O papel do estado na saúde

Por Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

Não é prestar cuidados de saúde mas garantir que todos os cidadãos têm acesso aos melhores cuidados de saúde, de forma equitativa, com qualidade elevada e um investimento eficiente por parte do estado. Portanto não podemos ter apenas um serviço nacional de saúde, mas um sistema nacional de saúde. Que integre os vários prestadores de saúde: o público, o social, o privado, misto (PPP) e inclusive o mutualista. O serviço público não pode concorrer com os outros pois inevitavelmente vai perder. Não tem capacidade de escolha dos atos e sendo universal, terá que manter um custos fixo de estrutura elevadíssimos, financiados pelos nossos impostos e pelo copagamento dos utilizadores.

Por outro lado, as instituições, não tendo autonomia de decisão, têm dificuldade de concorrer ao nível da atração e manutenção de talento e de promover um modelo meritocrático (apesar de alguns projectos existentes). Porque há óptimos colaboradores a trabalhar no sector público, basta entrar em muitos hospitais e vemos o que é verdadeiro espírito de missão e dedicação á causa pública. Mas também vemos o oposto. E todos são remunerados da mesma forma, que já de per si é baixa para alguns (os colaboradores excelentes) e se calhar até muito alta para outros (os que passam a “vida a tomar café” e estão sempre ocupados para trabalhar).

Imagino como é liderar uma organização pública como por exemplo um hospital, pois deve ser uma tarefa hercúlea. Temos de tentar motivar os colaboradores com fatores imateriais como salvar vidas, reconhecimento moral, o propósito, a missão, a estabilidade do emprego, o bem estar dos doentes e suas famílias, mas nada mais. Ficamos “mais ricos” emocionalmente mas mais pobres na vida do dia a dia. Muitas vezes a terem que trabalhar em estruturas físicas envelhecidas, sem condições propícias ao espírito de missão que é exigido e com salários pouco competitivos com os outros sectores.

Em suma, o propósito que tanto se fala nos dias de hoje, que representa a conexão entre os nosso valores e motivos, com os motivos e valores da organização existe uma ligação: acrescentar mais e melhor vida aos cidadãos. Ou seja existe a conexão entre o que se é e o que se faz, mas não existe reconhecimento material, fundamental quando olhamos para a hierarquia das necessidades de Maslow. E o mais curioso é que o sector privado (e outros) copiaram e apropriaram-se do propósito público de “acrescentar mais e melhor vida aos cidadãos” (mas com maior qualidade tecnológica e de serviço) e acrescentaram o reconhecimento material e meritocrático ao talento que têm que manter dentro das suas organizações.

Portanto o Estado vai sempre “perder” se pretender competir com os outros sectores, tendo que constantemente “despejar” dinheiro no SNS. Talvez seja mais simples, para bem dos cidadãos e da comunidade, que o papel do estado na saúde seja repensado como um sistema, utilizar o que cada sector faz melhor, fazer um benchmark das “boas práticas” dos outros (como nas PPP ou na I&D), mantendo sempre o serviço público como o objectivo maior da sua missão!

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