“Unidade forte” da UE sobre a guerra Israel-Hamas cai por terra em apenas 24 horas

A unidade da União Europeia desfez-se em mil pedaços em apenas 24 horas: o conflito entre Israel e o Hamas motivou, na passada quinta-feira, uma reunião dos chefes de Estado e Governo dos 27 da UE, que permitiu chegar a um acordo mínimo sobre o conflito. “Foi um debate que destacou a forte unidade do Conselho Europeu”, proclamou o presidente Charles Michel, após uma discussão que durou mais de cinco horas.

O compromisso, aprovado por unanimidade, baseou-se na condenação dos ataques terroristas de 7 de outubro em Israel, no reconhecimento do direito de Israel a defender-se dentro dos limites do direito internacional e no pedido de “corredores e pausas humanitárias” para levar ajuda aos palestinianos na Faixa de Gaza.

A “forte unidade” encenada pelos líderes europeus foi ‘esmagada’ na votação de sexta-feira à noite sobre uma resolução não vinculativa patrocinada pela Jordânia na Assembleia Geral da ONU, no qual era feito um apelo para uma “trégua humanitária em Gaza”: os Estados-membros dividiram-se em três campos distintos, revelando profundas fraturas nos assuntos internos da UE.

De um lado, Espanha, Bélgica, França, Irlanda, Luxemburgo, Portugal, Eslovénia e Malta votaram a favor da resolução da Jordânia. Emmanuel Macron, embora também tenha votado a favor, exibiu uma posição muito mais matizada do que a do Governo de Pedro Sánchez . “Dada a grave situação humanitária em Gaza, a França votou a favor da resolução que apela a uma trégua humanitária, posta à votação pela Jordânia em nome do grupo árabe. Nada pode justificar o sofrimento dos civis”, explicou o embaixador francês no ONU, Nicolas de Rivière.

No entanto, Paris lamentou que na resolução da Jordânia “faltem elementos essenciais: uma condenação inequívoca do ataque terrorista do Hamas contra Israel; e que Israel tenha o direito de se defender e o dever de o fazer de acordo com o direito internacional”, sustentou o responsável.

“A decisão não foi fácil e a resolução não é perfeita. Mas, como muitos outros, pensamos que o voto a favor é uma das melhores contribuições para a paz neste momento. É essencial encontrar o caminho para uma solução de dois Estados”, indicou João Gomes Cravinho, ministro dos Negócios Estrangeiros.

No extremo oposto, a Áustria, a Croácia, a República Checa e a Hungria votaram contra a resolução da Assembleia Geral da ONU sobre Gaza. “Uma resolução que não mencione a organização terrorista Hamas, que não condene as atrocidades cometidas pelo Hamas em 7 de outubro, e que não afirme o direito de Israel à autodefesa, consagrado no direito internacional, não pode contar com o apoio da Áustria”, escreveu o chanceler Karl Nehammer.

“A Croácia não poderia apoiar uma resolução que não nomeia o Hamas, que levou a cabo o ataque e massacre de civis, considerado o maior sofrimento dos judeus desde a II Guerra Mundial”, notou o Ministério dos Negócios Estrangeiros deste país dos Balcãs.

A grande maioria dos Estados-Membros da UE (incluindo a Alemanha, a Itália e a Polónia) optou pela abstenção. “O projeto de resolução apresentado pela Jordânia destacou corretamente as necessidades humanitárias prementes dos civis em Gaza e apelou ao acesso humanitário”, explicou a embaixadora alemã na ONU, Antje Leendertse.

“Por outro lado, em nossa opinião, o texto sofre de falhas importantes. Não condena explicitamente os ataques terroristas do Hamas nem aponta a responsabilidade do Hamas em matar civis, fazer reféns e disparar foguetes indiscriminadamente contra alvos civis”, destacou a responsável germânica.

Apesar da divisão da UE, a resolução apresentada pela Jordânia foi aprovada na Assembleia Geral da ONU por uma grande maioria de 120 votos a favor, 14 contra e 45 abstenções. Entre os votos contra estão os de Israel e dos Estados Unidos, enquanto a Rússia e a China votaram a favor e o Reino Unido e a Ucrânia abstiveram-se.

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