos que saber como resolver, também em sociedade.
Mas esta nova fase em que entramos não deve alterar a nossa vontade, nem mudar o nosso caminho, em que a sustentabilidade do nosso negócio, e por arrasto de toda a sociedade e do planeta, está em causa.
Talvez seja útil estabelecer aqui inicialmente um perímetro daquilo que penso que deve ser, e também do que não deve ser, a sustentabilidade.
Para começar, sustentabilidade, não deve ser uma moda, não pode ser apenas clichê simpático para usar em relatórios nem em artigos de opinião em revistas com leitores interessados e conhecedores do tema. No caso da indústria dos seguros estamos, diria que, protegidos naturalmente deste risco, porque é a natureza do negócio segurador que é, por default, sustentável. Diria mesmo mais, não teríamos negócio se não o fossemos. Mas temos muito a fazer para continuarmos nesta senda, e temos espaço, na indústria, para melhoria.
Em Portugal, considero que teremos de fazer um combate pela sustentabilidade em duas grandes áreas: a demografia e o clima.
A demografia com especial atenção às questões relativas à longevidade, com as alterações profundas que observaremos na nossa pirâmide demográfica e com o envelhecimento da população, que nos vai obrigar a desenvolver soluções sustentáveis, quer em termos de saúde e de qualidade de vida, quer em termos económicos para ajudarmos os nossos clientes a viverem mais anos, mas com qualidade de vida e isso implica também a sua saúde financeira. A prevenção, quer do ponto de vista da saúde, quer da preparação da reforma devem passar a ser nucleares no algoritmo para a solução dos nossos problemas colectivos.
Estou profundamente convicto que não será possível fazer este caminho sem que os nossos clientes sejam agentes activos na mudança deste paradigma, e talvez até os mais importantes nesse percurso. É dever e obrigação das seguradoras, apoiá-los e premiá-los pela adopção de estilos de vida saudáveis, ajudando-os a preparar o futuro, por exemplo, criando soluções de reforma inovadoras.
Por outro lado, as alterações no clima terão um impacto avassalador em todos os aspectos das nossas vidas. Não podemos ignorar nem negar as grandes alterações climatéricas que afectarão o nosso país e as consequências, diria muito impactantes, que as mesmas terão nas nossas vidas. Proteger as pessoas, preservar o património das famílias e das empresas, preparando o seu futuro, é o core do negócio segurador. A sustentabilidade é assim condição da nossa actividade, e a visão do sector nesta matéria deverá sempre de longo-prazo.
A indústria dos seguros não pode, e julgo que não será, pelo menos no que diz respeito à estratégia da empresa que lidero, mero espectador, mas sim, acima de tudo, promotora de mudanças de comportamento na sociedade, consciencializando para o papel e impacto de todos e de cada um no futuro do planeta.
Considero fundamental para qualquer estratégia bem-sucedida, em termos de sustentabilidade futura, estes três pilares essenciais:

  • A dimensão da sustentabilidade social da sociedade;
  • A transição ecológica;
  • A actuação pró-activa como agentes económicos responsáveis e exemplares.

Parecem objectivos simples, mas não tenham ilusões, serão muito exigentes. Talvez até os mais difíceis de alcançar e será necessária uma alocação de recursos considerável, quer materiais quer humanos para os podermos prosseguir. E para isso será necessário que a indústria seguradora seja capaz de atrair para as suas fileiras trabalhadores jovens, capacitados e muito empenhados neste desígnio que é de todos.
Não vai ser fácil para todos os players entrar nesta luta. É preciso dimensão, visão e um propósito claro, que não pode ser inventado de forma instantânea. Não basta querer. Nem basta parecer. É preciso ser.
Tenho uma sorte imensa: trabalho numa empresa que tem um propósito que é, diria mesmo, maior do que ela própria. Trabalho numa empresa que tem como propósito, imaginem só: “para que a vida não pare”. Estamos lá para que a vida de todos, isto é, da sociedade, da comunidade, nunca pare, mesmo nos momentos mais difíceis. É um propósito que nos dá uma grande responsabilidade, mas acima de tudo, uma grande leveza. E na Fidelidade somos sustentáveis há 215 anos.
Para terminar, resta-me dizer que não teremos sucesso enquanto sociedade, e logo enquanto sector económico, se não conseguirmos cumprir este propósito maior: mudar, influenciar comportamentos, evoluir para contribuirmos para uma sustentabilidade global, deixando o mundo melhor do que aquele que encontrámos, sendo verdadeiramente sustentáveis. Na Fidelidade já estamos a fazer tudo isto e é isso que nos dá uma grande leveza: a sustentável leveza de ser (sustentável).

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 199 de Outubro de 2022