A nova era da educação: O conectivismo ou a aprendizagem experiencial

Opinião de Luis Rasquilha, CEO do Ecossistema Inova. Board Member/Non Executive Diretor (NED) da Mercur e da NTT Data Brasil. Advisor na AMARNA VIDA (Irlanda). Professor convidado na FIA, FDC, Hospital Albert Einstein e ESALQ/USP. Colunista do MIT Sloan Review Brasil e Executive Digest Portugal.

A evolução da educação ao longo dos tempos tem sido marcada por mudanças significativas nas teorias e nas práticas pedagógicas, refletindo as transformações sociais, tecnológicas e principalmente culturais. Numa apresentação recente da especialista em School Design Rosan Bosch ela trouxe a reflexão sobre a evolução das pedagogias.

E isso reforçou o contexto de mudança que está a transformar também a educação. Estamos na entrada de uma era conectivista que se apresenta como o novo passo para a educação nos vários níveis hierárquicos.

E quando de fala em evolução devemos também avaliar as consequentes revoluções ou transformações. A seguir, detalho as principais etapas dessa evolução:

  1. Behaviorismo (1890 – 1960)

O behaviorismo, ou comportamentalismo, dominou a educação entre o final do século XIX e meados do século XX. Baseando-se em trabalhos de pesquisadores como John Watson e B.F. Skinner, o behaviorismo focava no comportamento observável e nas respostas a estímulos externos. As principais características desta abordagem incluíam:

  • Reforço e punição: Usados para moldar o comportamento. Comportamentos desejáveis são reforçados positivamente, enquanto comportamentos indesejáveis são desencorajados por meio de punições.
  • Aprendizagem mecânica: A aprendizagem é vista como um processo mecânico, onde respostas corretas são recompensadas.
  • Ensino programado: Materiais educativos são estruturados para oferecer pequenos passos de instrução com feedback imediato.
  1. Cognitivismo (1960 – 1980)

Com a ascensão do cognitivismo nos anos 1960, a ênfase mudou do comportamento observável para os processos mentais internos. Este movimento foi influenciado por psicólogos como Jean Piaget e Jerome Bruner, que destacaram a importância da mente na aprendizagem. As principais características incluíam:

  • Processos mentais: Foco em como as pessoas percebem, pensam, lembram e resolvem problemas.
  • Estruturas cognitivas: A aprendizagem é vista como a construção de estruturas cognitivas que ajudam na compreensão e organização do conhecimento.
  • Descoberta guiada: Encoraja-se que os alunos descubram princípios por si mesmos, com orientação e apoio do professor.
  1. Construtivismo (1980 – 2020)

O construtivismo, que ganhou força a partir dos anos 1980, baseia-se no trabalho de Piaget e Lev Vygotsky. Essa abordagem enfatiza que a aprendizagem é um processo ativo e construtivo. As principais características incluem:

  • Aprendizagem ativa: Os alunos constroem seu próprio conhecimento através da experiência e reflexão.
  • Contextualização: A aprendizagem é contextualizada e significativa, envolvendo problemas reais e aplicações práticas.
  • Colaboração e interação social: A interação social e a colaboração são fundamentais para a construção do conhecimento.
  1. Conectivismo (2020 – …)

O conectivismo é uma resposta às mudanças trazidas pela era digital e pelas tecnologias da informação. Promovido por teóricos como George Siemens e Stephen Downes, esta abordagem enfatiza a aprendizagem experiencial e a conexão em redes. As principais características incluem:

  • Redes de conhecimento: A aprendizagem ocorre em redes de informação e pessoas, e não apenas no indivíduo.
  • Tecnologia e conectividade: O uso de tecnologias digitais é essencial para acessar e compartilhar informações.
  • Aprendizagem ao longo da vida: A ênfase está na habilidade de aprender continuamente e adaptar-se a novas informações e situações.
  • Experiência prática: A aprendizagem é baseada em experiências práticas e resolução de problemas reais, muitas vezes em contextos colaborativos e interativos.

Esta nova realidade gera o que tenho definido como uma nova tese de princípios (ou manifesto) que orientam (ou deviam orientar) a educação, aplicáveis a todos os níveis da formação e intervalos etários e que são:

  1. Experiência Prática como Fundamento: A educação deve centrar-se na aplicação prática do conhecimento. Os cursos devem integrar estudos de caso reais, simulações e projetos práticos para desenvolver habilidades imediatamente aplicáveis no ambiente de trabalho.
  2. Aprendizagem Contínua e Adaptável: A preparação para o futuro requer uma mentalidade de aprendizado contínuo. Os cursos devem ser flexíveis, adaptáveis e atualizados para acompanhar as mudanças rápidas e constantes nas indústrias e no mercado de trabalho.
  3. Desenvolvimento de Competências Essenciais: Além do conhecimento técnico, é crucial desenvolver nas pessoas competências comportamentais como pensamento crítico, resolução de problemas, inteligência emocional, liderança e colaboração, para serem ágeis e eficazes.
  4. Tecnologia como Aliada: Integrar a tecnologia de forma significativa nos cursos é essencial. A educação deve ensinar como utilizar as ferramentas tecnológicas e como aplicá-las de forma efetiva para impulsionar o desempenho e produtividade.
  5. Globalização e Diversidade: A preparação para o futuro requer uma compreensão global e culturalmente diversa. Os cursos devem enfatizar a colaboração internacional, a compreensão intercultural e a capacidade de trabalhar em equipes multidisciplinares.
  6. Sustentabilidade e Responsabilidade Social: A educação deve abordar questões de sustentabilidade e responsabilidade social, preparando os alunos para tomar decisões éticas que considerem não apenas o lucro, mas também o impacto social e ambiental.
  7. Networking e Colaboração: Incentivar a construção de redes de contatos e colaborações é crucial. Os cursos devem oferecer oportunidades para conexões profissionais significativas e colaborações que ampliem as perspectivas e possibilidades de negócios.
  8. Empreendedorismo e Inovação: Estimular a mentalidade empreendedora e a capacidade de inovação é fundamental. A educação deve encorajar a experimentação, a criatividade e a busca por soluções inovadoras para os desafios do mercado.
  9. Resiliência e Adaptação: Capacitar os profissionais a lidar com a incerteza e a mudança é essencial. A educação executiva deve promover a resiliência e a capacidade de se adaptar rapidamente a novos cenários e ambientes.
  10. Empoderamento Pessoal e Profissional: A educação deve visar não apenas o desenvolvimento profissional, mas também o crescimento pessoal, preparando os alunos para se tornarem líderes confiantes, éticos e preparados para os desafios do futuro.

Cada uma dessas etapas pedagógicas trouxe avanços importantes na maneira como compreendemos e praticamos a educação.

Do foco no comportamento observável ao reconhecimento da importância das redes e da tecnologia, a evolução das teorias educacionais reflete uma crescente complexidade e sofisticação na maneira como abordamos o processo de aprendizagem.

Hoje, o conectivismo e a aprendizagem experiencial destacam a necessidade de se adaptar continuamente e se conectar em um mundo cada dia mais interligado.

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